Depois da barriga negativa e do thigh gap, o vão entre as coxas que só aparece em mulheres de pernas muito finas, as redes sociais ganharam uma nova moda que reforça o padrão de beleza extremamente magro. O bikini bridge, que em tradução literal significa ponte de biquíni, aparece nas hashtags de selfies que exibem a parte de baixo do biquíni distante da barriga, formando uma “ponte” sustentada pelos ossos do quadril.

O bikini bridge é, na verdade, a versão verão 2014 da barriga negativa, e defende um corpo tão enxuto que os ossos ficam mais proeminentes do que abdome.

Nas redes sociais, a nova moda é tema de perfis no Instagram e de comunidades no Facebook em que usuárias mandam os selfies e recebem uma nota de 0 a 10 dos outros participantes.

O assunto viralizou rapidamente depois que participantes da comunidade de humor 4Chan resolveram espalhar páginas a favor e contra o bikini bridge pela internet, além de posts falsos de celebridades como Katy Perry pregando a barriga negativa sob a “ponte” do biquíni.

As postagens criaram burburinho sobre o assunto e levaram a hashtag aos trending topics do Twitter.

Embora a polêmica tenha crescido na última semana graças à trolagem do 4Chan, a hashtag #bikinibridge aparece no Instagram desde 2012 e preocupa especialistas.

O médico Márcio Mancini, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia regional de São Paulo, afirma que embora algumas mulheres tenham um biotipo que favoreça a barriga negativa, ela costuma ser um objetivo inatingível por dietas saudáveis e exercícios.

“Tem mulheres que só com um quadro de anorexia, e esse tipo de postagem de internet favorece esse distúrbio alimentar.”

O endocrinologista afirma que perseguir padrões de beleza muito distantes costuma levar mulheres a dietas perigosas para a saúde.

“Cortar proteínas pode levar a arritmias cardíacas, e cortar vitaminas importantes pode levar quadros neurológicos.”

Para a psicóloga Rachel Moreno, autora do livro A beleza Impossível: Mulher, Mídia e Consumo (editora Ágora), a moda do bikini bridge reproduz um padrão de beleza vigente nos meios de comunicação.

“Essas meninas não inventaram uma coisa nova. Como foi que surgiu essa ideia na cabeça delas? Elas são frutos da cultura em que vivem, que veicula essas imagens de mulheres magras.”

Rachel afirma que barriga negativa, thigh gap e “tendências” similares afetam diretamente a autoestima feminina tanto quanto campanhas e capas de revistas com mulheres sem imperfeições e editadas no Photoshop.

“O verão é a temporada mais cruel para as mulheres porque é quando o corpo fica mais exposto, não só nas redes sociais, mas na grande mídia e na publicidade. Há um padrão de beleza que é autoritário e muito distante da realidade da mulher brasileira, porque é contraditório com a tendência de divulgação de produtos alimentares semiprontos que fazem com quem 51% da população brasileira esteja com sobrepeso.”

No entanto, a psicóloga enxerga no público feminino uma tentativa de se libertar desses padrões.

“ Embora estejamos acostumadas a nos ver representadas por um padrão aspiracional que fica cada vez mais distante do que somos, as mulheres estão começando a ver de uma maneira crítica esse distanciamento absurdo entre realidade e padrão de beleza.”

Todas as fotos desta galeria foram retiradas de uma página no Facebook, criada no último dia 7, e que já conta com mais 2.500 mil curtidas.