Se a Europa adotar uma prática agrícola que se abstenha de arar a terra após a colheita, as temperaturas locais poderiam cair até 2ºC, afirmaram cientistas nesta segunda-feira (23).

A razão está na cor do solo: a terra não arada é mais clara e reflete a luz do sol, tornando a área mais fresca do que a superfície escura, explicaram.

Os campos que são arados também ficam secos mais rápido. A terra não arada permite que a umidade evapore mais lentamente, contribuindo para seu resfriamento.

Os efeitos poderiam ser notados, particularmente, em episódios de ondas de calor, revelaram as descobertas publicadas no periódico americano National Academy of Sciences.

“Em dias com ondas de calor, o efeito refrescante local obtido com a prática de não arar é da ordem de 2ºC”, destacou o estudo, conduzido por cientistas da Suíça e da França.

Os pesquisadores descobriram que as sobras não aradas de campos de trigo ajudavam a refletir 30% da luz recebida, em comparação com 20% de campos arados.

Modelos de computador demonstraram que a diferença poderia se traduzir em uma margem de 2ºC em dias quentes, embora os efeitos possam ser amplamente locais.

“Em outras palavras, se todos os fazendeiros franceses parassem de arar seus campos no verão, o impacto nas temperaturas seria insignificante na Alemanha”, disse Sonia Seneviratne, professor de dinâmicas terra-clima do Instituto de Ciência Atmosférica e Climática de Zurique, na Suíça.

Os defensores da agricultura sem arado afirmam que a prática poderia trazer ainda mais benefícios, como economizar água, evitar a erosão do solo e até mesmo controlar o aquecimento global.

Em um informe de 2010, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos disse que a prática poderia “remover quantidades substanciais de carbono”, ao ajudar a Terra a reter mais carbono no solo, reduzindo, consequentemente as emissões para a atmosfera de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global.

Críticos, no entanto, afirmam que a prática leva ao aumento do uso de herbicidas químicos, com a perda do benefício de eliminação das ervas daninhas, causada pela suspensão do arado.

Cultivos sem arado ganharam popularidade nos Estados Unidos e na América do Sul, onde estão 85% das terras agrícolas não aráveis do mundo.