Weberlon Cleiton Leonel do Carmo tem 18 anos e há 8 está cego. Ele conta que nasceu com pouca visão e desde que se entende por gente sabia que um dia não enxergaria, pelo menos com os olhos. Sabendo disso, o sonho de ter um cão-guia o acompanha desde menino. Mas, infelizmente, ter o animal que poderia lhe proporcionar mais independência está bem longe de ser realidade em Mato Grosso do Sul.

O jovem atleta, que pratica judô, goal ball e futebol de 5, diz que o cão-guia poderia lhe proporcionar mais liberdade e confiança. Apesar de fazer tudo, praticamente, sozinho, muitas vezes a falta da visão causa problemas.

Morador de Rio Brilhante – cidade a 160 quilômetros de Campo Grande – o jovem diz que se aqui na Capital a mobilidade para um deficiente é difícil imagina no interior. “É muito difícil, não existe acessibilidade. Já tive várias bengalas quebradas porque o piso é muito ruim. Se eu tivesse um cão-guia poderia fazer um monte de coisa que não faço”, conta, ponderando que poderia ir aos lugares que não há acessibilidade porque o cão lhe guiaria.

O desejo de ter o cão também faz parte do imaginário da namorada dele – Monique Lopes Marques, de 15 anos. A jovem diz que devido a dificuldade de locomoção está sempre acompanhada, e se tivesse um cão poderia andar sozinha e ter mais liberdade. “Seria mais fácil até para eu andar sozinha”, diz.

É essa busca por mais liberdade, por mais independência, que faz tantos cegos sonharem com um cão-guia. Presidente do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florivaldo Vargas”, Telma Nantes conta que o cão-guia é um dos meios de orientação para a pessoa que não tem visão.

Contudo, não é qualquer pessoa que pode treinar o animal. O que faz o custo de treinamento e manutenção do cão ficar muito caro. Um animal pode chegar a R$ 30 mil. Para se ter uma ideia o número estimado de cães-guia no Brasil não passa de cem animais, para uma população de 506 mil pessoas cegas. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, existem cerca de 35,7 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual no país.

No Mato Grosso do Sul, segundo Telma, não há nenhum cego que tenha um cão-guia. A falta de centro de treinamentos na região e o custo de manutenção do animal, impedem que os cegos possam adquirir o ‘companheiro’.

País

O governo federal está tentando mudar esse quadro e promete construir 7 centros no Pais, entretanto nenhum em Mato Grosso do Sul. O 1º Centro de Treinamento e Instrução de Cães-Guia do governo foi inaugurado no inicio de julho em Camboriú-SC.

A unidade, conforme o governo federal, representa um marco inicial de uma ação inédita na América Latina que, além do fornecimento de cães-guia sem nenhum custo para pessoas com deficiência visual, está formando instrutores para a abertura de um curso, de nível técnico em outras seis cidades.

A primeira turma do Curso de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-Guia é formada por sete alunos. Oriundos do Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Sergipe e Santa Catarina, eles serão responsáveis pela formação de novos treinadores e instrutores em seus estados, após a conclusão da especialização.

A entrega dos primeiros 30 animais treinados está prevista para o segundo semestre deste ano. Outros seis centros já estão em construção, sendo eles nos Institutos Federais de Alegre/ES, com 90% das obras concluídas; Urutaí/RS, com 50%; Muzambinho/MG, com 30%; Manaus, com 19% das obras; Limoeiro do Norte/CE, com obras iniciadas em fevereiro de 2013 e São Cristóvão/SE, em fase de licitação.