Lobby dos periquitos derruba tradição de evento católico no Pará

A queima de fogos que há 150 anos encerra o Círio de Nazaré, maior manifestação católica do Pará, será banida pela primeira vez neste domingo (12), data da procissão. O motivo é a mortalidade de periquitos que nesta época do ano invadem Belém em busca de alimento. A decisão é do Ibama, que desde 2010 […]

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A queima de fogos que há 150 anos encerra o Círio de Nazaré, maior manifestação católica do Pará, será banida pela primeira vez neste domingo (12), data da procissão. O motivo é a mortalidade de periquitos que nesta época do ano invadem Belém em busca de alimento.

A decisão é do Ibama, que desde 2010 busca uma saída para evitar que o tradicional show pirotécnico de 12 minutos, realizado na praça Santuário, provoque ferimentos, desorientação e morte às aves do gênero Brotogeris, comum na Amazônia, e que povoam as árvores do local.

Há quatro anos, o instituto passou a receber denúncias de aves encontradas mortas nos arredores da praça após a queima dos fogos. Enviou ofícios à Cúria Metropolitana e à Prefeitura de Belém, mas não obteve resposta. O Ministério Público Estadual também entrou na história, mas a mortalidade das aves continuou a se repetir.

“Nós imaginávamos que o problema fosse apenas o barulho, que deixava as aves desorientadas, colidindo umas com as outras e contra paredes e janelas. Mas um laudo mostrou que o deslocamento de ar causa traumatismo craniano nos animais, além de prejudicar a saúde humana. Os moradores dos arredores se queixam do barulho e da fumaça, e há hospitais por perto”, afirma Leandro Aranha, superintendente substituto do Ibama de Belém.

Realizado desde 1793, o Círio de Nazaré foi declarado patrimônio cultural imaterial da Unesco em 2013 e reúne pelo menos 2 milhões de pessoas pelas ruas da cidade em outubro.

Nesta época do ano, os periquitos ocupam as mangueiras, samaumeiras e açaizeiros de Belém e usam as árvores da praça do Santuário como dormitório. A queima de fogos costuma ocorrer às 23h, quando os animais estão dormindo.

O Ibama passou a contabilizar os animais mortos –de 5 a 20 após cada edição. “Mas é impossível mensurar a quantidade, eles podem cair mortos em qualquer lugar. É um sofrimento enorme para essa população, um crime. Os que não morrem ficam feridos ou desorientados”, diz Aranha.

Prefeitura e governo do Estado se mobilizaram para tentar reverter o embargo do Ibama, mas a organização do evento não conta com uma reviravolta no caso e pode pagar multa de R$ 10 mil a R$ 1 milhão se descumprir o embargo, mais R$ 5.000 para cada ave encontrada morta ou ferida.

Em nota, o arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira, disse que acataria o veto, mas lamentou a decisão.

“O show pirotécnico era parte integrante efetiva do evento religioso de Nossa Senhora de Nazaré, pelo que esse tipo de proibição acaba por interferir direta e indevidamente na religiosidade e cultura do povo paraense”, diz o comunicado.

O arcebispo também afirma que os termos da licença ambiental foram cumpridos e que, embora haja fotos de seis periquitos mortos em 2013, não há provas de que tenham morrido por causa dos fogos. “O eventual falecimento dos alegados seis periquitos, se efetivamente ocorrido de um universo de milhares, considera-se decorrente de caso fortuito”, diz.

A decisão causou polêmica e dividiu os moradores de Belém. “Recebemos muitas críticas, mas também inúmeras mensagens de apoio às aves”, disse o superintendente substituto do Ibama.

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