Obras de mobilidade para a Copa do Mundo provocam desapropriações em Pernambuco
Onde se viam casas, ruas repletas de gente e quitandas à beira da pista, hoje se vê terra, caminhões, escavações e poeira. Na região metropolitana do Recife, o terreno vazio, que antes abrigava 200 famílias do Loteamento São Francisco do Timbi, foi desapropriado para a ampliação do terminal de ônibus do município de Camaragibe. A […]
Arquivo –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
Onde se viam casas, ruas repletas de gente e quitandas à beira da pista, hoje se vê terra, caminhões, escavações e poeira. Na região metropolitana do Recife, o terreno vazio, que antes abrigava 200 famílias do Loteamento São Francisco do Timbi, foi desapropriado para a ampliação do terminal de ônibus do município de Camaragibe. A obra, que faz parte do ramal da Copa do Mundo, ganhou fôlego com a necessidade de levar torcedores de Recife até a Arena Pernambuco, onde serão disputadas cinco partidas do campeonato mundial de futebol.
A dificuldade de alugar um imóvel nas mesmas condições que o demolido e a impossibilidade de comprar uma casa nova com as baixas indenizações fazem com que famílias passem por situações difíceis. Para discutir soluções conjuntas, os antigos moradores passaram a se reunir na comunidade. Em uma dessas reuniões, Augusto*, de 71 anos, pede ajuda para compreender uma intimação do Conselho Tutelar local. É que desde a mudança, para uma casa onde já viviam duas famílias, o filho, de 11 anos, não vai a escola e se “envolve em confusões”, conta.
O Conselho Tutelar de Camaragibe não tem um levantamento do impacto das remoções sobre as crianças e adolescentes nem sobre a ausência de escolas, creches e equipamentos de esporte e lazer no local e nas proximidades, para onde muitos se mudaram. Reconhece, entretanto, que a fragilidade da situação, a mudança e a necessidade de se adaptar a uma nova rotina em condições que não são tão favoráveis como a anterior acentuam problemas já existentes.
“A questão é que os problemas familiares já existem, mas se agravam. O que se fazia antes, dentro do ambiente deles, da família, e que a vizinhança socorria, ajudava, participava, não acontece mais”, disse a conselheira tutelar de Camaragibe Josefa Maria de Mello.
As famílias que restaram no São Francisco também sofrem com a retirada de metade da comunidade e contabilizam dificuldades com o fim de uma série de serviços no bairro. A padaria e o mercadinho não existem mais e a única creche da localidade fechou as portas por falta de aluno. O Educandário Bom Jesus, que é particular, não recebeu nenhuma matrícula em 2014 e funciona hoje apenas como ponto de encontro para a reunião de moradores.
Edilza Ferreira de Brito, mãe de Vitória Ferreira, de 7 anos, disse que esperou a abertura de uma turma para as crianças remanescentes do São Francisco. “Fiquei até o fim esperando. Mas quando surgiu o boato de que poderemos ter que sair nos próximos anos ninguém matriculou os meninos”, contou. A comunidade ficou com medo de ficar sem a escolinha no meio do semestre e de os filhos acabarem perdendo o ano com a desapropriação da creche.
Mãe de três crianças, entre elas, um bebê de 11 meses, Rosângela Henrique Barbosa também sofre com o fim da creche e as intervenções no bairro. Ela conta que ficou mais difícil levar e buscar o mais velho na escola, coisa que ela faz a pé todos os dias. “Antes era aqui pertinho, em um instante ele chegava, voltava até só, agora é longe, a gente caminha no calor, na poeira, por causa dessas obras. Vivemos em crise de alergia”, contou.
A prefeitura de Camaragibe disse que não acompanhava os problemas causados pelas remoções por ser uma intervenção do estado. “Todas as desapropriações foram dadas pelo estado, a prefeitura está dando suporte social”, disse o secretário de Assistência Social, Eduardo Napoleão. O órgão passou a oferecer atenção psicossocial no início deste ano, depois das cobranças dos moradores. Não há, no entanto, nenhum acompanhamento sobre a situação dos jovens.
Responsável pelas desapropriações, a Procuradoria-Geral do estado de Pernambuco reconhece que os processos são “traumáticos paras as populações atingidas” e que muitas vezes o valor das indenizações são insuficientes para a compra de um novo imóvel no mesmo bairro. “A gente tenta remediar encaminhando para os programas de auxílio-moradia e programas habitacionais da prefeitura ou do governo do estado”, disse o procurador-geral, Thiago Norões.
Segundo ele, um planejamento de longo prazo para as cidades seria o ideal. “Eu poderia dizer que o governo federal, antes de fazer uma Copa do Mundo, deveria pensar no direito à moradia para toda a população. Agora, é feito um programa, pactuado com todos os níveis de governo, para resolver um problema específico [as desapropriações]. A gente resolve o problema”, afirmou.
Depois da visita da reportagem ao local, o governo do estado anunciou a construção de 1,2 mil casas para moradores de São Francisco no município de São Lourenço da Mata, onde fica o estádio da Copa. A localidade fica a poucos quilômetros de Camaragibe.
O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7º Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).
Notícias mais lidas agora
- ‘Discoteca a céu aberto’: Bar no Jardim dos Estados vira transtorno para vizinhos
- Carreta atropela mulher em bicicleta elétrica na Rua da Divisão
- Papai Noel dos Correios: a três dias para o fim da campanha, 3 mil cartinhas ainda aguardam adoção
- VÍDEO: Motorista armado ‘parte para cima’ de motoentregador durante briga no trânsito de Campo Grande
Últimas Notícias
Santa Casa de Campo Grande enfrenta superlotação crítica e riscos à assistência
Profissionais relatam desafios enfrentados no cotidiano diante da superlotação, como jornadas extenuantes e aumento dos riscos para pacientes
Câmara aprova projeto que restringe uso de celular em escolas
Projeto prevê a medida para escolas públicas e privadas
Acostamento de vias na elaboração e na contratação de projetos de engenharia é tema de debate na Alems
Deputado Caravina prevê que “a implantação de acostamentos nas rodovias estaduais, sem dúvida, diminuirá consideravelmente os riscos de acidentes”
Engavetamento com seis veículos deixa trânsito lento na Avenida Afonso Pena
Dentre os envolvidos estão uma BMW X4, uma Chrysler Caravan, um VW Polo e dois VW Gol
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.