Grande parte dos moradores e comerciantes dos bairros Arthur Alvim e Itaquera, próximos à Arena Corinthians (Itaquerão), ainda não sabem como vai funcionar a área de bloqueio nos jogos da Copa do Mundo. Na tarde de ontem (30), a reportagem da Agência Brasil visitou várias ruas na zona leste da capital paulista, definidas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) como área de restrição de circulação em dias de jogos da Copa. Segundo a CET, no segundo jogo-teste do estádio, que acontece neste domingo (1º), em uma partida entre Corinthians x Botafogo, a área de bloqueio será utilizada, seguindo os mesmos moldes do que está sendo estruturado para os jogos do Mundial em São Paulo.

Os bloqueios serão feitos a partir das 9h, e permanecerão até duas horas depois do fim do jogo. Ao todo, serão 26 bloqueios operacionais, em circulação de nenhum tipo de veículo, e dois pontos de acesso local, que são as vias abertas aos moradores do bairro para acessarem suas residências no entorno do estádio.

O perímetro da área de restrição veicular é formado pelas seguintes vias: Rua Dr. Luís Ayres (Radial Leste), sentido bairro, a partir do Túnel Águia de Haia; Avenida José Pinheiro Borges (Radial Leste), sentido centro, desde o Viaduto Cassiano Gabus Mendes; Avenida Calim Eid, sentido bairro, a partir do Viaduto Milton Leão; Avenida Itaquera, sentido bairro, junto à Rua Cesar Diaz; Avenida Miguel Inácio Curi, sentido centro, 200 metros depois da Avenida Itaquera; Rua Tomazzo Ferrara, sentido centro, junto à Rua Castelo do Piauí.

A maior parte dos moradores abordados disseram não ter conhecimento sobre a área de bloqueio, e não sabiam se haveria necessidade de cadastro para poder acessar o bairro nos dias de jogos. Um deles, no entanto, disse ter recebido um papel da prefeitura, informando que ele não poderia deixar seu carro estacionado na rua onde mora em dia de jogo. “Recebi um folheto hoje. Não sei como vai funcionar. Só sei pelo folheto”, disse Antonio Mondenini, que mora na Rua Edward Félix de Moraes. “Acho bom [o jogo ser aqui pertinho], mas esses bloqueios eu não estou entendendo”, disse ele.

Por meio de nota, a CET informou que hoje (31) é o último dia para que os moradores da região da Arena Corinthians sejam cadastrados. Segundo o órgão, a medida é necessária para garantir o acesso de veículos às áreas definidas como de restrição de circulação, já que nos dias de jogos somente veículos autorizados e cadastrados e torcedores com ingressos poderão acessar as áreas de bloqueio. Além disso, nos dias de jogos no Itaquerão não haverá bolsões de estacionamento. O acesso ao estádio será feito só por trem ou metrô.

De acordo com a CET, a autorização de acesso será utilizada a partir de amanhã, e só poderão entrar nas áreas de bloqueio os veículos com adesivo de morador. O cadastramento se limita a 130 residências/comércios da Rua Doutor Luís Ayres, Avenida do Contorno e Rua Manoel Ribas. Nos locais onde não havia ninguém, funcionários da CET deixaram carta no local, solicitando que os moradores ligassem para o telefone (11) 3396-8095 para reagendar a visita. Hoje (31) cedo, o órgão informou que o cadastramento já atingiu cerca de 90% dos moradores e comerciantes das três vias, e quem não se cadastrou receberia, até o fim do dia, visitas de equipes do Departamento de Marketing da companhia.

A CET ressaltou que nem todos os moradores e comerciantes serão cadastrados. A inscrição se limita a 130 residências. Na rua Doutor Luís Ayres, os moradores cadastrados vivem entre o túnel Águia de Haia e a Rua Maria Eugênio Celso, e terão acesso a suas residências apenas pelo ponto de bloqueio, na rua Peixoto Werneck. Já os moradores da Avenida do Contorno podem circular a partir do número 208; e na Rua Manoel Ribas, entre a Avenida do Contorno e a Rua Paulo Frontim, deverão acessar suas casas pela Rua Padre Viegas de Menezes e pela Avenida do Contorno. A saída deverá ser feita pela Rua Manoel Ribas, depois à esquerda na Rua Nova Petrópolis até chegar à Avenida Campanella.

A reportagem visitou duas das três ruas ontem (30), e a maior parte dos comerciantes e moradores entrevistados disseram não ter sido informados sobre a área de interdição. O comerciante Tadeu Souza Brito, proprietário do bar Recanto dos Amigos, disse que ninguém da prefeitura informou sobre a área de bloqueio ou se poderia abrir o bar no dia do jogo. Já Fernanda Santos Souza, proprietária do salão de beleza Morenas Fashion Hair, confirmou ter recebido. “Eles mandaram uma notificação. Colocaram embaixo da porta do estabelecimento, na semana passada. Informa um período de bloqueio nos dias de jogos, seis horas antes de cada partida e só será liberado duas horas depois [do jogo]”, disse ela, que não fez cadastro, mas reclamou da interdição.

“Achei péssimo. Vai atrapalhar totalmente o meu negócio. Não posso me dar ao luxo de fechar porque vai ter um jogo. Aqui é uma avenida. Eu já não tenho estacionamento para os meus clientes. Fechando a via, o que vou fazer? Meus clientes terão que parar onde para vir? Vão vir a pé?” Fernanda diz que deve ter prejuízo considerável durante a interdição para os jogos da Copa, embora concorde com o evento. “Acho legal. Está valorizando bastante o bairro, que estava bem decaído. Com o estádio, vai crescer bastante o movimento para a região e para os comerciantes. Mas não acho certo o que estão fazendo. Se pegar o [Estádio do] Morumbi, lá não tem interdição nos dias de jogos, e é uma área de grande movimento. Por que aqui vai ter que interditar?”, reclamou ela.

José Laurindo, dono do Chamego’s Bar e Restaurante, na Rua Maria Eugenio Celso, que cruza a Rua Doutor Luis Ayres e que não está inclusa na área de bloqueio, reclamou não ter sido informado sobre como vai funcionar o acesso à região nos dias de jogos. Ele, que mora em São Miguel Paulista e vem de carro para seu estabelecimento, disse que será prejudicado com a interdição nos dias de jogos. “Posso ser prejudicado sim. Se fechar a via ao meio-dia, e eu quiser vir abrir o estabelecimento depois disso, não vou conseguir. Vou ter que dar a volta, e vai estar tudo travado por aqui. E domingo já tem jogo-teste da Fifa. O que eu faço? Fico parado, deixo o estabelecimento fechado porque não posso trabalhar?”, disse ele, que pretende abrir o seu bar amanhã, durante o horário do jogo.

Matildes Araújo Gomes, moradora da Avenida Miguel Inácio Curi disse que não foi avisada sobre a interdição. “No último jogo que teve [o primeiro jogo-teste no estádio] eles interditaram aqui, mas a gente não sabia que ia interditar. Só os moradores puderam entrar. No caso, tinha que falar com os policiais que estavam no bloqueio para poder entrar”. Mas para o jogo de amanhã, Matildes disse não saber como vai funcionar. Vanusa de Almeida Ribeira, moradora da Rua Manoel Ribas, também disse não saber se a rua será interditada. “Ninguém falou não. Vai ser todos os dias?”, perguntou ela.