A indiana Laxmi foi atacada com ácido por um “pretendente” que ela rejeitou, e que resolveu se vingar desfigurando o rosto da moça quando tinha apenas 14 anos, mas, uma década depois, na luta contra a prática que se tornou um problema social Índia, ela encontrou o amor em outro ativista da mesma causa: Alok.

Laxmi e Alok lideram a luta contra os ataques com ácido no país e a perseverança da dupla, à frente da “Stop Acid Attacks”, fez com que a Suprema Corte ordenasse, em julho do ano passado, a restrição da venda de ácido em todo o território nacional e o pagamento de US$ 5 mil de indenização às vítimas.

“Quando comecei a trabalhar nessa campanha Alok e eu passávamos o dia todo juntos, sobretudo na época do julgamento, por isso começamos a nos apaixonar, e no dia 7 de agosto de 2013, neste mesmo lugar, ele declarou seu amor por mim”, lembra Laxmi, na sede da ONG.

Alok, de 25 anos, diz que o que ele achou mais atraente em Laxmi foi sua “rebeldia, coragem, força e energia”, e reconheceu que “as coisas mudaram muito desde que está com ela” pois não conseguia seguir adiante e ela trouxe “cor” para sua vida.

“Chegou um momento em que sabia que nos amávamos. Quando Laxmi ia para casa eu não ficava bem, sentia saudades, me sentia estranho quando não estávamos juntos. Com Laxmi entendi pela primeira vez o amor, ela faz com que eu me sinta completo”, explicou Alok.

O pai e o irmão de Laxmi a ajudaram muito durante o longo e doloroso processo de recuperação após a agressão que sofreu, e, segundo ela, são o motivo de que, depois de tudo, a moça não tenha “nada contra os homens”.

A ativista revelou ainda que, apesar de ter sido atacada pelo irmão de uma amiga sua, ele teve ajuda de uma mulher.

A agressão foi planejada por Guddu, de 32 anos, que queria ter um relacionamento amoroso com Laxmi. Como a jovem não quis, ele pediu ajuda à namorada de seu irmão, Rakhi, para “se vingar”, em janeiro de 2005, quando atacou-a perto de um mercado no sul de Nova Délhi.

Guddu e sua cúmplice foram condenados em 2009 a dez e sete anos de prisão, respectivamente.

Esse processo judicial, no entanto, costuma ser uma exceção.

Com frequência, os ataques com ácido não são notificados às autoridades – apenas 27 casos foram registrados oficialmente em 2010, embora analistas afirmem que haja entre dois e três ataques diários desse tipo na Índia – e em algumas ocasiões, são “resolvidos” com a determinação do casamento da vítima com o agressor.

Essa opção foi rejeitada por Laxmi e sua família, e embora alguns homens tenham se declarado para ela por “compaixão”, reconheceu que até começar a campanha contra os ácidos sua vida era apenas “solidão e lágrimas”, e que nunca pensou “que pudesse viver o amor”.

“Para mim, ter um amor era só um sonho, (…) nunca achei que alguém pudesse me amar de verdade com o meu rosto neste estado, só podia ser compaixão, mas não amor”, confessou a jovem.

“Quando ia ao colégio, via casais rindo e felizes. Sempre me perguntava se era possível, pois fiquei com muito medo depois do que aconteceu comigo”, disse Laxmi.

O trauma veio, explicou ela, após “três anos muito críticos” nos quais precisou lutar por sua vida e se submeter “a muitas e operações dolorosas”.

“Esse sistema de casamentos está destruindo a Índia: o dinheiro é um problema, muitas pessoas são assassinadas por causa dos dotes, e temas relacionados com as castas e a religião impedem que aqueles que se amam fiquem juntos. Por isso, rejeitamos o rótulo do casamento, rejeitamos esse sistema”, disse Alok.

Para Laxmi, o casamento também não é necessário, pois ela e seu amado já estão “casados de coração”.