Moradores cobram explicação da PM sobre morte de criança por bala perdida

O menino Luiz Felipe Rangel de Melo, de 3 anos, vítima de uma bala perdida enquanto dormia em casa, no Morro da Quitanda, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, foi enterrado no fim da tarde de hoje (26), no cemitério de Irajá, sob pedidos de justiça e paz na comunidade. A bala […]

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O menino Luiz Felipe Rangel de Melo, de 3 anos, vítima de uma bala perdida enquanto dormia em casa, no Morro da Quitanda, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, foi enterrado no fim da tarde de hoje (26), no cemitério de Irajá, sob pedidos de justiça e paz na comunidade.

A bala que atingiu o menino foi disparada durante tiroteio entre policiais do 41º Batalhão da Polícia Militar e criminosos da comunidade. A perícia foi feita no local, e a polícia civil apreendeu 15 armas dos policiais que participaram da operação.

Após o enterro, familiares e amigos fizeram manifestação pacífica em frente ao batalhão responsável pela área da comunidade, e foram recebidos pelos policiais. Abalada, Jurema Rangel, mãe de Luiz Felipe, não quis gravar entrevista e desmaiou durante o enterro. A tia Sheila Silva, que mora próximo à casa da mãe, disse quecorreu para tentar salvá-lo, mas quando chegou, Luiz Felipe já estava morto.

“A mãe dele chegou em minha casa falando que tinham matado ele. Eu perguntei onde ele estava, e ela disse que estava dentro de casa. Eu corri para ver se socorria, mas quando cheguei ele já estava morto”, contou.

A outra tia do menino, Nair Rangel Barbosa, considerou a morte do sobrinho uma fatalidade. “Ele era uma criança linda. Foi uma fatalidade o que aconteceu, mas a gente pede justiça. Que isso não fique impune. Como aconteceu com o meu sobrinho, pode acontecer com o meu filho. Eu estava trabalhando e quando cheguei não pude ver nada, a perícia já estava sendo feita”, disse.

Amigos e parentes saíram do enterro e foram até o batalhão responsável pela operação que atingiu Luiz Felipe, e protestaram pacificamente. A rua foi fechada pelos policiais para garantir a segurança dos manifestantes. Em seguida, o subcomandante do batalhão, tenente-coronel Luiz Carlos Garcia Baptista, recebeu o grupo no pátio da unidade e conversou com mães que perderam os filhos, na mesma situação, na comunidade, e com a família do menino Luiz Felipe.

De acordo com o oficial, não era uma operação policial. Segundo ele, foi feito um patrulhamento na região e a Polícia Militar não disparou nenhum tiro. Ele explicou que quando a polícia entra na comunidade é com o intuito de reestabelecer a ordem. O patrulhamento seria para reprimir a ação de bandidos que roubavam cargas na área do batalhão.

“Quando nós chegamos no batalhão, seis meses atrás, estava havendo roubos de carga dentro da área do batalhão, então nós implantamos uma companhia e um policiamento na Pavuna. Parou de acontecer esse tipo de roubo dentro da área de responsabilidade do batalhão, mas eles começaram a roubar fora da área e levavam a carga para a comunidade da Quitanda. A gente conseguiu descobrir isso pelo GPS das viaturas das empresas que estavam sendo roubadas”, explicou Garcia.

A operação de ontem, que resultou na morte de Luiz Felipe, também deixou duas pessoas feridas, sem gravidade. De acordo com Garcia, foi feito um cerco na Rua Imbaú, e o carro blindado da polícia estava no local para fazer patrulhamento na Estrada de Botafogo. Segundo ele, o blindado era para coibir que a carga voltasse para lá. Segundo o subcomandante, toda vez que o blindado vai para o Morro da Quitanda, é recebido a tiros.

“Eu estava lá, e escutei vários disparos de arma de fogo, e não foram disparados por policiais. Eu apresento a vocês as condolências, os pêsames, em nome da Polícia Militar. A gente não quer esse resultado de jeito nenhum, nós policiais também temos família, então a gente não quer que isso aconteça de jeito nenhum. Se a gente sente quando morre um policial nosso, que dirá uma criança. O nosso objetivo não é esse”, explicou, acrescentando para as mães que estiveram no batalhão que qualquer prisão, qualquer operação, não vale a vida dos filhos delas, e orientou os moradores a irem até o batalhão conversar e prestar queixas das operações em delegacias para ajudar o trabalho da polícia.

Garcia disse ainda que nenhum comandante quer que um policial proceda mal na rua, e ressaltou que não tem conhecimento nem informações suficientes para esclarecer o caso. Salientou que a versão dos moradores tem que ser ouvida, e a dos policiais também.

“O batalhão não está fazendo operação, principalmente por causa da Copa do Mundo. É uma ordem do comando da polícia. O que o blindado estava fazendo era um patrulhamento na Estrada de Botafogo. Lá onde a criança foi alvejada não tem nem como o blindado chegar, não tem acesso”.

Anailza Rodrigues da Silva, mãe de Bruna, de 10 anos, que também foi vítima de uma bala perdida em um confronto na comunidade, em 2012, disse que o caso do menino foi parecido com o da filha dela, e relatou que é uma revolta muito grande ver esse tipo de coisa ocorrendo na comunidade.

“A minha filha estava em casa, e quando ela viu o caveirão, entrou para baixar o som, e quando voltou foi atingida por um tiro no abdomem. É uma revolta muito grande porque não parou na Bruna. Costa Barros continua perdendo vítimas de bala perdida. A gente quer mostrar para o Brasil, para o mundo, a realidade do que está ocorrendo. A gente quer paz, não somos contra a operação. Já fizeram operações inteligentes, sem disparar um tiro, e eu até admirei o trabalho da polícia, mas agora a gente não está tendo paz. Quem está nesta vida sabe que ou é preso ou é morto. Agora eu não criei minha filha, com o maior sacrifício, para vir uma bala perdida de fuzil e matar minha filha. A Bruna era linda, estudiosa, eu não criei minha filha para isso”, disse.

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