Reintegração de posse de local onde funciona projeto revolta alunos e mães

No local eram oferecidas aulas de artes marciais para 150 crianças e adolescentes

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No local eram oferecidas aulas de artes marciais para 150 crianças e adolescentes

A Justiça cumpriu na tarde desta sexta-feira (23), a reintegração de posse de um salão, onde funcionava um projeto social no Bairro Tiradentes, em Campo Grande. Pouco antes da chegada do oficial de Justiça alunos, professores e mães foram até o local para demonstrar a revolta com a decisão.

Unanimidade entre pais e alunos é que o Projeto Guerreiros do Amanhã tirava crianças e adolescentes das ruas e incentivava boas notas na escola por meio do esporte. No local eram oferecidas aulas de artes marciais para 150 crianças e adolescentes com idades entre 7 e 14 anos, durante a tarde e a noite.

O problema é que a área é da Prefeitura e foi cedida por uma vizinha do espaço, a pastora Yara Estevão, que tem a posse do local e é a responsável por um centro de recuperação para dependentes químicos que já funcionou no espaço. Especificamente onde as aulas ocorrem, era o templo do centro. No entanto, ela entrou na Justiça e conseguiu liminar para tirar o projeto de lá.

As mães destacam que tudo no centro é gratuito. Os professores, voluntários, contam que não recebem nada para dar aulas e que ainda custeiam quimonos, inscrições em campeonatos e até a viagem de alunos que foram competir.

A dona de casa Tamara Aparecida Goes foi até o local no momento da reintegração de posse e lamentou a desativação do projeto. Ela conta que os dois filhos, de 10 e 12 anos, participam do projeto e que a iniciativa é boa para toda a comunidade.

“A gente fica chateada, muito triste, mas não pode se render porque é bom para toda a comunidade. Não são só as aulas. Tem acompanhamento de psicólogo, fisioterapeuta”, comenta a mãe.

Meire Chermont é avó de um dos alunos. Ela diz que o neto tem 25 anos, é cadeirante e participa das aulas. “Estava tudo sujo e jogado. Agora, as crianças estão felizes”, afirma.

A adolescente Julia do Nascimento Martins, de 17 anos, é aluna e também voluntária no projeto. Ela diz que durante os sete meses que está no projeto todos criaram um vínculo. “É uma família que está sendo destruída”, diz Julia. A adolescente explica que o projeto já tirou crianças que, segundo ela, estavam “no caminho errado”.

“Para participar tinha que trazer o boletim. Se não tiver boas notas não treina. Ajuda na escola, no respeito aos pais. Aqui dentro é só esporte. Agora não sabemos o que vai ser feito”, lamenta a adolescente.

Com medo, pais e alunos dizem que o boato é de que o local vai virar uma fábrica de sabão para detentos, que Yara tem um convênio com a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário). Eles dizem que há desvio de verbas, que o local está desativado há anos.

Yara rebate as informações e diz que possui toda a documentação que comprova a posse e que as contas estão em dia. A pastora diz que o centro de reabilitação nunca foi desativado, que o local não foi abandonado e que já funcionou um projeto para crianças, mas que possuía 20 alunos. Ela diz que o local não suporta a quantidade atual de crianças e adolescentes e diz que o local vai voltar a ser o templo espiritual do centro de reabilitação. 

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