Sociólogo analisa “rolezinho”, explica preconceitos e cita apartheid social e racial
Em busca de uma análise mais profunda sobre o movimento do “rolezinho”, que pode chegar a Campo Grande (evento no Facebook combina rolezinho no Shopping Campo Grande para o fim deste mês), o Midiamax conversou com o sociólogo, professor e cientista político Paulo Cabral, 54. Cabral avaliou o rolezinho como um movimento contestatório e inteligente. “Esses jovens da […]
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Em busca de uma análise mais profunda sobre o movimento do “rolezinho”, que pode chegar a Campo Grande (evento no Facebook combina rolezinho no Shopping Campo Grande para o fim deste mês), o Midiamax conversou com o sociólogo, professor e cientista político Paulo Cabral, 54.
Cabral avaliou o rolezinho como um movimento contestatório e inteligente. “Esses jovens da periferia contestam a ordem estabelecida pela elite e lhe causa desconforto , já que ocupam um espaço (shopping) que sempre foi exclusivo da classe média alta”, explica.
O sociólogo discorreu sobre o motivo que leva as pessoas que frequentam os shoppings discriminarem, temerem e rejeitarem o rolezinho. “A classe média alta, principalmente a recém-chegada, é obrigada a se lembrar de sua origem próxima com a presença dos jovens da periferia. E ela não quer se lembrar da pobreza. Por isso este ranço, este medo”.
Cabral vê que o incômodo causado não é só pela questão da segurança. “A ordem é ameaçada com a presença deles. Jovens com a aparência muito distinta de quem frequenta os shoppings, indo ao espaço que é o templo do consumo da burguesia”.
O sociólogo diz acreditar que os jovens só têm a intenção de mostrarem a “indesejável presença” e que não farão nada. “A ameaça existe, real ou imaginária. Na cabeça dos comerciantes, por exemplo, há risco de arrastão. E para os consumidores, o desconforto de ver os pobres disputando um espaço que sempre foi só deles incomoda muito”.
Recado dos jovens
Paulo alerta para o recado que os jovens do rolezinho querem dar. “Eles querem dizer que, embora invisíveis, escondidos na periferia, nós existimos, estamos aqui. Ó nóis aqui”. O sociólogo ainda segue a linha de que é necessário refletir a razão do fenômeno.
“O que é destinado para esta juventude? O que propomos aos jovens pobres, da periferia? O que o governo e a sociedade podem fazer? Falhamos em algum momento lá atrás, senão eles estariam fazendo algo mais interessante, não precisariam fazer o rolezinho”, destaca, citando políticas públicas como uma das soluções.
Apartheid social e racial
O coronel Davi declarou nesta quarta-feira (15) que os jovens vão “quebrar a cara” se quiserem fazer o rolezinho em Campo Grande. Para Cabral, impedir que determinado segmento de pessoas entre em um espaço público e é uma medida de segregação. “É apartheid social e racial, já que a maioria desses jovens é negra”, aponta.
O sociólogo ainda cita a questão jurídica. “Juridicamente é proibido barrar qualquer pessoa de entrar em qualquer local público. Está na Constituição, o direito de ir e vir, uma das grandes conquistas da humanidade. Mas parece que este direito só vale para a burguesia, para o proletariado não”, analisa.
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