Refugiados na Ucrânia pedem que o mundo não pense só em Gaza
A instabilidade política e os confrontos no leste da Ucrânia já obrigaram mais de 730 mil pessoas a saírem de suas casas e cruzarem a fronteira para a Rússia. Outros 117 mil deixaram suas residências e se mudaram para o oeste ou o centro da Ucrânia. A matemática simples nos dá a impressionante cifra de […]
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A instabilidade política e os confrontos no leste da Ucrânia já obrigaram mais de 730 mil pessoas a saírem de suas casas e cruzarem a fronteira para a Rússia. Outros 117 mil deixaram suas residências e se mudaram para o oeste ou o centro da Ucrânia.
A matemática simples nos dá a impressionante cifra de 850 mil refugiados e este número tende a aumentar nas próximas semanas, com a intensificação dos combates entre as forças do governo de Kiev e os separatistas pró-Rússia.
Donetsk é uma das cidades mais afetadas pelo confronto no leste do país e estima-se que pelo menos 30% da população já tenha se mudado para outra região. No entanto, a cidade recebe também um número cada vez maior de refugiados de outras localidades.
No centro da cidade, a residência estudantil de uma universidade – quase vazia por causa das férias escolares – se transformou em um centro de refugiados. São três edifícios, cada um deles abrigando pelo menos 1,2 mil refugiados nos seus 13 andares. As roupas e a comida são doadas e compartilhadas entre os moradores da residência provisória.
No ambulatório, jovens médicos voluntários atendem aos feridos e traumatizados pelos horrores da guerra. No subsolo, o bunker anteriormente desativado agora serve como abrigo em casos de bombardeios.
“Contem a verdade”
“As pessoas que estão aqui são das cidades de Gorlovka e Shakhtyorsk, majoritariamente. A situação em Donetsk está ruim, mas em outras partes (do leste do país) está tudo muito pior”, explica Valya, síndico de um dos edifícios. “Todo mundo aqui quer falar com jornalistas. Queremos que o mundo não pense somente em Gaza e veja o que estamos passando. Por favor, contem a verdade.” O apelo para que os jornalistas contem somente a verdade se repete em cada andar visitado pela reportagem.
“Agora, a nossa vida depende de como as pessoas no Ocidente veem a gente. Vocês (jornalistas) têm que contar tudo o que estão vivenciando aqui. Somos pessoas normais, comuns. Quem decidiu que nós temos que morrer? O que nós fizemos de errado?”, pergunta emocionada a advogada Oksana.
“Eu morava há mais de 30 anos na mesma casa e agora divido um quarto com desconhecidos. Eu tinha um trabalho, uma família, amigos e, de repente, me vejo no meio de uma guerra. De repente, virei refugiada. Você consegue se imaginar agora mesmo nesta situação? Pode acontecer com qualquer um”, completa.
Oksana está no centro de refugiados com a prima Ludmila, que diz não querer ir para a Rússia nem para outra cidade ucraniana. “Os russos são nossos amigos, mas eu quero morar aqui. Esta é a nossa terra, o local onde passamos a vida toda. Não somos terroristas como o governo de Kiev, Obama e Europa estão dizendo. Não quero viver escondida, fugindo.”
Crianças que entendem a guerra
O taxista Maksim carrega a filha de 2 anos no colo e conta que sua maior preocupação é com as crianças. “Ontem à noite, fomos dormir com barulhos fortes de explosão e aviões militares sobrevoando nossas cabeças. As crianças estão assustadas e me perguntam quando vamos voltar pra casa. Mesmo as menores entendem que estamos em uma guerra.”
Natalia, que ajuda a cozinhar voluntariamente no local, chegou há uma semana ao centro de refugiados de Donetsk e acredita que os protestos no país acabaram colocando no poder políticos piores que os anteriores:
“Quando isso vai acabar? Nossos políticos eram ruins, mas os que estão agora são piores. Em Kiev, eles não se importam com o que nós pensamos. Eles acham que têm o direitos de responder por nós. Na verdade, eles falam com outros países para decidir o que fazer com as pessoas aqui do leste da Ucrânia”. E completa: “Poroshenko deveria mandar o neto dele passar uma semana aqui (no centro de refugiados). É impossível que ele não entenda que não podemos morar assim”.
Sem que fosse perguntado, Denis, 10 anos, se aproxima e começa a falar: “Eu vi os soldados chegando quando minha irmã e eu brincávamos na rua. Eles disseram que a gente tinha que sair de casa no mesmo dia. Pegamos algumas coisas e saímos. Viemos pra cá há três dias, mas minha mãe não sabe quanto tempo ficaremos aqui”. E continua: “Só tenho 10 anos, mas minha mãe disse que eu já sou um homem por causa das coisas que eu vivi nestes meses. Sou eu quem ajuda minha mãe agora a cuidar dos meus dois irmãos menores”. Então, Denis se despede e volta a brincar com dois amigos da mesma idade.
Enquanto a reportagem visitava o centro de refugiados, explosões foram ouvidas nas proximidades do local. A menos de 1 quilometro dali, na mesma rua, um hospital foi alvo de bombardeio. Uma pessoa morreu e duas ficaram feridas.
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