Rodolfo se afasta das drogas e vira capitão do Sub-23 do Atlético-PR
A princípio, o goleiro Rodolfo, do Atlético-PR, surge neste Campeonato Paranaense como a grata surpresa da competição. Envolvido em problemas com drogas e suspenso de exercer sua profissão, o atleta de 22 retorna aos gramados oficialmente nesta temporada. Natural de Santos e revelado nas categorias de base do Paraná Clube, Rodolfo Alves de Melo virou […]
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A princípio, o goleiro Rodolfo, do Atlético-PR, surge neste Campeonato Paranaense como a grata surpresa da competição. Envolvido em problemas com drogas e suspenso de exercer sua profissão, o atleta de 22 retorna aos gramados oficialmente nesta temporada.
Natural de Santos e revelado nas categorias de base do Paraná Clube, Rodolfo Alves de Melo virou uma promessa do rival. Aos poucos, entretanto, sua carreira já nas divisões de baixo começou a declinar. Pessoas ligadas ao clube comentaram que, nessa época, Rodolfo já passava por problemas extra-campo no CFA Ninho da Gralha. “É uma situação complicada, fico até meio assim de falar. Mas a gente já percebia alguma coisa, mas não tinha como ter certeza”, afirma Renato Secco, que teve contato precoce com o jogador, após o até então treinador Paulo Comelli promovê-lo para o profissional.
A atleta confessa que entrou nessa vida com as drogas já na adolescência, aos 15 anos, e “culpa” a cidade portuária por isso. “A cidade de onde eu vim é complicada, chegam muitas drogas. Vários lugares que eu frequentava tinha acesso fácil. As amizades também influenciam nisso tudo”, analisa.
Apesar dos problemas, Rodolfo já se destacava dentro de campo. Quem conta é Renato Secco, preparador de goleiros que saiu após 10 anos lapidando atletas na longa carreira dentro do Paraná, que destaca suas qualidades. “Um excelente goleiro. Ele é muito rápido, tem reflexo bom, possui um grande futuro, pois tem potencial”, elogia.
Fernando Lopes, auxiliar na preparação de goleiros que esteve com o arqueiro no juvenil, juniores e profissional do Paraná, também teceu elogios. Pelo Estadual de 2009, primeiro ano de profissional (com 17 anos), Rodolfo fez 13 jogos, com seis vitórias, dois empates e cinco derrotas – sofreu 13 gols.
“Sempre foi acima da média, dedicado. Gostava de treinar, chegava no horário, era diferenciado mesmo. Ele até chegou a ser titular no profissional, mas optou por sair do clube”, afirma Lopes, que se transferiu para o Santo André em 2014.
Essa saída do Atlético-PR foi quando Rodolfo se transferiu para o Internacional, em 2010, após perder a condição de titular durante a Série B. O goleiro jogou pelo time B da equipe gaúcha, mas foi suficiente para conquistar um título, da Copa FGF. O ciclo no Inter, por outro lado, durou pouco. Em 2011, o atleta chegou ao Atlético-PR para as categorias de base, mas já visando os treinamentos para o grupo principal. No ano seguinte, tudo caminhava bem: titular absoluto no Campeonato Paranaense inteiro, Copa do Brasil e no início da Série B, além de boas partidas e a confiança da torcida. Até que começou o pesadelo em sua vida.
Nas partidas contra CRB e Ceará, pela terceira e quinta rodada do Campeonato Brasileiro, Rodolfo foi pego no exame antidoping por uso de cocaína. Assim, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) julgou o caso e suspendeu o goleiro por dois anos.
“Pedi ajuda ao clube por ser dependente químico, porque preciso sair desta situação. Vou dar o meu máximo, ficar um tempo me recuperando e, se Deus quiser, vou conseguir sair disso tudo”, afirmou na época, em entrevista coletiva.
Por outro lado, estipulou que, se o Atlético-PR provasse mensalmente, através de exames, que o arqueiro tivesse parado de usar a droga, a punição diminuiria para um ano. E assim aconteceu. Neste período, no qual Rodolfo chegou a ser internado numa clínica, o clube pagou os salários, tendo um tutor responsável por administrar suas finanças.
O tempo foi passando enquanto Rodolfo se tratava e, inclusive, fazia aparições constantes no clube paranaense para manter a forma física e, depois, para ter o ritmo de um atleta profissional e “normal”. No dia 5 de setembro de 2013, veio à notícia esperada. O goleiro, após um ano “limpo”, provando conforme acordado, estava liberado para retornar a fazer o que mais gosta: jogar futebol.
“A vida que eu tinha antes, não desejo a ninguém. Era uma vida de ilusão, sem significado. O Atlético-PR me ajudou muito nesse período e, dificilmente, algum outro faria o mesmo. É um sentimento muito bom voltar a fazer o que eu sei. A minha luta é diária e estou voltando de cabeça erguida”, comemora.
Atuando como profissional, Rodolfo fez 46 partidas, sendo 23 vitórias, oito empates e 15 derrotas. Já pelo Atlético-PR, atuou 25 vezes, com 14 vitórias, cinco empates e seis derrotas, fechando um aproveitamento de 62,6%.
Além de voltar a campo, Rodolfo ganhou outro presente: ser o capitão da equipe Sub-23. Para ele, entretanto, todos são capitães dentro das quatro linhas. “Não sou o dono do time, somos um grupo. Todos são líderes dentro de campo. Só vou estar com a faixa para estar perto da comissão e do árbitro”, comentou.
Quem deu essa responsabilidade foi o técnico Petkovic, após reunião entre os jogadores, que disse acreditar em seu potencial. “Quem ganha é aquele que se levanta, não é aquele que cai. Ele já se levantou. O Rodolfo está querendo muito, sendo um atleta exemplar. Eu confio plenamente nele. Estou contando muito com ele”, confia o treinador.
Pai de dois meninos, Rhuan e Ramires, de dois e quatro anos, respectivamente, o goleiro – que não é mais casado – fica feliz por voltar a dar atenção aos seus garotos. “Voltei a ser um pai de verdade. Antes era muito ausente. Todos os dias, eu falo com eles e saio nos finais de semana, levo nos parques para brincar”.
Mesmo de volta, Rodolfo continua seu tratamento por saber que possui uma doença grave. “Eu converso com os psicólogos diariamente. Frequento a clínica, faço grupo terapêutico e tenho consultas de terapia individual duas, três vezes por semana. Também sou do grupo de Alcoólicos Anônimos”, explica.
Seu empresário, Israel Silva, acredita que seu agenciado está 90% recuperado. “Ele não está curado e, sim, limpo. Está sadio mentalmente, fisicamente e se sentindo bem. Os outros 10%, ele vai alcançar a cada cinco anos de vida. Espero que ele vire referência nesse tipo de recuperação”, aposta Silva.
Fora toda essa batalha, Rodolfo conquistou um de seus sonhos ao retomar a carreira. Ele diz ter inúmeros, mas um deles é a vestir a tão desejada camisa amarela. “Jogar pela seleção é o de todo jogador e acredito nisso”, finaliza, com esperança.
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