O cessar-fogo sem prazo para terminar na faixa de Gaza continuou a ser obedecido nesta quarta-feira (27), enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta duras críticas em Israel por causa de um custoso conflito contra militantes palestinos, do qual ninguém saiu claramente vitorioso.

Nas ruas do castigado enclave palestino controlado pelo Hamas, pessoas aproveitavam para ir às lojas e aos bancos, na tentativa de retomar um ritmo de vida normal após sete semanas de confrontos. Milhares de outros moradores, que fugiram do conflito e se abrigaram com parentes ou em escolas, retornaram para casa, alguns somente para encontrar o lar em escombros.

Em Israel, as sirenes de alerta para foguetes vindos da faixa de Gaza ficaram em silêncio, mas comentaristas ecoaram na mídia israelense ataques feitos por membros da coalizão de governo de Netanyahu, nos quais expressam decepção com a atuação do premiê durante o mais longo confronto violento entre israelenses e palestino em uma década.

“Após 50 dias de guerra, na qual uma organização terrorista matou dezenas de soldados e civis, destruiu a rotina diária e colocou o país em um estado de dificuldade econômica… poderíamos esperar muito mais do que o anúncio de um cessar-fogo”, escreveu o analista Shimon Shiffer no “Yedioth Ahronoth”, jornal mais vendido de Israel.

“Poderíamos esperar que o primeiro-ministro fosse à residência do presidente e informasse a ele sobre sua decisão de renunciar a seu cargo”, acrescentou.

Netanyahu, que enfrenta constante pressão de ministros direitistas em seu gabinete por uma ação militar para retirar o Hamas do poder na faixa de Gaza, não emitiu nenhum comentário sobre o acordo de trégua, que foi mediado pelo Egito e começou a ter efeito na noite de terça-feira.

Autoridades de saúde palestinas disseram que 2.139 pessoas, a maioria civis, incluindo mais de 490 crianças, foram mortas no enclave desde 8 de julho, quando Israel lançou uma ofensiva com o objetivo declarado de interromper o lançamento de foguetes.

O número de mortos em Israel foi de 64 soldados e seis civis.

O acordo de cessar-fogo prevê uma interrupção sem prazo das hostilidades, a imediata abertura das passagens da Faixa de Gaza com Israel e o Egito, e o alargamento da área de pesca do território no Mediterrâneo.

Uma autoridade de alto escalão do Hamas expressou boa-vontade para que as forças de segurança do presidente Mahmoud Abbas, apoiadas pelo Ocidente, e a união de governo articulada por ele controlem as passagens de fronteira.

Israel e Egito encaram o Hamas como uma ameaça à sua segurança e buscam garantias de que armas não vão entrar no território de 1,8 milhão de habitantes.

Em segundo estágio da trégua, que começaria após um mês, israelenses e palestinos começariam a discutir sobre a construção de um porto marítimo na Faixa de Gaza e a libertação de prisioneiros do Hamas na Cisjordânia ocupada, possivelmente em troca dos corpos de dois soldados israelenses que se acredita tenham sido capturados pelo Hamas, disseram autoridades.

Israel tem dito nas últimas semanas querer a completa desmilitarização da faixa de Gaza. Os Estados Unidos e a União Europeia apoiaram a meta, mas não ficou esclarecido o que isso significaria na prática e o Hamas rejeitou a proposta como impraticável.

Declarações conflitantes de vitória

“Na terra da orgulhosa Gaza, o povo unido conquistou vitória absoluta contra o inimigo sionista”, disse um comunicado do Hamas.

Israel afirmou ter desferido um duro golpe contra o Hamas, matando vários de seus líderes militares e destruindo túneis usados pelo grupo para atravessar a fronteira.

“O braço militar do Hamas foi gravemente atingido, sabemos disso claramente por meio de inequívocos dados de inteligência”, disse Yossi Cohen, conselheiro de segurança nacional de Netanyahu, à estação Army Radio.