A Vale teve prejuízo de R$ 14,8 bilhões no quarto trimestre de 2013, o maior de sua história e bem acima da perda de R$ 5,6 bilhões em igual período de 2012. As estimativas de analistas eram de um resultado negativo entre R$ 9 bilhões e R$ 13,5 bilhões. No ano, a empresa registrou lucro líquido de apenas R$ 115 milhões, um tombo de 98,8% em relação ao apurado no ano passado (R$ 9,7 bilhões).

As projeções do mercado para o ano eram que os ganhos ficassem na casa dos bilhões, como esperado para uma companhia do porte da mineradora. O piso das previsões estava em R$ 2,9 bilhões e o teto, em R$ 5,9 bilhões. O lucro obtido em 2012 é o mais baixo da série histórica iniciada em 1994, segundo a consultoria Economática.

Em vídeo, o diretor Financeiro da Vale, Luciano Siani, atribuiu o resultado a três fatores: a adesão da Vale ao Refis, programa de refinanciamento da Receita Federal, a desvalorização do real em relação ao dólar, que afetou o estoque da dívida em dólar, e a baixa contábil de alguns ativos, principalmente a do projeto Rio Colorado, na Argentina.

— Mesmo num ano com tantos desafios, o fato de a Vale ter registrado um resultado positivo demonstra a robustez e a capacidade da empresa de absorver impactos — minimizou Siani.

Refis: impacto de R$ 14,8 bi

O principal fator que explica o resultado ruim da companhia é a adesão ao Refis. Com isso, ela pôs fim a uma briga tributária que girava em torno do pagamento de Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) de suas subsidiárias no exterior. Sem o acordo com a Receita, o valor devido pela Vale ao governo era calculado em R$ 45 bilhões. Com a adesão ao Refis, a dívida caiu para R$ 22,3 bilhões. Desse montante, R$ 5,9 bilhões foram desembolsados de uma tacada só em novembro e o restante foi parcelado em 179 vezes.

Apesar de o desembolso ocorrer a longo prazo, a Vale tem que lançar o montante integral do acerto no balanço do quatro trimestre. Trazidos a valores presentes, aqueles R$ 22,3 bilhões tiveram um impacto negativo de R$ 14,8 bilhões nas contas da empresa. O efeito é essencialmente contábil, mas acaba contaminando o resultado trimestral e o do ano.

A baixa contábil do projeto Rio Colorado teve impacto negativo de R$ 5,4 bilhões no balanço. Rio Colorado é uma mina de potássio e era o maior projeto no segmento de fertilizantes da Vale. A mineradora ainda não conseguiu vender o projeto, mas anunciou no início do ano passado que havia desistido de tocá-lo devido à alta dos custos.

Para justificar o resultado tímido em 2013, a Vale cita ainda perdas com variações monetárias e cambiais líquidas (R$ 6,454 bilhões) e com derivativos para proteção de risco de câmbio e juros (R$ 1,872 bilhão).

Da mesma forma que a adesão ao Refis teve um impacto contábil negativo, a venda de ativos no último trimestre — entre eles participações em empresas de cobre, logística e blocos de petróleo — impactou positivamente os números da empresa. Mas analistas tiveram dificuldade de prever os ganhos com essas operações. Por isso, a maioria deles não considerou as vendas em suas projeções.

Segundo analistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg, as projeções para o lucro líquido ajustado no quarto trimestre, ou seja, sem os fatores não recorrentes (como o Refis), variavam entre R$ 6,6 bilhões a R$ 9,2 bilhões. Segundo a Vale, esse lucro ajustado, chamado pela empresa de lucro básico, foi de R$ 7,4 bilhões no quarto trimestre. No ano, o lucro ajustado foi de R$ 26,7 bilhões.

— O balanço da empresa veio muito poluído. A Vale teve que fazer vários ajustes ao longo de 2013, com corte de despesas, venda de ativos e refinanciamento da dívida tributária com o governo. Este ano, o balanço deve vir mais limpo, refletindo o desempenho operacional da empresa — avalia Luiz Caetano, analista de mineração da Planner.

Caetano previa prejuízo de US$ 4,779 bilhões ou R$ 11,2 bilhões para o quarto trimestre.

Recorde de vendas de minério e carvão

Apesar do prejuízo no quarto trimestre e do lucro menor no ano, analistas que acompanham a empresa consideram que ela teve um bom desempenho. A Vale bateu recorde de vendas de minério de ferro e pelotas (305,6 milhões de toneladas), cobre, ouro e carvão, e as maiores vendas de níquel desde 2008. Com isso, a geração de caixa ajustada (sem efeitos não-recorrentes) atingiu R$ 49,3 bilhões no ano, o segundo mais alto da história. No quarto trimestre, ela ficou em R$ 15,1 bilhões. E houve um corte nas despesas de R$ 3,575 bilhões no ano.

— O balanço surpreendeu negativamente e positivamente. Negativamente por causa do maior prejuízo contábil. E positivamente pelo lado operacional. O que me preocupa é a maior dependência da China (que representou 38,8% de toda a receita operacional). A situação lá ainda está nebulosa, com aperto nos empréstimos. Isso traz um risco para o futuro dos negócios da Vale. Mas acreditamos que as perspectivas para a companhia ainda são positivas para este ano — afirma Lenon Borges, analista da Ativa.