Um mês após Caso Bernardo vir à tona, inquérito é concluído nesta terça
Há cerca de um mês, repercutiu em todo o país a morte do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos. Apesar da investigação do caso ter sido realizada sob sigilo judicial, várias informações vieram à tona e já se sabe que pelo menos três pessoas serão indiciadas, entre elas o pai e a madrasta. Os detalhes […]
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Há cerca de um mês, repercutiu em todo o país a morte do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos. Apesar da investigação do caso ter sido realizada sob sigilo judicial, várias informações vieram à tona e já se sabe que pelo menos três pessoas serão indiciadas, entre elas o pai e a madrasta. Os detalhes que ainda não são conhecidos serão divulgados na tarde desta terça-feira (13), quando o inquérito, oficialmente concluído, será apresentado.
A entrevista coletiva que deve anunciar a lista de indiciados pela morte está marcada para as 14h no auditório da Unijuí, em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul.
Após 30 dias, as delegadas Caroline Bamberg e Cristine de Moura e Silva vão expor os detalhes que fundamentaram as prisões preventivas dos quatro suspeitos presos: o pai, o médico-cirurgião Leandro Boldrini; a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini; a assistente social Edelvania Wirganovicz e o irmão de Edelvania, Evandro Wirganovicz.
Leandro, Graciele e Edelvania foram presos na noite de 14 de abril, quando o corpo foi encontrado em uma cova em Frederico Westphalen, no norte do estado, a 80 km de Três Passos. Já a prisão de Evandro ocorreu neste sábado (10), sendo o último fato novo após a investigação.
Pai registrou desaparecimento
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. Dois dias depois, o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
O pai registrou o desaparecimento da criança no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso e chegou a ligar para uma emissora de rádio de Porto Alegre para comunicar o desaparecimento da criança e pedir ajuda.
Moradores apontam negligência
Depois que o caso veio à tona e Leandro Boldrini, médico influente na região, estava preso, inúmeros relatos de negligência da família com o menino passaram a ser dados na cidade. Moradores contam que o menino não tinha a chave de casa, e ficava esperando o pai chegar, pois não poderia entrar se apenas a madrasta estivesse lá. Passava dias em residências de amigos da família. Colegas da escola ainda relataram que ele lamentava não poder chegar perto da irmã bebê.
Moradores contam que a situação ficou desta forma após a morte da mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, em 2010. Um inquérito da Polícia Civil apontou que ela se suicidou com um tiro na cabeça no consultório médico do ex-marido, versão contestada pela avó materna do menino, que mora em Santa Maria. O advogado que a representa protocolou na semana passada um pedido de reabertura do inquérito.
Bernardo foi sozinho ao Fórum de Justiça para reclamar da situação no início do ano, e apresentou os nomes de pessoas com quem gostaria de passar a viver. O juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.
De acordo com o MP, desde novembro do ano passado, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.
No início do ano, o médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.
Polícia suspeita de injeção letal
A suspeita da polícia é que o menino tenha sido morto por uma injeção letal. Um laudo apresentado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou a presença de um anestésico no corpo do menino. Segundo o atestado de óbito, a morte ocorreu no dia 4 de abril de “forma violenta”, ou seja, por causas não naturais. Em depoimento dado à polícia, Edelvania disse que Graciele aplicou a injeção e usou soda cáustica para acelerar a decomposição do corpo.
Edelvania contou que Graciele levou Bernardo de carro até Frederico Westphalen, onde ela estava, e que a injeção foi aplicada quando os três estavam no carro da assistente social.
O advogado de Edelvania, Demetryus Eugenio Grapiglia, nega que ela tenha participado da morte do menino. Ele contesta o depoimento dado pela assistente social, alegando que ela falou à polícia sem a presença de um advogado. “[Edelvania] só teve contato com Bernardo no momento pós-morte. Ela só participou do crime de ocultação de cadáver”, garantiu.
Em depoimento à polícia, Graciele isentou o marido de culpa e disse que a morte foi “acidental”. A versão do advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que a representa, é que ela queria que a criança dormisse para ela ir a um compromisso “pessoal e íntimo” em Frederico Westphalen. O advogado Jader Marques, que representa Leandro Boldrini, critica a polícia por não ter apresentado provas do envolvimento de seu cliente na morte de Bernardo.
4º preso foi “fundamental” na elucidação do crime, diz polícia
Três dias antes da conclusão oficial do inquérito, foi preso o quarto suspeito da morte de Bernardo. A polícia informou que ele já vinha sendo investigado por suposta participação no crime, e foi “fundamental” na elucidação do crime. Segundo o advogado Demetryus Eugenio Grapiglia, que também representa Evandro, seu cliente se manteve calado durante o depoimento e disse que só vai falar mediante o uso do detector de mentiras.
Um policial militar disse ter informado a polícia que, no dia 4 de abril, viu o carro de Evandro no local onde foi cavada a cova de Bernardo. Sem se identificar, ele disse crer que o suspeito cavou o buraco. Demetryus Eugenio Grapiglia afirmou que fará uma reconstituição da escavação para mostrar que a cova poderia ser feita por uma mulher.
Em entrevista coletiva, o advogado ainda mostrou uma carta, dizendo que foi escrita por Edelvania, inocentando o irmão. Porém, não quis ler o teor para os jornalistas. “A carta será usada no momento oportuno, dirigida ao juiz”, afirmou.
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