O surto de ebola registrado na Guiné, país na costa oeste da África, está assustando a pequena comunidade de 70 brasileiros que mora no país.

Até esta quarta-feira, ao menos 63 pessoas já haviam morrido no país supostamente em decorrência da doença. Segundo a agência de notícias Reuters, 13 dos casos foram confirmados como sendo de ebola.

A doença, uma espécie de febre hemorrágica, não tem cura e mata uma pessoa em questão de dias, dependendo da variação do vírus.

Causa febre forte, dores de cabeça e musculares, conjuntivite e debilidade; na fase mais aguda, provoca vômitos, diarreia e hemorragias. A transmissão ocorre por vias respiratórias ou por contato com fluidos corporais das pessoas infectadas.

Ouvidos pela reportagem da BBC Brasil, brasileiros relataram estar seguindo as recomendações das autoridades guineanas para evitar infecções, mas admitiram o temor em relação à doença.

Precauções

As autoridades guineanas disseram nesta quarta-feira que o surto, que foi registrado numa região de florestas do sul do país, já está controlado. Porém, casos suspeitos de ebola foram registrados em países vizinhos, como Libéria e Serra Leoa.

A missão diplomática brasileira na Guiné informou que a comunidade brasileira pode ser retirada por um avião da Força Aérea Brasileira caso seja necessário.

O empresário Joab Andrade diz que está tomando diversas precauções para evitar o contágio, como desinfetar as mãos regularmente, evitar aglomerações e o contato com as pessoas e fazendo as refeições em casa até passar o perigo.

Segundo ele, os guineanos estão menos assustados do que os brasileiros, porque já conviveram com ciclos de outras epidemias ou por falta de conhecimento. Ele acha que houve um descaso das autoridades, que só agora atentaram para a dimensão do problema que começou em fevereiro.

Há três anos em Conacri, o administrador de empresas Juraci Pimentel, 30, reconheceu que a situação gera estresse em sua equipe de 15 brasileiros.

“Na capital, todos estão trabalhando normalmente, nas escolas, no mercado, nas obras. Consultamos um médico especialista para orientar nosso pessoal de cozinha. Estamos preferindo consumir produtos importados, peixe e frango, em vez de carne vermelha”, acrescentou.

“Minha filha voltou da escola ontem dizendo que as coleguinhas estavam usando máscaras. Então comprei uma pra ela”, conta o diplomata Alírio Ramos de Oliveira, que mora com a filha de seis anos numa zona nobre da capital. Há dois anos na Guiné, ele diz ter visto todo tipo de epidemia, como malária, hepatite e até lepra.

Quarentena

Essa é a primeira vez que o vírus ebola é registrado na Guiné.

Ainda assim, segundo os brasileiros, pouco mudou no dia a dia da capital guineana. Frutas e legumes da região de mata nativa onde foi registrado foco da doença foram colocados em quarentena.

As pessoas tentam evitar o transporte coletivo para pequenas distâncias. “A população é muito pobre, e as condições sanitárias do país são péssimas. A água é tratada na capital Conacri, mas quem pode pagar só bebe água mineral”, afirma Oliveira.

No interior do país, as pessoas também estão acostumadas a comer carne de caça, como roedores, macacos e morcegos. O governo recomendou não consumir carne de animais selvagens. Também vetou funerais públicos para as vítimas do ebola, para tentar evitar o contágio.

A Libéria, que faz fronteira com o sudeste da Guiné, relatou nesta semana cinco mortes que podem ter sido causadas pelo vírus. Na Serra Leoa, duas mortes registradas na cidade fronteiriça de Boidu também estão sob suspeita.

O fato de a doença ter sintomas parecidos com os da malária e da cólera – que são endêmicas na África ocidental – torna ainda mais difícil sua detecção, informa a Reuters.