Ausência de negros no protesto contra a corrupção causa polêmica em MS

Algumas lideranças regionais negras não se sentem representadas nos protestos

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Algumas lideranças regionais negras não se sentem representadas nos protestos

Com uma população de negros, pardos e amarelos representando quase a metade dos sul-mato-grossenses, uma dúvida pairou, nas redes sociais, depois dos protestos deste domingo (15) contra a presidente Dilma em Campo Grande: por qual motivo havia poucos ou quase nenhum negro participando da passeata na Capital? Nas fotos tiradas pela equipe de reportagem do Jornal Midiamax é possível comprovar que a grande maioria dos presentes era branca.

De acordo com os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em Mato Grosso do Sul há 2.449.024 habitantes, 51,1% deste montante são considerados brancos e 48,9% se enquadram como negros, pardos e amarelos.

Neste sentido, a diretora do Conselho Estadual de Direitos do Negro, Romilda Pizani, acentuou que o protesto foi um ato partidário e não lutou pela democracia de toda a sociedade. “Tenho certeza que foi um protesto elitizado. Isto foi uma luta pela democracia para o próprio umbigo ou uma pela democracia igualitária?”, indagou.

Para Pizani, até mesmo em Salvador, onde os negros representam 62% da população, é possível reparar que a grande maioria presente nos protestos foi de brancos. “Reparei logo que vi pela televisão. Se os negros não compareceram é porque não há identificação com as manifestações”, declarou.

O publicitário Renan Cruz, de 27 anos, que também é negro, postou uma foto de plano geral no Facebook, na qual só apareciam pessoas brancas. Ele afirmava ter descoberto que a população brasileira era branca. A postagem causou discussões na rede. “Acho que os negros, em sua maioria, inclusive eu, não participaram porque não se identificaram com o protesto”, ressalta.

Renan diz, ainda, que grande parte dos manifestantes integra a classe alta. “A maioria dos insatisfeitos são da classe A ou B. Os negros, que, historicamente, fazem parte da classe mais pobre da população não estão reclamando desta forma”, diz.

Já a coordenadora de Igualdade Racial do Estado e presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Raimunda Luzia de Brito, confirmou o que está sendo dito nas redes sociais. “Dá para reparar, sim, que não há muitos negros participando da passeata, todavia, não posso afirmar que foi um protesto somente da elite”, revelou.

Apesar de reconhecer que havia poucos negros protestando, Raimunda, que é negra, afirma que só não foi à passeata por motivos de saúde. “Não fui porque tenho dificuldade para caminhar, uso uma bengala, caso contrário eu iria, com certeza. Mesmo que pouca gente negra tenha participado, as manifestações foram legítimas”, explica.

Presentes no protesto

O empresário, Roberto Gomes Amaral, de 45 anos, foi à manifestação e nega que só havia brancos e ricos. “Isso é bobagem. Eu fui lá e vi de perto que havia todos os tipos de pessoas. Não concordo com isso”, ponderou.

A dona de casa Maria de Lourdes Batista, de 51 anos, reforça a ideia de que havia representantes de todas as camadas da população. “Eu não me considero da elite e fui ao protesto. Estão querendo desqualificar nossa luta contra a corrupção”, diz.

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