Ele é considerado simplesmente o técnico mais vencedor da história de um dos times mais populares do país. Venceu tudo em seus últimos cinco anos de trabalho: Campeonato Gaúcho, Paulista, Brasileiro, Copa Sul-Americana, Libertadores, Recopa e Mundial de Clubes, sendo os quatro últimos de forma invicta. Para público, mídia e todo o meio do futebol, Adenor Bachi era o favorito absoluto para assumir a Seleção Brasileira após a Copa do Mundo de 2014. E estava preparado. Estudou, evoluiu, viajou, se reciclou… Mas a CBF não quis saber. Escolheu Dunga… E Tite ainda não entendeu.

“Me preparei. Eu me preparei. E na medida que tu acompanha os canais de comunicação, na medida que tu sai na rua e reconhecem seu trabalho nos últimos cinco anos, com Libertadores invicta, Mundial emblemático, Brasileiro, Recopa… Não é questão de ser o melhor, mas o momento do meu trabalho era muito forte”, disse o treinador, em entrevista exclusiva concedida ao ESPN.com.br.

“Não se trata de definir quem é melhor que quem. Mas sim o momento profissional melhor que cada um está. E por estar em um grande momento profissional é que eu não entendi”, continuou.

Tite recebeu a reportagem do ESPN.com.br em sua casa no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, para uma conversa de mais de duas horas. Falou sobre tudo: do semestre inteiro de estudos e preparação para assumir a seleção brasileira ao telefone que jamais tocou com o tão sonhado convite. A escolha de Dunga, as propostas que recusou à espera do time canarinho e o exato momento em que percebeu: não ia ser ele o cara da CBF.

“Foi no momento que disseram que iam apresentar o técnico da seleção brasileira e não tinham falado comigo. Aí falei ‘f…, ferrou’ (risos). Já tinha me surpreendido por ser o Gilmar Rinaldi. Eu não consegui pegar qual era a ideia, qual o conceito da busca pelos profissionais. O que se colocou no papel, quais eram os requisitos… O tempo de trabalho, o que fez, o que não fez…”, explicou.

Sem trabalhar desde que deixou o Corinthians, em dezembro, o único técnico a bater um campeão europeu na decisão do Mundial nos últimos oito anos não parou de se reciclar. Leu livros de Guardiola, Simeone, Cruyff, visitou o Arsenal, almoçou com Carlos Bianchi, vai se encontrar com Ancelotti e foi até sondado para assumir a seleção de Portugal, que na semana passada demitiu Paulo Bento.

“Teve sondagens, mas não teve uma busca direta”, avisou Tite, que se mostrou inclinado a aceitar um eventual convite. “Quando é um projeto de seleção ele é sempre grandioso. Inicialmente sim”.

À vontade para falar sobre o tema, Tite também rechaçou a ideia de que pode ter sido excluído pela CBF por causa da proximidade com o ex-presidente corintiano Andrés Sanchez, inimigo político de Marco Polo Del Nero, futuro presidente da entidade. “Não sei o que se passa na cabeça do Marco Polo, do Marin, não sei. O que tenho é que sempre serei leal às pessoas que são leais comigo e ao meu trabalho. Independente das pessoas com quem vou trabalhar, ou da cor do clube que vou trabalhar. E se as pessoas não compreendem isso, aí o problema não é meu”, definiu.

“Vou te dizer o que eu penso. A gente atinge a excelência em torno de 10 mil horas de atividade profissional. E 10 mil horas de vida profissional dá uns 10 anos de atividade. Precisa ter no mínimo uns 10 anos para atingir o seu ‘know how’. Estamos falando de excelência e dessa busca de crescimento. E tu busca essa evolução, esse crescimento, eu acredito muito nisso pela vivência que eu tive e porque cientificamente é comprovado. Essa busca deveria ser um dos critérios, mas compete ao nível de conhecimento de cada um”, concluiu, sobre a controversa decisão da CBF de escolher Dunga para o cargo que o Brasil inteiro imaginava ser do próprio Tite.