Paraense roda a América do Sul comprando e vendendo artigos raros e inusitados

Marcelo José Leite da Silva, 35 anos, se autodenomina comerciante de rua. Há cinco anos ele trabalha nas esquinas vendendo diversos produtos. “Como eu era auxiliar de cozinha, vendia tapioca no começo. Depois fui variando, vendendo de isqueiro a roçadeira. Tudo que eu ver que dá lucro eu compro e depois vendo”, conta o paraense, […]

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Marcelo José Leite da Silva, 35 anos, se autodenomina comerciante de rua. Há cinco anos ele trabalha nas esquinas vendendo diversos produtos. “Como eu era auxiliar de cozinha, vendia tapioca no começo. Depois fui variando, vendendo de isqueiro a roçadeira. Tudo que eu ver que dá lucro eu compro e depois vendo”, conta o paraense, que, na verdade, mora em Belém.

Cansado da violência de sua cidade, decidiu rodar o país e o continente como comerciante. Além de diversas capitais brasileiras, já foi para Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile. “Lá (fora) os são bem mais baratos, tem comércio livre, feiras”, explica.

Há uma semana em Campo Grande vendendo binóculos, sua nova especialidade, Marcelo se despede da capital morena tentando vender o que sobrou: um gramofone (“pai” da vitrola) de 1912 e um telefone de parede, de 1945. Parado na esquina em frente ao Horto Florestal, na Ernesto Geisel, Marcelo conta como leva a vida, suas experiências e aprendizados.

Natal triste

O gramofone e o telefone foram comprados em San Telmo, tradicional feira de Buenos Aires, pouco antes do Natal. O paraense elogiou o país dos hermanos. “É um país muito bonito, organizado, pessoas educadas, gostei muito de lá”. Entretanto, seu último dia lá não foi dos melhores.

“Comprei um iPhone 4S para vender e, inocentemente, dei para um rapaz do hotel que eu estava hospedado desbloquear. No outro dia o rapaz e o meu iPhone sumiram”, conta. E não parou por ai. Já em Assunção, no Paraguai, Marcelo dormiu com a janela aberta do hotel e ao acordar, notou que haviam roubado seu Notebook. “No total foi um prejuízo de três mil reais”, reclama.

Paraense ou peruano?

De tanto passar pelos países vizinhos e falar castelhano, o comerciante até pegou sotaque e foi confundido com peruano ao tentar entrar no Chile. “Acharam que eu era peruano e quase não consegui entrar”, revela. Marcelo diz que tem gente que não acredita que ele é brasileiro. “Falam que sou baixinho, pareço índio. Pareço, mas índio brasileiro, lá do norte”, ri.

Bagagem cultural

Marcelo é casado e têm duas filhas, uma de sete e outra de três. “Falo sempre com eles, pela internet ou pelo celular, sempre mantemos contato”. Apesar da saudade, ele admite gostar de “percorrer por aí”. “Conheço um pouco da cultura e das pessoas de todo lugar que vou. Gosto do que faço”, confirma.

Em Campo Grande

O comerciante ficou uma semana em Campo Grande. Vendeu principalmente na área central da cidade, na Afonso Pena e depois na Ernesto Geisel. Marcelo gostou da cidade. “Pareceu-me uma cidade bem cuidada, as pessoas me acolheram bem. Moraria aqui tranquilamente”, afirma. Tereré diz ter visto bastante aqui, mas só tomou no Paraguai.

Durante o tempo em que a reportagem conversou com Marcelo, quatro pessoas pararam para perguntar o preço dos produtos. Nenhuma quis comprar. Para a terceira, o comerciante disse que podiam conversar sobre preço. “Sempre que estou deixando a cidade, baixo o preço para não ter que ir embora com o produto”, explica. O próximo destino é o Paraguai novamente, para “reabastecimento” de produtos. 

Muita gente pergunta o preço só de curiosidade, segundo o paraense. “Já me acostumei com isso, acontece direto”. Em Campo Grande, Marcelo não conseguiu traçar perfil das pessoas que compraram os binóculos, mas listou as pessoas que costumam comprar os artigos raros: professores, advogados, decoradores e colecionadores.

Vender, vender, vender

Nas andanças, Marcelo gostou de Goiânia e pretende mudar com a família para lá. Antes, quer ir para Colômbia e México. “Se Deus quiser vou este ano ainda. No México as coisas são muito baratas”. Depois disso, quer abri uma loja “que venda de tudo”, em Goiânia. Marcelo pode até parar em algum lugar, desde que continue fazendo o que mais gosta: vender.

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