Campo Grande vive a febre das esmalterias. São inúmeros salões de beleza e centros de estética especializados no cuidado da saúde e beleza dos pés e mãos. A prática envolve muitas vezes a utilização de materiais cortantes, como no caso da remoção de cutículas das unhas, o que constitui um grande risco de contaminação por doenças transmissíveis pelo sangue, dentre elas, a hepatite B.

Foi pensando na situação vulnerável dos profissionais desta área que a pesquisadora Sonia Fernandes Fitts, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), coordena um de pesquisa apoiado pela Fundect que estuda a infecção pelo vírus da hepatite B em manicures, pedicures e podólogos de Campo Grande.

“Inicialmente realizamos uma visita ao salão, onde explicamos a importância da pesquisa e convidamos os profissionais a participarem. Caso o convite seja aceito, fazemos o agendamento para a entrevista e coleta de sangue para a realização dos exames, que são feitos no próprio salão de beleza, individualmente e em local reservado, a fim de se respeitar a privacidade dos sujeitos da pesquisa”, informa Sonia.

Por se tratar de amostragem de conveniência, os salões são selecionados aleatoriamente e todos os profissionais que aceitam participar da pesquisa são incluídos, desde que sejam maiores de 18 anos. As coletas começaram inicialmente na região Norte da cidade, inclusive em bairros da periferia e shopping. Em seguida, no Centro e no momento as coletas estão sendo realizadas na região leste.

“Pretendemos ainda realizar nas regiões sul e oeste. Fizemos também coletas durante um evento promovido pela Associação de Esteticistas e Cosmetologistas de Mato Grosso do Sul (Apecsul), onde também participaram manicures e podólogos de diversas regiões da cidade”, explica a pesquisadora.

Quanto à aceitação para participar da pesquisa, de acordo com Sonia, foi um pouco difícil no começo, mas depois de algumas mudanças na forma de abordagem, houve mais participação. Sempre, durante o convite, é explicado para a manicure como a pesquisa funcionará e a questão do sigilo, que ajuda a minimizar a recusa. Outro aspecto que atrai essas profissionais é a vacina contra hepatite B, que é exigida para o exercício dessa profissão. Além disso, todos os participantes recebem informações sobre a doença, principalmente sobre as formas de transmissão e prevenção.

A doença

A hepatite B é uma doença infecciosa que ataca o fígado, causada por vírus e que pode ser transmitida por meio do contato direto com sangue infectado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 600 mil pessoas morrem anualmente no mundo em decorrência da doença.

De acordo com a pesquisadora, considera-se que o volume de 0,00004 mL de sangue já seja suficiente para transmitir a infecção, daí a importância em se adotar cuidados para evitar que isso ocorra.

“Uma importante forma de prevenção é vacinar-se contra hepatite B. A vacina é aplicada em três doses e possui cerca de 95% de eficácia. Além disso, medidas adicionais feitas pelos profissionais, não só para evitar a hepatite B, mas também outras doenças transmitidas pelo sangue – como a AIDS e a Hepatite C – incluem a utilização de luvas, a lavagem adequada e a esterilização dos instrumentos utilizados pela manicure. Outra alternativa para evitar a transmissão dessas doenças seria cada cliente possuir seu próprio kit para fazer suas unhas, pois o compartilhamento desses materiais cortantes cria o risco de contaminação”, afirma Sonia.

O projeto de pesquisa

Ao final do estudo, os pesquisadores pretendem não apenas estimar o número de casos de hepatite B entre manicures, pedicures e podólogos, mas também publicar os resultados em revistas científicas e envio para órgãos gestores de saúde com a finalidade de implementação das medidas de prevenção e controle da hepatite B no município de Campo Grande.

“O estudo poderá contribuir para elaboração de estratégias mais rígidas e efetivas de fiscalização sanitária, bem como para controle e prevenção da disseminação desse agente infeccioso”, conclui Sonia.