No primeiro dia de desfiles do Grupo Especial no Sambódromo do Rio, a Beija- Flor e a Salgueiro arrancaram gritos de é campeã do público das arquibancadas da Praça da Apoteose, onde ocorre a dispersão dos componentes. A Salgueiro foi a quinta escola a passar pelo Sambódromo e mostrou o enredo Gaya, a Vida em Nossas Mãos que destaca o cuidado com o planeta Terra, usando a representação dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo, simbolizados pelos orixás Iansã, xangô, Ossain e Yemanjá. No início do desfile houve pequenos problemas na entrada de carros na avenida, mas foi resolvido rapidamente e a escola pôde prosseguir. Na comissão de frente a figura de Gaya levitava no centro do carro com um truque usado pela coreografia e se tornou um ponto de encantamento do público.

A Beija-Flor encerrou o primeiro dia de desfile e recebeu ainda a saudação de a campeã voltou. A agremiação de Nilópolis, na Baixada Fluminense, apresentou o enredo Astro Iluminado da Comunicação Brasileira, uma homenagem ao diretor de televisão José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. A escola veio repleta de artistas. A comissão de frente trouxe o símbolo da escola: o beija-flor voando. Os integrantes estavam pendurados em uma estrutura metálica e faziam acrobacias imitando o voo do pássaro. Um dos carros da escola estava mais alto que a torre de fotógrafos e cinegrafistas próximo à Apoteose e parte da fantasia do destaque, em cima do carro, foi danificada.

A primeira escola a entrar na avenida foi a Império da Tijuca. O enredo Batuk esquentou o público e marcou o ritmo forte de tradições africanas. O samba também ajudou, com o “Vai tremer, o chão vai tremer” no refrão. As festas africanas, o carro abre-alas – com som de tambores – e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que representava as etnias guerreiras, também empolgaram o público. Por ter sido a campeã no ano passado da Série A, a escola do Morro da Formiga, na Tijuca, zona norte do Rio, subiu para a elite do carnaval carioca. No fim do desfile, o presidente da agremiação, Antônio Marcos Teles, o Tê, estava satisfeito com a apresentação da escola. ” A Império da Tijuca veio para não ser mais a última, agora, a colocação a gente só vai saber na quarta-feira [dia da apuração das notas do Grupo Especial]”, disse.

A Acadêmicos do Grande Rio veio em seguida e trouxe o enredo Verdes Olhos de Maysa sobre o Mar, no Caminho: Maricá mostrando as belezas da cidade da região dos lagos do Rio por meio do olhar de Maysa. A cantora morou lá nos anos 70. A escola levou ainda para a avenida alegorias e alas de insetos, flores e frutas, porque segundo o enredo, foi no município que Charles Darwin criador da Teoria da Evolução teve o primeiro contato com a biodiversidade da Mata Atlântica. A comissão de frente animou o público. Era um navio pirata e do alto um homem era lançado para uma rede por um canhão. Toda vez que o movimento era repetido o público delirava.

O ator Jayme Matarazzo, neto de Maysa, e o diretor de televisão, Jayme Monjardim, filho dela, vieram acompanhando no chão, o carro onde a cantora Tânia Mara, mulher do diretor, representava a artista. A família estava emocionada com a homenagem. “É lindo. É parte da nossa história. Parte da história que eu acho que precisa ser contada que é das mulheres fortes do Brasil. Das mulheres que fizeram diferença na nossa cultura. Fico feliz de ser próximo, parente e neto de uma pessoa tão importante” , disse Jayme Matarazzo.

Terceira agremiação a se apresentar, a São Clemente, que costuma escolher temas que tratam de questões sociais levou este ano a Favela para a avenida. A escola de Botafogo, na zona sul do Rio, teve na animação dos componentes um ponto forte do desfile. No segundo setor, identificado como cidade maravilha da Beleza e do caos, em alusão à música Rio 40 graus, fez referência a diversas comunidades e as alas representaram a Babilônia, a Rocinha, o Complexo do Alemão, a Dona Marta, a Mangueira e o Salgueiro.

A quarta escola foi a Estação Primeira de Mangueira que apresentou o enredo A Festança Brasileira Cai no Samba da Mangueira. O público já entoava o samba antes mesmo de a bateria entrar no local reservado aos integrantes, perto do Setor 1.

A vendedora Kelly Luz mora em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, e chegou ao Sambódromo às 19h30 para ver a Mangueira. Junto com a família, incluindo a avó, de 95 anos, levou até comida para aguentar a noite inteira de desfiles. Ela contou que há 20 anos compra ingressos no Setor Popular 1 para ver a escola do coração. ” Todo ano eu venho, mas só no dia da Mangueira. Estou com a minha avó. Ela tem 95 anos e me acompanha nesses 20 anos”, disse ansiosa pouco antes da escola iniciar o desfile.

Apesar de ter uma boa resposta do público, a Mangueira sofreu com a passagem de um carro na torre dos fotógrafos e dos cinegrafistas, próximo à Praça da Apoteose. A alegoria era mais alta e acabou tendo uma parte danificada. Para o presidente da escola, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, a escola não deve perder ponto porque a alegoria já tinha passado pelos jurados.

A cantora Alcione, figura de destaque da Mangueira, que estava bastante animada durante todo o desfile, passou mal em frente ao Setor 11, já próximo à dispersão. Ela sentiu câimbras e foi atendida por uma equipe de assistência do Corpo de Bombeiros.