Resistência a antibióticos pode levar medicina ‘de volta à Idade Média’, diz premiê britânico
O mundo poderá ser “lançado de volta à Idade Média da medicina” caso não sejam tomadas medidas para enfrentar a crescente resistência aos antibióticos, disse o primeiro-ministro britânico David Cameron. Ele anunciou a criação de um grupo para analisar por que tão poucos medicamentos do tipo têm sido criados nos últimos anos. O renomado economista […]
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O mundo poderá ser “lançado de volta à Idade Média da medicina” caso não sejam tomadas medidas para enfrentar a crescente resistência aos antibióticos, disse o primeiro-ministro britânico David Cameron.
Ele anunciou a criação de um grupo para analisar por que tão poucos medicamentos do tipo têm sido criados nos últimos anos.
O renomado economista Jim O’Neill, criador das sigla Bric, vai liderar uma comissão sobre o assunto com especialistas das áreas de ciência, finanças, indústria e saúde global.
Esse grupo vai definir planos para incentivar o desenvolvimento de novos antibióticos.
Liderança
“Se não agirmos, a perspectiva é de um cenário quase impensável em que antibióticos não funcionam mais. Voltaremos à Idade Média da medicina, em que infecções e lesões tratáveis vão matar de novo”, afirmou Cameron.
Cameron disse que discutiu a questão no início deste mês em uma reunião de líderes do G7, em Bruxelas, e tem apoio específico do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da chanceler alemã, Angela Merkel.
A expectativa é que as propostas desse grupo de análise sejam discutidas no encontro do G7 do próximo ano, na Alemanha.
“A penicilina foi uma grande invenção britânica de Alexander Fleming em 1928”, disse Cameron. “É bom que a Grã-Bretanha esteja tomando a liderança nesta questão para resolver o que poderia ser realmente um grave problema de saúde global.”
Ele disse que o grupo iria analisar três questões fundamentais: o aumento de bactérias resistentes aos medicamentos, a “falha do mercado” em apresentar novos tipos de antibióticos nos últimos 25 anos e o uso exagerado de antibióticos globalmente.
‘Bomba-relógio’
Estima-se que o aumento da resistência das bactérias a antibióticos seja responsável por 5 mil mortes na Grã-Bretanha e 25 mil mortes na Europa por ano.
A diretora geral de Saúde da Inglaterra, a professora Sally Davies, tem sido uma figura-chave para ajudar a colocar esse assunto na agenda global.
No ano passado, ela descreveu a crescente resistência aos antibióticos como uma “bomba-relógio” e disse que as ameaças que isso traz deveriam ser consideradas tão perigosas quanto o terrorismo.
“Estou muito contente de ver o primeiro-ministro assumindo a liderança global [nesta discussão]” disse.
“Novos antibióticos produzidos pelas indústrias de biotecnologia e farmacêutica serão fundamentais para resolver esta crise, o que terá impacto sobre todas as áreas da medicina moderna.”
A instituição filantrópica de investigação médica Wellcome Trust forneceu 500 mil libras (quase R$ 2 milhões) de financiamento para O’Neill e sua equipe, que ficarão baseados em sua sede no centro de Londres.
A resistência aos antibióticos tem sido uma questão chave para Jeremy Farrar desde que ele se tornou diretor do Wellcome Trust, no ano passado.
“Bactérias, vírus e parasitas resistentes aos medicamentos estão levando a uma crise de saúde global”, disse ele.
“É uma ameaça não só a nossa capacidade de tratar infecções mortais, mas a quase todos os aspectos da medicina moderna: desde o tratamento do câncer às cesarianas, as terapias que salvam milhares de vidas todos os dias contam com antibióticos que em breve podem parar de funcionar”, destacou.
‘Falha de mercado’
Os antibióticos têm uma incrível história de sucesso, mas as bactérias desenvolveram resistência por meio de mutações.
Um exemplo é a MRSA, na sigla em inglês, bactéria que há anos tem sido uma grande ameaça em hospitais. É resistente a quase todos os antibióticos, exceto os mais poderosos, e a principal arma contra ela é a melhoria da higiene, que evita que a infecção se espalhe.
Sem antibióticos, toda uma série de procedimentos cirúrgicos estaria em risco, de implantes nos quadris à quimioterapia e transplante de órgãos.
Antes dos antibióticos, muitas mulheres morriam após o parto ao desenvolver uma infecção bacteriana simples.
O’Neill é um economista renomado, mais conhecido por cunhar os termos do Bric e Mint – siglas para descrever os países emergentes e potenciais motores da economia mundial.
Ele não é, no entanto, um especialista em antibióticos ou micróbios.
Cameron, porém, disse que era importante ter um economista coordenando o grupo: “Há uma falha de mercado. A indústria farmacêutica não tem desenvolvido novos tipos de antibióticos, por isso precisamos criar incentivos.”
“Este não é apenas um desafio científico e médico, mas econômico e social, que exigirá a análise dos sistemas de regulação e mudanças comportamentais para resolvê-lo”, disse Jeremy Farrar.
O’Neill vai começar a trabalhar em setembro e deve entregar suas recomendações em março.
No mês passado, a resistência aos antibióticos foi escolhido como tema para o prêmio de 10 milhões de libras (cerca de R$ 38 milhões) do Longitude Prize, criado para enfrentar o maior desafio de nosso tempo.
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