Em uma esquina movimentada do centro de Barcelona, na Gran Via com a rua Bruc, há um clube de fachada discreta. Ao ouvir a campainha, a recepcionista vem à porta e pede a identificação. A entrada só é permitida a sócios, que devem apresentar documento de identidade e carteira de associado.

A Associação Senzi – Clube de Fumantes de Maconha – é uma entre as mais de 300 que surgiram na Catalunha nos últimos anos. E a rápida proliferação preocupa autoridades espanholas.

Inaugurado há um ano e meio, a Senzi recebe entre 700 e 800 visitantes por dia e já tem 7 mil sócios. Há vários ambientes, onde se veem pessoas lendo jornais, algumas jogando bilhar ou dardos, outras reunidas com amigos ou vendo jogos de futebol pela TV. “É um clube social de amigos, e colocamos as instalações à disposição de todos os sócios”, diz o presidente Michel González.

À diferença de um bar ou uma discoteca, ali se pode consumir maconha, adquirida no próprio local. Mas os termos “venda” ou “compra” não são usuais ali. O consumo da erva é feito, oficialmente, mediante “doações”. O cuidado com as palavras tenta afastar qualquer ideia que remeta a negócio.

Isso porque consumir e cultivar maconha para o próprio consumo não são considerados crime na Espanha, desde que praticados em um ambiente privado, mas o comércio de drogas é proibido pela legislação espanhola.

Outra preocupação das autoridades é evitar que a capital catalã acaba se tornando um “destino turístico de maconha”. Vários sites, como o Greenline e We Be High, promovem Barcelona como a “nova Amsterdã” por ser um lugar “permissivo com o consumo”. Eles divulgam que os turistas têm facilidades para conseguir a erva – apesar das normas restritivas de acesso aos clubes.

Para se associar, é preciso ser maior de 21 anos, apresentar a identidade e ter o aval de algum sócio, se for o caso de consumo lúdico. Outra possibilidade é apresentar os comprovantes médicos que indiquem que o uso da maconha tem fins terapêuticos, o que pode ser o caso de doentes de câncer ou fibromialgia. O presidente da entidade (González) lembra que já recusou a entrada de pessoas visualmente embriagadas ou sob o efeito de drogas pesadas.

O clube não permite a venda ou a entrada de bebida alcoólica. “A mistura de álcool e maconha não combina. Outros clubes tiveram problemas, por isso adotamos a cultura do consumo responsável”, explica González.