Atividades simples como ir ao supermercado a pé, fazer compras, ou simplesmente um passeio pela cidade pode ser bem complicado para quem não enxerga. Em Campo Grande, apesar de o Centro ter praticamente piso tátil em todas as calçadas, muitos moradores instalam de forma incorreta. Já nos bairros a história complica, poucos são os que têm a ferramenta instalada.

José Aparecido de Souza, de 36 anos, afirma que começou a perder a visão quando tinha 5 anos e, aos 11 anos, ficou totalmente cego. Segundo ele, o diagnóstico nunca foi preciso, mas teria sido por uma infecção no globo ocular, que causou hemorragia e descolamento da retina.

Mas não é o diagnóstico falho, ou a falta da visão, que o incomoda. Ele diz que por ter deixado de enxergar cedo se alfabetizou cego, aprendeu tudo em braile, logo nunca precisou passar por uma adaptação, como acontece com quem fica cego adulto.

O grande problema que enfrenta, conta, é simplesmente por falta de ações públicas, para que a legislação de acessibilidade seja respeitada, e também educação das pessoas. “Sempre faço esse caminho e muitas vezes aqui no ponto de ônibus tem gente em cima do piso tátil. O que dificulta para mim”, conta, no trajeto para o supermercado.

Também no caminho a falta de respeito ao estacionar na faixa quase machucou José Aparecido. Ao atravessar a rua um carro invadiu a faixa e ele quase se chocou contra o veículo. (veja o vídeo)

No supermercado, o problema está na falta de treinamento dos funcionários. Aparecido esperou cerca de 7 minutos até que um funcionário viesse ajudá-lo com os produtos que pretendia comprar. O estranho é que havia funcionários no local e simplesmente não se mexerem para ajudar. “É comum eu ficar aguardando até que alguém venha ajudar. Quando não fico perambulando pelo mercado procurando ajuda. Hoje tive sorte, de imediato uma cliente veio e me ajudou, mas nem sempre é assim”, diz.

Sentidos e rotina

José diz que as dificuldades enfrentadas entre 5 e 11 anos foram com relação, principalmente, à percepção, que, no cego, começa em outros sentidos. “Perto dos meus 11 anos, eu achava que envergava, mas era a percepção e tinha dificuldade em saber se estava vendo mesmo ou percebendo as coisas”, comenta.

A rotina diária dele inclui atividades corriqueiras para a maioria, como trabalhar – na gráfica Braille do Instituto Sul Matogrossense para Cegos – ir ao banco e supermercado, entre outras.

Para demonstrar como, realmente, o deficiente visual enfrenta a rotina diária, desde atravessar uma rua, pegar ônibus e ir ao banco, o Midiamax acoplou uma câmera/ gravou um vídeo com José Aparecido. Além das imagens, José comenta quais suas principais dificuldades. Confira no vídeo.