Marina Person e Caio Blat se unem em filme sobre Aids, rock e juventude

Marina Person já disse inúmeras vezes quanto ficou triste por deixar a MTV, em 2011, após 18 anos de casa, por sentir que sua jornada lá chegara ao fim. Mas foi graças à saída que ela finalmente pôde voltar a se dedicar ao cinema, quatro anos depois de lançar seu primeiro longa, o documentário “Person”, […]

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Marina Person já disse inúmeras vezes quanto ficou triste por deixar a MTV, em 2011, após 18 anos de casa, por sentir que sua jornada lá chegara ao fim. Mas foi graças à saída que ela finalmente pôde voltar a se dedicar ao cinema, quatro anos depois de lançar seu primeiro longa, o documentário “Person”, sobre seu pai, o cineasta Luís Sérgio Person (“São Paulo S.A”). Marina dirige agora seu primeiro longa de ficção, “Califórnia”, que deve chegar aos cinemas em 2015, apesar de ainda não ter conseguido captar todo o dinheiro, contou ela ao UOL.

“Sempre pensei que conseguiria fazer cinema paralelamente à MTV, mas não tinha tempo. Quando saí de lá, disse: ‘É agora!’. Para conseguir mergulhar de novo no cinema, a apresentadora aceitou apresentar o ‘Metrópolis’, na TV Cultura, apensas uma vez por semana, mesmo gostando muito do programa dominical. O acordo com a Cultura permitiu que ela não só voltasse a dirigir, como pudesse participar de outro filme como atriz. Em ˜Voltando Pra Casa”, dirigido pelo seu marido, Gustavo Moura, ela contracena com João Miguel.

Até lá, Marina só tem olhos para sua própria obra. Ela conversou com a reportagem no mesmo dia em que acabaram as filmagens, que lhe deram 12 horas diárias de trabalho, muito aprendizado, novos amigos e descobertas. Formada em cinema pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo, a cinéfila vê muitos filmes por semana e fala do tema há anos, mas estar do outro lado é diferente. “É uma delícia. A parte que mais gostei foi a de direção dos atores e, curiosamente, a atuação é a primeira coisa que eu noto em um filme”.

Aids, rock, juventude e fim da Ditadura

Em “Califórnia”, Stella (Clara Gallo) é uma adolescente, que vive suas descobertas sexuais nos anos 80, mesmo período em que a Aids tornou-se uma epidemia sem que existisse ainda um tratamento eficaz. O fantasma da doença chega até Stella por meio de seu tio, vivido por Caio Blat. Para a jovem, o tio é um herói. Pronta para visitá-lo na Califórnia, o tio retorna ao Brasil, já infectado pelo HIV e muito debilitado. “Passando por um momento já conturbado que é a adolescência, ela ainda tem lidar com essa questão. A Aids naquela época era muito diferente do que é hoje e a primeira geração de jovens que conviveu com isso foi a minha. Isso mexeu muito comigo na época”.

Na época, o Brasil também vivia um momento de abertura política, com o fim da Ditadura, e a consolidação de uma cena roqueira, com Titãs, Ira, Metrô e Kid Abelha. Todos eles estão na trilha, assim como The Cure, Talking Heads e New Order, que marcaram a adolescência da menina que se tornaria VJ da MTV. Representando, o rock paulista da época, Paulo Miklos também está no elenco e faz o pai da protagonista. “Foi tão incrível ter ele no elenco. No filme terá um show dos Titãs. Então tem o Miklos como pai da personagem e como Paulo Miklos mesmo”.

A entrega de Caio Blat

Com dois filmes em cartaz (“Alemão” e “Entre Nós”) e no elenco da novela “Joia Rara”, Caio Blat fez malabarismos para viver o tio portador de HIV. Em entrevista recente ao UOL, ele disse que estava dormindo quatro horas por noite e trabalhando sete dias por semana, mas que se desdobrava porque tinha muito orgulho dos trabalhos. “Eu fiquei preocupada com a agenda dele. Achei que não ia dar, mas ele disse que gostou muito do roteiro e garantiu ‘Marina, vai dar’”. Ocupado com a novela e com os outros filmes de segunda a sábado, só sobraram os domingos para as filmagens. “Num desses domingos, ele também teve que gravar a novela. Saiu do trabalho e veio para São Paulo à noite. Gravamos a madrugada toda. Na segunda de manhã, ele retornou ao Projac”.

Marina não poupou elogios a Caio e disse que sua principal qualidade é ser “ponta firme”. Segundo ela, Caio não se importou com os perrengues típicos de um filme de baixo orçamento. “Ele topava tudo. Quando precisava, ele seguia as falas, mas também improvisava muito bem quando eu pedia”.

A diretor também estava encantada com o elenco jovem e não tão conhecido. “Esses jovens atores são bons e muito abertos. Cada momento com eles eu achava incrível”. Marina teve ainda uma ligação especial com Clara Gallo. As duas são bem parecidas fisicamente, mas Marina jura que é coincidência. “Eu a escolhi, mas a semelhança foi inconsciente. Apesar disso, teve uma identificação forte. Uma vez ela teve dor de garganta e logo depois fui eu. Rolou uma simbiose”.

O cinema brasileiro, por Marina

Depois desse intenso contato com os atores, Marina parte agora para a edição do filme, mesmo ainda sem ter dinheiro para a finalização. “Estamos atrás de patrocínio para pagar as músicas, ter um som legal e fazer os ajuste de imagens”.

Ela conta que todos perguntam em qual gênero seu filme se encaixa, mas já avisa que ainda não tem a resposta. “Está mais perto do drama e definitivamente não é uma comédia. Ainda é difícil dizer o que ficou porque o navio saiu do lugar, mas ainda não chegou ao destino”. Marina ainda comemora a abertura do cinema nacional a filmes variados. “Eu sou otimista em relação a isso e acho que tem que ter espaço para todos: de Julio Bressane a comédias da Globo”.

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