Por que os estádios para a Copa atrasaram?

O Brasil inicia o Ano Novo oficialmente atrasado na construção das seis arenas que ainda estão sendo erguidas para a Copa do Mundo, que começa daqui a menos de seis meses, em 12 de junho. O prazo inicialmente estipulado pela Fifa para a conclusão dos estádios – a Arena Amazônia, em Manaus; a Arena das […]

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O Brasil inicia o Ano Novo oficialmente atrasado na construção das seis arenas que ainda estão sendo erguidas para a Copa do Mundo, que começa daqui a menos de seis meses, em 12 de junho.

O prazo inicialmente estipulado pela Fifa para a conclusão dos estádios – a Arena Amazônia, em Manaus; a Arena das Dunas, em Natal; a Arena Pantanal, em Cuiabá; a Arena Corinthians, em São Paulo; a Arena da Baixada, em Curitiba; e o Beira-Rio, em Porto Alegre – terminou em 31 de dezembro.

Uma reunião no início do mês, envolvendo Fifa e os responsáveis pelas obras, definiu novos prazos para que eles fossem inaugurados: três devem agora ser entregues já em janeiro (Natal, Manaus e Porto Alegre), um em fevereiro (Cuiabá), um em março (Curitiba) e outro em abril (São Paulo).

Um levantamento feito pela BBC Brasil indica que três principais motivos estão por trás dos atrasos da construção dos estádios: problemas de financiamento, questões trabalhistas (como a falta de mão de obra e greves) e acidentes, como o ocorrido em novembro na construção do palco de abertura do Mundial, em São Paulo.

Confira abaixo mais detalhes:

Problemas com financiamento

Uma das grandes dificuldades para a construção ou reforma das 12 arenas foi justamente a forma como elas seriam financiadas. Os governos estaduais ou as entidades privadas responsáveis pelas obras recorreram ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) – que concedeu empréstimos a 11 dos 12 estádios da Copa – para ajudá-los a custear os trabalhos.

No entanto, houve dificuldade muitas vezes para a liberação do dinheiro pelo banco. Os problemas para a demora foram principalmente vinculados à fiscalização feita pelo TCU (Tribunal de Contas da União) – que analisa todas as concessões de empréstimos feita pelo BNDES e também os contratos de financiamento em bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal.

Os orçamentos dos 12 estádios sofreram diversas alterações desde que foram aprovados ainda em 2010 e, com o aumento do custo de cada um deles, a fiscalização do TCU levou mais tempo para analisar e aprovar os contratos.

No caso da Arena da Baixada, em Curitiba, por exemplo – um dos estádios mais atrasados para a Copa – parte do financiamento ainda está comprometido pela demora na liberação da verba do BNDES – o estádio está sendo financiado parte pelos governos estadual e municipal e parte pelo Atlético-PR, clube que administrará a arena.

“O problema é orçamentário, porque as três partes não cumpriram o prometido: nem o governo federal, nem o estadual, nem o Atlético-PR”, explicou o secretário da Copa de Curitiba, Mário Celso Cunha.

“O financiamento pelo BNDES foi liberado só em janeiro deste ano, isso atrasa qualquer obra. E o BNDES está segurando R$ 9 milhões que não liberou até agora por problemas inimagináveis.”

O estádio de Curitiba estava orçado inicialmente em R$ 184 milhões nas contas já aprovadas pelo TCU – desses, um total de R$ 131 milhões viriam do BNDES. Atualmente, de acordo com o último relatório divulgado pelo Ministério do Esporte em novembro, a obra está custando R$ 326 milhões.

A Arena Corinthians, em Itaquera, foi outro estádio que enfrentou problemas para o financiamento. Orçada em R$ 820 milhões, a obra teria R$ 420 milhões vindos da Prefeitura de São Paulo em forma de CID’s (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) e outros R$ 400 milhões vindos do BNDES.

O Corinthians, clube administrador da arena, teve dificuldades para a liberação do dinheiro e ameaçou, inclusive, paralisar a obra em março deste ano.

Sem o BNDES, a Odebrecht, construtora responsável pela obra, teve que financiar a construção do estádio por meio de empréstimos convencionais – estima-se que a arena já custará pelo menos R$ 80 mi a mais por conta dos juros.

A assinatura do contrato de financiamento com a Caixa no fim de novembro, porém, selou o fim do impasse e garantiu a concessão do empréstimo pelo BNDES.

Questões trabalhistas

Os problemas trabalhistas enfrentados por algumas das obras também dificultaram o cumprimento do prazo inicial estipulado pela Fifa.

Em Curitiba, por exemplo, o Ministério do Trabalho chegou a embargar a obra da Arena da Baixada por seis dias no início de outubro alegando “falta de segurança dos operários”.

“Eles alegaram que corria risco de desabamento, foi uma barbaridade. A obra ficou parada por seis dias, mas os trabalhos são feitos em dois turnos, então na prática isso significa 10, 12 dias parados”, afirmou Mário Celso Cunha, responsável pelas obras da Copa em Curitiba.

A Arena das Dunas, em Natal, chegou a enfrentar uma greve de operários por 11 dias no início de 2012 por melhores condições salariais.

Já em Cuiabá, um problema que atrapalhou os trabalhos na Arena Pantanal foi a falta de mão de obra disponível.

“Em função do grande volume de obras na cidade, faltou mão de obra no estádio. Tivemos que recrutar regressos do trabalho escravo, reeducandos do sistema prisional, e haitianos para minimizar o impacto”, explicou o secretário da Copa de Cuiabá, Maurício Guimarães, à BBC Brasil.

Acidentes

Outro motivo que dificultou a entrega das obras no estádio foi a ocorrência de acidentes, fatais em alguns deles.

A Arena Corinthians, em São Paulo, um dos que estava dentro do prazo, precisou adaptar completamente o cronograma após a queda do guindaste que colocava o último módulo da cobertura da arena em 27 de novembro.

O incidente matou dois operários e paralisou as obras completamente por três dias. A área afetada ainda ficou embargada por mais tempo por conta da investigação e a retomada dos trabalhos nessa parte só aconteceu no último dia 16.

Em Manaus, um operário morreu no dia 14 de dezembro ao cair de uma altura de 35 metros, e a obra acabou também tendo uma paralisação, de cinco dias. Foi a segunda morte em um acidente na construção da Arena Amazônia – em março, outro operário morreu após uma queda.

Com isso, o cronograma das obras do estádio – que tem agora sua inauguração programada para 15 de janeiro – também sofreu alterações.

“Nós ainda estamos avaliando o impacto desses cinco dias de suspensão dos trabalhos na parte aérea (cobertura), mas temos confiança de que o estádio estará pronto ainda ao longo do mês de janeiro.”

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