Em tempos de crise hídrica, moradores questionam festa tradicional de Ponta Porã

Guerra D’água é festa tradicional do Carnaval do município e teve início na década de 20

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Guerra D’água é festa tradicional do Carnaval do município e teve início na década de 20

Em meio à crise de água enfrentada por diferentes regiões do país, um festa tradicional na fronteira do Brasil com o Paraguai sofre questionamentos por parte dos moradores. Com apoio da Prefeitura de Ponta Porã, a 346 quilômetros de Campo Grande, será realizada a Guerra D’Água, que acontece desde a década de 1920.

Para participar da brincadeira cada participante leva mil balões de água e a farra seria, dizem moradores, uma afronta à necessidade de economizar os recursos naturais em tempos de crise hídrica. O evento é uma festa popular do município e será realizada entre às 13 e 17 horas, nos dias 15 e 17 de fevereiro.

Segundo a diretora da Fundac (Secretaria Municipal de Fundação da Cultura) de Ponta Porã, Gisele Benites Flor, a Guerra D’Água é regulamentada pela Lei Municipal nº 3188/2001, e o objetivo é promover a interação entre as duas cidades fronteiriças, Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

“A brincadeira é uma atividade tradicional e voluntária que existe a décadas e quem adere vai até a avenida e brinca jogando água. Cada grupo leva seus balões com a água. A Prefeitura e a Secretaria não incentivam, apenas organizamos e regulamentamos para que não se torne um problema de segurança pública porque se o município não fizer isso a festa vai ocorrer na cidade toda e não apenas em um lugar específico”, explica.

Questionada sobre a quantidade de água utilizada na festa, a secretária diz que não é possível informar com exatidão e alega que não há desperdício. “Fazendo uma conta por alto, não será nem um metro cúbico de água. Não podemos chamar de desperdício considerando que a água é basicamente de reutilização de piscina, poço e não necessariamente tratável”, justifica.

Embora a chefe da Fundac de Ponta Porã afirme que o município não incentiva e trabalha apenas na organização do evento, o comunicado da festa diz que “as 30 primeiras inscrições para a Guerra D’Água ganham mil balões e uma camiseta”. Segundo ela, a medida não é um incentivo, mas sim uma forma de ter noção da quantidade de pessoas participando. O dado será utilizado para organizar a segurança do evento.

O anúncio da festa provocou divergências nas redes sociais. Enquanto alguns apoiam a Guerra D’Água, outros acreditam que a festa deveria ser suspensa considerando a situação de Estados como São Paulo, onde o abastecimento fica indisponível por até 18 horas e o racionamento não foi descartado.

“Nessa crise deveria cancelar e não incentivar, afinal, a falta de água é um problema de todos é uma questão mundial”, disse um internauta. Já outros apoiam o evento. “Lembrando que a Guerra d’água no município de Ponta Porã é tradição faz parte da nossa cultura”, defende outra internauta.

O índice de desperdício aceitável pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é de 15%, no Brasil o índice foi de 37% em 2013, o que faz do país, o primeiro na lista de desperdício mundial. A chefe da Fundac destaca que um estudo realizado pela Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) o consumo médio de água por pessoa é de 116 litros por dia e que a OMS estima 120 litros. “O consumo consciente é importante, mas a crise hídrica não se instala no Estado”, acrescenta.

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