O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à TV portuguesa RTP divulgada neste domingo. O petista voltou a comentar o julgamento do mensalão e disse não acreditar na existência do esquema de corrupção. Para Lula, o processo foi uma tentativa política frustrada de destruir o PT.

“O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”, disse à jornalista Cristina Esteves durante viagem à Europa na semana passada. “Eu acho que não houve mensalão. Eu não vou ficar discutindo decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontado. É só uma questão de tempo.”

Sobre petistas envolvidos com o mensalão, Lula afirmou: “não se trata de gente da minha confiança”. Entre os presos pelo mensalão, estão membros de peso do partido, como José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e José Genoino, ex-presidente da legenda .

“Esse processo foi um massacre que visava destruir o PT, mas não conseguiu”, disse Lula. “Quando uma pessoa é honesta, quando uma pessoa é decente, as pessoas veem nos olhos”, afirmou o petista, que disse que não se abalou com o julgamento.

Vida política e eleições

Questionado se ainda pode concorrer a algum cargo público, Lula diz: “em política, a gente nunca pode dizer ‘não’. Mas eu acho que já cumpri com a minha tarefa no Brasil. Eu sonhava ser presidente porque eu queria provar que eu tinha mais competência para governar o Brasil que a elite brasileira. E eu provei”.

Lula reiterou que não será candidato este ano e diz acreditar que, mesmo com a queda nas pesquisas, a presidente petista Dilma Rousseff será reeleita. Ainda afirmou que será apenas cabo eleitoral e que vai para a rua com Dilma, mas não terá cargo no governo.

Protestos

Lula ainda comentou os protestos que tomaram as ruas no ano passado. O ex-presidente afirmou que ocorreram diversos avanços no País e as manifestações ocorrem porque as pessoas “querem mais”. “Quanto mais o povo reivindica, mais nós temos que fazer.”

O petista disse que problemas como engarrafamentos, por exemplo, são bons problemas, porque indicam que os pobres têm maior poder de compra. “Ou nós pobres somos obrigados a produzir só para os ricos? Ou só a classe média/alta vai andar de carro, e nós de ônibus?”

Quanto aos protestos contra a Copa do Mundo de Futebol, em especial às críticas aos gastos em estádios, Lula diz que não há dinheiro do Orçamento nessas obras – apenas empréstimos. Ele afirma que o dinheiro do Orçamento vai para obras de infraestrutura. “Deixa o povo ir para a rua, não tem problema. É um povo indo para rua protestando, e outro indo para a rua para ver o jogo.”

“A gente não faz uma Copa do Mundo pensando em dinheiro. A Copa do Mundo é um encontro de civilizações feito através do esporte. É a oportunidade que o Brasil tem de mostrar sua cara, do jeito que Brasil é: com pobreza, mas com beleza também (…) Não é uma questão econômica.”

Economia

A maior parte da entrevista se focou em questões econômicas, como a crise na Europa e a relação do Brasil com Portugal. Lula aproveitou para destacar progressos em seu governo e no da presidente Dilma Rousseff, como a ampliação da classe média e do poder de compra.

O ex-presidente afirma que a crise econômica que atinge a Europa foi causada pela “irresponsabilidade do sistema financeiro internacional” e que, infelizmente, “recai nas costas do trabalhador” que sofre com os altos índices de desemprego no velho continente. “Eu espero que a Europa se recupere porque o mundo precisa de uma Europa recuperada”, disse Lula. O petista ainda afirmou que Brasil e Portugal precisam aumentar suas trocas econômicas e devem “olhar com mais carinho” um para o outro.

Lula ainda comentou o atual momento econômico do Brasil: “A política do governo é a mesma. A Dilma tem a mesma convicção e mesma força que eu tinha na política internacional”. O problema, diz Lula foi um fortalecimento da crise econômica, que, segundo o ex-presidente, durou muito mais que o esperado.