Consagrado, cartunista Ique relembra infância em CG e diz: ‘artista não pode ficar parado’

Ique Woitschach pode ser considerado um artista múltiplo, por toda sua trajetória

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Ique Woitschach pode ser considerado um artista múltiplo, por toda sua trajetória

Ele é desenhista, cartunista, jornalista, escultor e campo-grandense. Vitor Henrique Woitschach, mais conhecido como Ique, tem 53 anos e é nascido na Cidade Morena, mas há mais de 30, é radicado no Rio de Janeiro. O MidiaMAIS entrou em contato com o conterrâneo, para falar um pouco sobre sua trajetória e, durante o bate papo com o artista – sim, é um nobre título de todos que já tem, Ique nos contou um pouco do que lembra da sua terra natal e fez questão de mensurar que é apaixonado por guavira, ao ponto de ‘lacrimejar os olhos’.

Pai de quatro filhos, Mariana (28), Diego (25), João (13) e Maria (4), o cartunista, que trabalhou desde muito cedo, disse que a sorte andou aliada a ele, só que ela não chegou por acaso, foi necessário muito ‘carão’ para consegui-la. “Eu sou um artista completo por que eu fiz todas as coisas relacionadas a minha arte e me tornei escultor, mesmo eu tendo começado como cartunista, a minha arte, o meu legado não foi só por sorte, por que a sorte em si, acompanha quem mostra a cara, a pessoa tem que ir buscar o que quer e eu sei que fui atrás do que eu quis”, revela nosso entrevistado.

Infância

Em Campo Grande, Ique cresceu no centro da cidade, mais precisamente na antiga Travessa Mamoré, que hoje é chamada de Pepe Simiolli, ao lado da Santa Casa. Foi ali que matutou todos os sonhos que teve e foi por lá, que tem vagas lembranças com seus quatro irmãos e seus pais.

“Meu pai morreu quando eu tinha 12 anos e então foi minha mãe que segurou toda a bronca, mas vagamente tenho lembranças gostosas da minha cidade… quando eu nasci não existia asfalto e me lembro que quando garoto, brincava no monte de terra que tinha na minha rua; ia muito à Feira também, quando ainda era na rua, ficávamos até altas horas por lá…era uma tradição gostosa”, lembra o artista que em sua última passagem pela Capital, levou um saquinho de Bocaiúva na mala.

 A procura da reportagem o deixou muito animado, uma vez que ele está num estágio da vida, digamos, mais ‘maduro’, e quer muito contar suas experiências. “Eu cheguei num momento da minha vida, que eu acho muito mais importante, do que ter um trabalho realizado no Brasil e mundo todo é justamente deixar algum legado aos jovens conterrâneos que queiram seguir um caminho semelhante; e eu, nos auge dos meus 53 anos, senti a necessidade de transferir conhecimento e passar a informação a quem quer seguir caminhos semelhantes ao meu”, avalia o chargista.

Ique fez questão de falar da velocidade em que o mundo real se encontra e comparou ao passado, ao seu passado, quando tudo caminhava lentamente. “Nada me impede de levar um pouco mais adiante, a transformação… é muito violenta e veloz e tudo está correndo numa velocidade muito grande; hoje em dia você não precisa estar mais no exterior fisicamente para ter sua arte publicada, você a faz num clique e muda tudo… iguais os jornais impressos, cada vez menos, teremos eles circulando, sem contar que não existe mais espaço para cartunista hoje, ai a necessidade de explorar outras artes… os modelos de negócio foram bombardeados pelas novas tecnologias, as maneiras de vender também e os profissionais mudaram…a 10 anos atrás você tinha um emprego formal e um comportamento x e isso não existe mais, temos que acompanhar a evolução”, reflete.

O começo da vida de artista

Consagrado, cartunista Ique relembra infância em CG e diz: 'artista não pode ficar parado'

Ique começou sua vida artística desenhando. Logo depois que seu pai morreu, ele teve de trabalhar como Office boy e, logicamente, sentia a necessidade de soltar toda a arte que tinha. O fazia, desenhando. “Eu trabalhei como boy num escritório de advocacia de uns amigos da família e lembro como se fosse hoje, que passava todo dia na frente do Jornal Diário da Serra, deixava lá, meus desenhos, só por curiosidades, eu tinha 13 para 14 anos”, diz.

O que ele menos podia imaginar é que, num certo dia, o editor do jornal o procurou e fez a tal proposta que o iniciaria em sua carreira, o contratou como cartunista do jornal. “Foi meu primeiro emprego na minha área, imprescindível para executar toda a minha arte na época”, avalia.

O cartunista que já tinha um emprego teve de mudar de escola e foi parar no famoso Estadual do bairro Amambaí, o Maria Constança de Barros Machado. Ficou lá e no jornal ao mesmo tempo só que, queria ir além e passar numa universidade. Pensando nisso, Ique teve a brilhante ideia de agendar com um padre do Colégio Dom Bosco e propor a seguinte ideia: ele faria o jornalzinho mensal do cursinho e ele ganhava uma bolsa.

A faculdade

“Todos queriam fazer o cursinho Objetivo, que era, na época, o melhor ensino preparatório para a universidade e marquei uma audiência com o Padre Arlindo que foi generoso comigo, escutou a minha história e me deu uma bolsa integral, a qual me deu suporte para entrar na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul… o bacana é que no terceiro mês que estava fiel ao jornalzinho da escola, ele me abonou e viu, que eu estava mesmo, empenhado em estudar, foi o que aconteceu”.Consagrado, cartunista Ique relembra infância em CG e diz: 'artista não pode ficar parado'

Contra todos os familiares, que queriam que ele prestasse Engenharia, Ique cursou Educação Artística na UFMS. Foi, segundo ele, um aluno mais que aplicado e já liderava as exposições de arte que iniciou junto do curso, na década de 80. Ainda de acordo com o nosso cartunista, a reitora da época, Maria da Gloria de Sá Rosa, a Glorinha, deu um ultimato e o acordou para vida, fazendo um alerta para ele seguir com a sua carreira.

“Eu fui expulso no bom sentido…[brinca], eu já tinha um comportamento diferente dos outros alunos, era profissional já e trabalhava no Diário, a Glorinha me chamou e disse para eu ir embora de Campo Grande, para tentar a vida lá fora e deu carta branca, caso eu não conseguisse, para retornar e a procurar; tranquei a matrícula e nunca mais retornei”, explica Ique, que não pensou duas vezes e foi, seguiu para o RJ.

Já no RJ…

Já no Rio de Janeiro Ique desbravou. Antes de, finalmente, realizar o grande sonho de integrar o Jornal do Brasil, ele percorreu vários caminhos e encontrou com a sorte novamente.  Por quatro anos, trabalhou como assistente de desenhista para ao Trapalhões, onde ele garante que foi sua grande escola. “Ali foi a minha grande universidade da vida, fiz vários shows com eles e até filme, o ‘Atrapalhando a Suate’, foi demais”, conta.

Dos Trapalhões ele parou e foi trabalhar no JB. E não parou mais.

Animatrônics

Atualmente, Ique se especializou em escultura, estudou e aprendeu as técnicas, como disse. Em seu trabalho, como todo artista que se preze, não gosta do cômodo, e prefere viver intensamente cada trabalho. “Comecei com a caricatura, fui para cartunista e virei escultor, porque senti a necessidade de colocar vida no meu desenho”, diz.Consagrado, cartunista Ique relembra infância em CG e diz: 'artista não pode ficar parado'

Hoje ele lidera uma produtora de efeitos especiais, especialmente nos animatronicas, que são nada mais do que esculturas em terceira dimensão e movimento, além de maquiagem de efeito, o que o faz ter o ciclo completo. “Poucos sabem, mas o 3D não é só virtual/digital, ele é físico também e é onde entro com os ‘animatrônics’… utilizamos bonecos e robôs gigantes e manuseamos por rádio além de fazer qualquer tipo de efeito especial”, indaga o artista que atua como marceneiro nas horas vagas.

Sobre voltar ele, que é um multimídia, não pensa mais. “Aqui no RJ todo segundo acontece alguma coisa, e acho que prefiro colaborar daqui, com quem pensa como eu…porque ser artista é algo muito pessoal, ainda mais nessa era, onde tudo que você vai fazer, depende apenas de você.. o comportamento hoje não é mais regional, ele é da humanidade e daqui do Rio eu consigo aplicar isso”, pontua.

O artista sofre?

Em mais uma reflexão, Ique avalia a questão do ser artista. “O sofrimento do artista é justamente não conseguir ficar parado no mesmo lugar, quando você atinge um objetivo, automaticamente já quer passar para o próximo desafio, normalmente estamos envolvido em algo que não existe mercado, porque nós fazemos o mercado…essa angustia criativa que te faz sofrer, porque sempre estamos em busca de mais e mais e acomodar, no nosso caso, é morrer”, complementa o artista que foi questionado até pela sua mãe.

Estátua em CG

Possivelmente Ique irá elaborar uma escultura em bronze nas esquinas mais enfáticas da Capital Morena, a Afonso Pena com a 14 de Julho. Se o ‘projeto’ for aprovado, Ique fará o ‘Pequeno Jornaleiro’, que faz uma alusão ao local que, há mais de quarenta anos, se consagrou como o ponto de distribuição de jornais e periódicos. 

“Como tudo que envolve poder público há um tempo estimado, e estamos nesse tempo, mas já adianto que estou muito feliz em, caso seja aprovado, realizar mais este trabalho em minha terra natal”, conclui.

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados

Passageira leu sermões da Bíblia e fez campo-grandense trocar de lugar em avião
bairro amambai praça cuiabá 103 anos