A IBM anunciou o lançamento do z17, sua nova geração de mainframes equipada com recursos nativos de inteligência artificial. Alimentado pelo processador IBM Telum® II, o sistema foi desenhado para lidar não apenas com cargas transacionais robustas, mas também para operar com algoritmos de IA embarcados em seu núcleo. O anúncio é emblemático: marca o reencontro entre duas eras da computação que, agora, se unem para moldar o futuro do setor financeiro.
Essa convergência entre o passado robusto dos mainframes e o presente dinâmico da inteligência artificial é mais do que um avanço técnico. É um reflexo das profundas transformações que vêm redefinindo os alicerces do sistema financeiro global. Para compreender melhor esse processo, conversamos com Aderlan Ferreira Morais, especialista em inovação financeira, com várias formações na área de tecnologia financeira. Aderlan, acompanhou a trajetória desde os primeiros sistemas centralizados até a era da descentralização digital, e sua visão oferece uma leitura rica sobre esse momento histórico.
“A evolução tecnológica no setor financeiro não é uma opção — é uma necessidade vital para garantir competitividade, eficiência e segurança em um mercado cada vez mais exigente”, afirma Morais.
Dos gigantes de aço às plataformas digitais
Na década de 1960, os mainframes surgiram como a resposta à necessidade de processar grandes volumes de dados com precisão e rapidez. Eram máquinas monumentais, instaladas em salas refrigeradas, responsáveis por automatizar funções críticas como a gestão de contas, controle de crédito e registros contábeis. Essa primeira digitalização bancária permitiu uma revolução silenciosa: menos filas, menos erros e mais controle sobre o dinheiro.
Contudo, como lembra Morais, os mainframes traziam consigo limitações consideráveis. “Apesar da eficiência no processamento, essas máquinas eram caras, pouco flexíveis e centralizadas demais, o que não combinava com o crescente desejo de interação e mobilidade dos clientes”, explica. Com o avanço da computação distribuída e a chegada dos sistemas cliente-servidor, os bancos ganharam fôlego para reinventar seus serviços.
O clique que mudou tudo
A década de 1990 foi marcada pela popularização da internet. E com ela, os bancos deram um novo salto: o nascimento do internet banking. Pela primeira vez, o cliente podia acessar sua conta do conforto de casa. Pagamentos, transferências e extratos estavam a apenas alguns cliques de distância.
Nos anos 2000, a mobilidade ganhou espaço com os smartphones. Os aplicativos bancários transformaram o celular em um verdadeiro balcão digital. “A digitalização bancária foi uma virada de jogo. O cliente assumiu o controle da sua experiência financeira, e os bancos precisaram correr para oferecer agilidade, segurança e inovação ao mesmo tempo”, observa Morais.
Foi nesse ambiente que as fintechs surgiram. Sem o peso da infraestrutura bancária tradicional, essas startups criaram soluções ágeis, acessíveis e centradas na experiência do usuário, forçando uma reconfiguração do modelo tradicional de bancos.
Blockchain: transparência e descentralização
A grande ruptura seguinte veio em 2008, com a criação do Bitcoin e da tecnologia que o sustenta: o blockchain. Pela primeira vez, era possível realizar transações seguras sem um intermediário central. O impacto foi imediato — e disruptivo.
Com a tecnologia de registros distribuídos, os bancos enxergaram uma oportunidade de cortar custos, automatizar processos por meio dos chamados smart contracts e oferecer mais transparência. “Os contratos inteligentes eliminam burocracias e aumentam a confiança, pois executam automaticamente cláusulas previamente acordadas entre as partes”, destaca Morais.
Apesar dos desafios regulatórios e da resistência de algumas instituições, o blockchain já mostra sua força em áreas como pagamentos internacionais, gestão de ativos e compliance automatizado.
Inteligência Artificial: o cérebro do novo sistema financeiro
Nos últimos anos, nenhuma tecnologia provocou um impacto tão profundo e abrangente no setor financeiro quanto a inteligência artificial. Impulsionada por algoritmos de machine learning, a IA permite que instituições analisem grandes volumes de dados em tempo real para prever comportamentos, detectar fraudes e oferecer serviços personalizados de forma cada vez mais precisa.
Um exemplo emblemático, segundo Aderlan Morais, é o do Nubank — uma das maiores fintechs da América Latina. A empresa utiliza IA para monitorar centenas de variáveis em frações de segundo durante cada transação com cartão de crédito. Se o sistema identifica algo fora do padrão — como uma compra em outro país enquanto o cliente está no Brasil, ou um valor incomum realizado em horário suspeito — a transação é automaticamente bloqueada, e o cliente recebe um alerta pelo aplicativo para confirmar a operação. O resultado é uma redução expressiva nas fraudes, sem comprometer a fluidez da experiência do usuário.
O retorno dos mainframes ao protagonismo, agora turbinados por inteligência artificial, representa uma espécie de fechamento de ciclo. O IBM z17 simboliza essa nova etapa: um sistema robusto e seguro, mas também inteligente e adaptável às demandas contemporâneas. Para Morais, essa convergência não apenas faz sentido — ela é inevitável.
“O futuro está na combinação de confiabilidade com inteligência. Mainframes como o z17 não são uma volta ao passado, mas uma reinvenção. Eles oferecem a estabilidade que os bancos precisam, com a flexibilidade exigida pelas novas tecnologias.”
Um futuro em constante transformação
A tecnologia financeira trilhou um caminho vertiginoso: da centralização dos mainframes à descentralização via blockchain; da rigidez das agências físicas à fluidez dos apps móveis; da análise manual à predição por IA.
“A inovação não é um luxo, é uma exigência. O cliente quer controle, segurança e personalização. E só a tecnologia pode entregar isso em escala”, resume Morais.
Mas os desafios seguem: a regulamentação precisa acompanhar a velocidade das inovações; a proteção de dados se torna ainda mais crítica; e a necessidade de equilibrar inovação com inclusão financeira é cada vez mais urgente.
O certo é que, do aço dos mainframes à lógica dos algoritmos, o sistema financeiro não será mais o mesmo. E nessa jornada, nomes como Aderlan Ferreira Morais ajudam a iluminar o caminho — com uma visão que une experiência, conhecimento técnico e uma leitura afiada sobre o que realmente importa: transformar tecnologia em valor para as pessoas.