Mesmo que não ganhe a taça, a seleção brasileira já fez história: é a equipe mais tatuada a representar o Brasil no torneio. Dos 23 jogadores convocados pelo técnico Luiz Felipe Scolari, pelo menos 15 tem tatuagens no corpo. E tatuadores dizem que o volume de pedidos de pessoas que querem ter tatuagens como as de Daniel Alves, Marcelo e Neymar – que já era grande – aumentou na Copa do Mundo.

Há cerca de dois anos, Alessandro Corradini, de 19 anos, tem feito pedidos desse tipo. Desde que se tornou fã de Neymar, ele copiou cinco das tatuagens do jogador – todas modificadas e adaptadas para ele pelo mesmo tatuador do atacante do Barcelona.

“As minhas tatuagens não são para o Neymar, então não me preocupo muito se ele vai jogar mal ou bem. Eu gosto do estilo dele, mas tento personalizar. Acho que tatuagem é algo muito importante, você não pode se arrepender”, disse Corradini.

“Já vi fãs que tatuaram o nome dele na boca e outras coisas malucas. Eu nunca faria isso, mesmo sendo muito fã.”

Filho de um italiano e uma brasileira, Alessandro – que joga futebol em um clube pequeno na Itália – descobriu Neymar em 2010, quando sua mãe o levou a um jogo do Santos contra o na Vila Belmiro. Um gol de placa marcado por Neymar o conquistou.

“Ele sempre gostou muito de futebol. Como ele não é muito mais novo que o Neymar, eu via o Neymar crescendo no Brasil ao mesmo tempo em que ele jogava. Então eu sempre falava para ele que tinha um menino no Brasil um pouco mais velho que ele jogando super bem”, diz Paula Kovacs, a mãe do adolescente.

Alessandro diz que a admiração pelo jogador brasileiro também mudou sua performance no campo. “Nós jogamos na mesma posição, então eu vejo muito os vídeos dele no YouTube, tento imitar os lances e os gols dele. Mas é difícil”, afirma.

No Brasil para as férias anuais, ele diz que considera uma mudança mais definitiva para o país para ficar mais perto da mãe e, com um pouco de sorte, conhecer o ídolo. “Seria meu sonho. Você acha que ele vai ver isso?”

Inspiração britânica

A tatuadora paulistana Akemi Higashi, que tem jogadores como Alexandre Pato e o chileno Valdívia em sua lista de clientes, diz que o britânico David Beckham pode ter sido a inspiração para a moda recente entre os futebolistas no Brasil.

“Em geral, eles sempre vão para o lado das tatuagens sombreadas, como as do David Beckham. Antes dele, você não via os jogadores tão tatuados”, disse.

“Beckham abriu uma porta para as outras pessoas começarem a se tatuar. Aquele anjo que ele tem nas costas eu fiz muito. Influenciou não só os jogadores, mas pessoas de todos os meios. E também as tatuagens mais realistas e de símbolos religiosos.”

Na medida em que a moda se espalhou pelos clubes, as mídias sociais garantiram que os fãs começassem a adotar mais do que o corte de cabelo dos atletas. Adão Rosa, o tatuador de Santos que fez a maior parte das tatuagens de Neymar, diz que assim que o jogador posta a foto de um novo desenho no Instagram, “já vira moda”.

“A procura aumentou durante a Copa do Mundo, mas cada vez que eu tatuo um jogador que está em evidência como Neymar, eu recebo e-mails do Brasil inteiro pedindo aquele desenho”, disse.

Rosa e Higashi confirmam o que pode ser visto dentro de campo: os jogadores brasileiros preferem motivos religiosos e homenagens a familiares.

Uma imagem do Sagrado Coração de Jesus tatuada no braço de Daniel Alves ficou ainda mais popular do que antes, de acordo com Rosa. Frases homenageando pais e avós, presentes na maioria dos titulares da seleção, também são copiadas por fãs como Alessandro.

“Isso começou porque eles geralmente querem fazer tatuagens e os pais não querem deixar. Aí eles fazem os nomes dos pais para acabar com o preconceito e aí continuam fazendo outras”, disse.

O desenho de duas mãos unidas em prece, seguidas pela palavra “fé”, por exemplo, já era um sucesso entre seus clientes por pelo menos um ano antes de Neymar escolhê-la como sua nova tatuagem. “Os pais acham bonita, então deixam os filhos fazerem.”

Alessandro Corradini usou a mesma estratégia para convencer sua mãe: tatuar o nome dela primeiro. “Depois de fazer o meu nome e o do pai, apareceu a tatuagem no peito do Neymar e ele quis fazer uma igual para o avô. Eu disse: ‘Nem morta!’”, diz Paula Kovacs.

“Mas era uma homenagem muito bonita ao meu pai, então ficou difícil dizer não. Eu sou aquela mãe que sempre diz não e na hora acaba dizendo sim.”

As novas tatuagens de Alessandro, a quarta e a quinta, também seguem os passos de seu principal ídolo. Na parte de trás de seu braço esquerdo, Adão Rosa tatuou uma cruz com uma coroa e um pergaminho, semelhantes ao desenho no braço de Neymar, que contém um versículo da Bíblia.

Em Alessandro, no entanto, o pergaminho traz o nome a data de nascimento de sua avó materna. A palavra “Blessed” (abençoado, em inglês) – que Neymar tatuou nas costas – aparece abaixo da cruz. “O desenho tinha tudo a ver com minha avó, que é muito católica. E ela sempre me diz que eu sou abençoado, achei que seria uma boa homenagem”, afirma.

A frase “Tudo passa”, tatuada por Alessandro no pescoço de Neymar, também inspirou o adolescente ítalo-brasileiro durante um período difícil após o divórcio dos pais e duas lesões nos joelhos. Agora, ela está tatuada na parte de trás das suas pernas.