Universidades alemãs querem dar mais apoio a estudantes com família

Escovar os dentes, tomar café da manhã, vestir-se e sair de casa. Enquanto seus colegas de universidade ainda dormem ou já estudam para os próximos exames, María, de 27 anos, leva o filho mais velho, Hallmar, para o jardim de infância. Ao mesmo tempo, seu marido está a caminho da creche com Kári, de um […]

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Escovar os dentes, tomar café da manhã, vestir-se e sair de casa. Enquanto seus colegas de universidade ainda dormem ou já estudam para os próximos exames, María, de 27 anos, leva o filho mais velho, Hallmar, para o jardim de infância. Ao mesmo tempo, seu marido está a caminho da creche com Kári, de um ano e meio: um cotidiano familiar mais estressante do que o casal da Islândia havia imaginado.

Eles chegaram à Universidade de Hannover há três anos, ele para fazer doutorado e ela, mestrado em matemática, Hallmar tinha apenas três meses de idade. Na época, María pensou: por toda parte há gente com bebês, também nas universidades alemãs.

María e seu marido não são caso único nos meios universitários do país. De acordo com pesquisa recente da Associação Alemã de Estudantes, 11% dos alunos estrangeiros têm filhos, 8% os trouxeram consigo para a Alemanha. Diariamente eles têm que conciliar aulas, tarefas de casa, amigos e filhos, sem o apoio de suas famílias, o que os torna tão mais dependentes dos serviços de assistência familiar.

Fim do “autossacrifício” da carreira científica

“Precisamos de universidades com uma cultura de valorização da família”, reivindica Frank Ziegele, professor em Osnabrück e diretor do Centro para o Desenvolvimento do Ensino Superior (CHE, na sigla em alemão), organização sem fins lucrativos sediada na cidade de Gütersloh.

Uma possível resposta a essa reivindicação é o projeto Família no Ensino Superior do CHE, do qual participam 12 universidades. Além de criar creches próprias para seus estudantes e funcionários, elas oferecem serviços de cuidados infantis em horários flexíveis – por exemplo, à noite ou no fim de semana. As instituições também possibilitam o estudo em meio período.

Em 2013, o projeto desenvolveu a Carta “Família no Ensino Superior”. O documento contendo preceitos para valorização da instituição familiar será assinado também por universidades alemãs no final de maio, num congresso na Universidade de Leibniz.

“Muitas universidades já estão interessadas, até porque vem ocorrendo uma mudança drástica de valores nas universidades alemãs, em grande parte devido aos pesquisadores estrangeiros”, conta Ziegele. Muitos pesquisadores de alto nível querem conciliar família e carreira científica. “Ele mostram que têm uma vida particular”, diz o professor. Ao contrário de tempos passados, hoje a opção pela ciência não é mais vista como um “autossacrifício”, ao qual todas as necessidades privadas têm que se curvar.

Babás com horários flexíveis

Essa era mais o menos a visão que María tinha, ao vir para a Alemanha. Ela ficou surpresa e até decepcionada com as dificuldades para conseguir vaga num jardim de infância. Na Islândia, conta ela, há uma repartição central distribuiu as vagas. “Você não precisa ir aos jardins de infância e se candidatar de um a um.” Além disso, os horários de abertura são bem mais flexíveis.

O que ajudou a família foi o serviço de emergência da creche da universidade, que oferece cuidados para os filhos dos estudantes em regime flexível e espontâneo. “Meu marido tinha que ir para uma conferência na Suécia, e eu, à universidade”, exemplifica María. “Eu podia simplesmente passar pela creche e deixar meu filho lá. Essa era realmente uma ótima solução.”

No geral, o jovem casal consegue conciliar os dois lados. Para concluir os estudos, a islandesa só precisará de um ano além do tempo normal, sua tese de mestrado já está na etapa final. Ela estuda enquanto as crianças estão na creche e no jardim de infância, ou à noite. Mas a carreira acadêmica de María não para por aí: em breve a família se muda para a Bélgica, onde ela pretende fazer seu doutorado. “Vai funcionar sim, de algum jeito”, diz, rindo.

Redes de apoio dentro e fora da universidade

Apesar das grandes dificuldades enfrentadas, hoje em dia também a espanhola Ana María já pode rir. Ela leciona espanhol na Universidade de Hildesheim e paralelamente trabalha em sua tese de doutorado. A filha Eva, de oito anos de idade, frequenta a segunda série do fundamental. A doutoranda de 47 anos recorda que no início tudo era bem estressante. “Às vezes, eu nem sei como consegui fazer tudo”, com os horários rígidos dos jardins de infância alemães e sem família para ajudá-la a cuidar das crianças, comenta.

Como solução, Ana María e seu marido criaram uma rede de apoio mútuo, juntamente com outros pais e vizinhos. Graças à iniciativa, Eva tem, por exemplo, onde ir almoçar sem problemas, quando seus pais não conseguem chegar em casa a tempo. E quando não há mais nenhuma alternativa, a menina vai junto para os seminários de doutorado. “Nós levávamos sanduíches, e ela ficava sentada, desenhando”, conta Ana María, acrescentando ser grande o apoio da Universidade de Hildesheim.

Para que o fomento à vida familiar no mundo acadêmico não fique restrito a instituições isoladas, o professor Ziegele do CHE espera que o maior número possível de universidades assine a Carta “Família no Ensino Superior” em maio próximo. Ele está seguro que os valores contidos no documento não ficarão apenas no papel. “Quem assinar a carta se compromete a participar da rede, a entrar em intercâmbio com outras escolas superiores e a aprender com elas.”

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