O regime Assad irradia um novo senso de confiança. As eleições não seriam realizadas sem ela. O centro de Damasco cada vez menos se parece como a capital de um país envolvido por uma guerra civil.

Os mercados locais, conhecidos como souks, estão cheios e sorveterias têm vendas garantidas agora que o verão começou. Fotos do presidente Bashar al-Assad não são raras em Damasco, mas a eleição significa que há milhares de retratos e cartazes decorando a cidade.

Bancas vendem de tudo: lembranças de Assad, pingentes que caracterizam imagens do presidente e sua família ao lado de pulseiras do presidente Assad com seu aliado vital, Hasan Nasrallah, líder da milícia xiita libanesa Hezbollah. Ou você pode comprar pulseiras amarelas de borracha do Hezbollah. Ou imãs de Bashar al-Assad, seu pai, seus irmãos e aliados.

O centro de Damasco nunca foi seriamente atingido pelos combates. Muitos subúrbios, em comparação, estão em ruínas. Algumas áreas foram retomadas pelas tropas do governo. Outras ainda estão nas mãos dos rebeldes. Um soldado apontou para uma cicatriz profunda no antebraço no último posto do governo em uma rodovia no nordeste de Damasco. Foi causada, segundo ele, por um morteiro rebelde.

Nove meses atrás, quando os americanos desistiram de considerar uma ação militar contra o regime de Assad, as armas do Exército sírio estavam em plena atividade. Mas os rebeldes nos subúrbios estavam bem enraizados. Eles pensavam que a maré da guerra estava prestes a mudar, talvez decisivamente, a favor deles. Os membros do regime com quem falei em Damasco, naquele momento, não esconderam seu nervosismo sobre os planos americanos.

As razões para o momento de confiança do regime de Assad começam com o fato de que os americanos piscaram primeiro. O acordo com a Síria em setembro passado, em que o país disse que desistiria de suas armas químicas, deu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a chance de recuar do uso de seus bombardeiros e mísseis.

Parecia, aqui em Damasco, um preço pequeno pago pelo presidente Bashar al-Assad para evitar um ataque americano que teria danificado as forças do regime e seria um grande impulso para os rebeldes armados, especialmente aqueles que lutam sob a bandeira do Exército Livre da Síria, aliados do Ocidente.

Rebeldes lutam entre si

Um diplomata ocidental na região me disse que se vitória se iguala à sobrevivência, o presidente Assad já venceu. Mas vitória também significa destruir um inimigo, o que ainda não aconteceu. Se isso acontecer, o ataque americano cancelado começa a parecer como um ponto de virada decisivo para o regime.

De repente, Assad estava a salvo dos americanos. A bolha de expectativas entre os rebeldes se esvaziou. A vista do palácio presidencial em Damasco tornou-se muito mais atraente.

A posição do governo também foi melhorada com uma guerra interna entre os diferentes grupos de rebeldes armados, especialmente o sangrento embate entre os jihadistas que vinham dominando a luta contra o regime.

O recuo de Obama também tornou mais fácil para o libanês Hezbollah intervir, de forma decisiva em alguns lugares, em apoio ao presidente Assad. Eles podem lutar sem qualquer risco de serem bombardeados.

Os homens do Hezbollah são qualificados, bem armados e lutaram contra Israel na guerra no Líbano, em 2006, que terminou em um impasse. A presença da milícia e suas habilidades de combate são uma parte vital da nova sensação de segurança do regime.

O regime, reforçado pelo Hezbollah e o Irã, e com sua área diplomática assistida pela Rússia, teve significativas vitórias, embora não tenham sido decisivas.

Momento certo

Mas fez progressos suficientes para julgar que este seja o momento certo para uma eleição.

Falou-se de uma votação antes da crise de setembro passado. Mas o presidente Assad precisava de alguma boa notícia em primeiro lugar.

Duas visões principais existem sobre esta eleição. Uma delas, entre os que pensam que Assad é parte do problema, é que uma eleição em um país na condição da Síria é uma farsa.

O argumento entre partidários do presidente é que a eleição não é perfeita, mas é um começo. Uma autoridade, que disse também que todos sabiam que Assad ganharia, insistiu que a eleição importava porque, pela primeira vez desde a década de 1950, sírios tinham uma escolha na cabine de votação (há outros dois candidatos à Presidência – são pouco conhecidos da população e não puderam fazer campanha nos mesmos termos de Assad).

No início do quarto ano da guerra, é difícil lembrar de que, quando rebeldes estavam na ofensiva, em 2012, houve relatos de que o presidente tinha fugido para um navio de guerra russo no Mediterrâneo.

O novo conjunto de retratos de campanha do presidente Assad projetam a imagem de um líder mais velho, mais relaxado e aparentemente mais seguro. Seus outros retratos oficiais não mudaram muito desde que ele herdou o poder de seu pai, o ex-presidente Hafez al-Assad, em 2000.

As novas fotos parecem calculadas para dar a impressão de que Bashar é, finalmente, o seu próprio homem, fora da sombra de seu pai.