No processo inverso, professor faz papel virar madeira ao criar instrumentos musicais

Usando tapinhas de garrafas, raios-x e outros materiais que servem como sustentação surgem pandeiros, bumbos e bongôs.

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Usando tapinhas de garrafas, raios-x e outros materiais que servem como sustentação surgem pandeiros, bumbos e bongôs.

A madeira que virou papel, que voltou a ser madeira. Partindo do processo inverso da indústria e reaproveitando aquilo que iria para o lixo, o professor soropolitano Ives Quaglia, de 54 anos, constrói instrumentos musicais de percussão a partir da utilização de papelão.

Usando tapinhas de garrafas, raios-x e outros materiais que servem como sustentação surgem pandeiros, bumbos, bongôs e diversos instrumentos que fazem os estudantes de escolas públicas transformar o lixo em ritmo e melodia.

As oficinas que começaram há mais de dez anos nas escolas públicas de Salvador ganharam projeção e percorreram o país e o mundo. Ives conta que o trabalho, que está sendo ministradas entre os dias 1º a 11 de maio, no centro comunitário do Jardim Sayonara, em Campo Grande, já percorreu diversas cidades do Brasil e até a Espanha.

“Fomos em vários lugares com esta oficina. Esta lixeira (mostra o objeto feito em papelão) já viajou muito”, conta, citando algumas das cidades onde já levou o projeto, que aqui está sendo realizado em parceria com o Grupo Cultural Galera do Mar/BANDODIPAPEL e a Xirê Produções e com o apoio do CJCC – Centro Juvenil de Ciência e Cultura – Colégio Central, da Secretaria da Educação do Estado da Bahia.

Em Campo Grande são dez dias de cursos. Ao todo são 40 vagas destinadas para pessoas com idade a partir de 14 anos, que integram a comunidade do bairro Sayonara, ou músicos e profissionais que estão envolvidos com projetos da área.

Participante da oficina, Kelly da Silva Marques, 27 anos, manicure, conta que não sabe tocar nada, mas se interessou pela oficina por gostar muito de musica e querer aprender mais. “É uma oportunidade para nós, quero muito saber mais de música e vejo a oficina como um bom momento para aprender”, diz.

A colega dela, Graziela da Silva Marques, de 21 anos, dona de casa, revela que se interessou pela novidade e por ter a chance de saber mais sobre música.

A oficina está dividida em duas etapas, sendo que na primeira ocorre a apresentação do projeto, abordagem teórica e conceitual sobre cultura, arte, meio ambiente e cidadania. Além do processo de criação, confecção e produção de instrumentos musicais percussivos.

Na segunda etapa haverá o estudo sobre sons, toques e batidas, noções teóricas e conceituais da linguagem musical, como ritmo, melodia, harmonia e afinação. No decorrer da oficina serão realizados ensaios e experimentações que resultarão em um show musical percussivo.

Também atuando na oficina, o professor Zeca Araujo, de 57anos, explica que enquanto Ives faz a parte prática ele dá o suporte educacional a oficina. “A criação do instrumento é dele e eu dou o suporte na parte educacional”, conta.

Ele revela ainda que neste dez dias de oficina serão produzidos em torno de 40 instrumentos percussivos, um para cada aluno, utilizando a técnica do papelamento. “Reutilizando materiais recicláveis, tais como: madeira, papelões, tecidos, plásticos e principalmente papéis variados fazemos os instrumentos”, diz.

Uma parte significativa dos materiais pode ser coletada e/ou aproveitados do universo da localidade próxima da oficina (rua, bairro), dando um caráter de identidade e pertencimento desde o início da concepção da proposta. Os instrumentos serão divididos por categorias funcionais e características estéticas: marcações, repiques, pandeiros, atabaques, maracás e outras criações autorais, formando um conjunto harmônico percussivo e possibilitando novas experiências musicais no “tocar” em todos os sentidos e nas performances artísticas.

O Festival

A oficina é uma das atividades que acontece em paralelo ao Festival do Teatro Brasileiro (FTB). A partir do dia 1º de maio o festival traz a 16ª edição para Mato Grosso do Sul, mantendo a característica de intercâmbio entre a cultura dos estados. Desta vez é a cena baiana que vem apimentar o cenário cultural e educacional de MS. O Festival do Teatro Brasileiro conta com o patrocínio nacional da Petrobras e é uma realização do Ministério da Cultura e Governo Federal.

Grupos que são referência nas artes cênicas brasileiras apresentam seis diferentes espetáculos, com sessões distribuídas nos teatros Aracy Balabanian e Dom Bosco, em Campo Grande.

De 15 a 25 de maio a população de Campo Grande poderá apreciar a produção cênica baiana. Destaca-se a excelência e diversidade dos seis espetáculos com gêneros que passam pela comédia, drama contemporâneo, cultura popular, musical e infantil. Entre eles estão reconhecidas montagens em todo o Brasil, como a comédia “O Indignado” e o infantil “Da Ponta da Língua à Ponta do Pé” da Cia Vila Dança.

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