O menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, que foi encontrado morto em Frederico Westphalen, na região noroeste do Rio Grande do Sul, relatou ao Ministério Público do Estado (MP-RS) em novembro de 2013 que não recebia atenção do pai, não gostava da madrasta e que não queria mais viver com a família.

A promotora Dinamárcia Maciel, de Três Passos – onde a criança vivia –, ressaltou que Bernardo disse que não era agredido pelo casal, mas “narrou situações de descaso”. O casal e uma amiga da madrasta foram presos na noite de segunda-feira suspeitos de matarem a criança.

A promotora diz em entrevista à rádio online do Ministério Público que o MP soube da situação do menino em uma reunião da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente, que envolve órgãos de cuidado com jovens – como o Conselho Tutelar.

“Em reservado, me disseram que havia uma situação dessa criança na comunidade, que era filha de uma família de recursos, de posses e que era um menino que estava abandonado do ponto de vista dos cuidados da família, de afeto”, conta.

Após conversar com a avó materna e com a madrinha, o MP ouviu o menino. “Ele disse que queria mais atenção do pai, que não gostava da madrasta (…) e disse que gostaria de morar com outra pessoa, com outra família ou, então, ver o que era possível fazer, como poderíamos ajudá-lo”.

A promotora pediu que Bernardo dissesse com quem ele queria ficar. Dinamárcia não cita nomes nem diz a relação entre essas pessoas e o menino, mas afirma que elas não quiseram comparecer à promotoria porque “não queriam se incomodar”.

A promotora diz que a avó materna, Jussara Marlene Uglione, 73 anos, que mora em Santa Maria, se dispôs a ficar com o neto e, como estava doente, afirmou que contrataria alguém para ajudar a cuidar da criança.

“Nós optamos por judicializar. Entramos com ação protetiva no Juizado da Infância e Juventude em favor do Bernardo e pedindo a questão do encaminhamento dele para a guarda provisória da avó, caso não fosse possível restabelecer um vínculo afetivo com a família.”

Leandro compareceu a uma audiência e, segundo Dinamárcia, se mostrou aparentemente interessado em restabelecer e fortalecer esse vínculo. O menino, então, concordou em permanecer com o pai.

A promotora afirma que, como Leandro não tinha antecedentes e nenhum sinal de que poderia se tornar violento, o juiz seguiu a orientação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que indica a preferência de manter o jovem com a família biológica, de fazer um período de experiência.