João XXIII, o ‘Papa bom’, preparou a Igreja Católica para os novos tempos

Responsável por convocar o Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja Católica, e conhecido como o “Papa bom”, o italiano Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa João XXIII, será canonizado neste domingo (27) no Vaticano, tendo apenas um milagre comprovado e aprovado pela Santa Sé, algo não muito frequente nas últimas décadas. A decisão foi tomada […]

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Responsável por convocar o Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja Católica, e conhecido como o “Papa bom”, o italiano Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa João XXIII, será canonizado neste domingo (27) no Vaticano, tendo apenas um milagre comprovado e aprovado pela Santa Sé, algo não muito frequente nas últimas décadas. A decisão foi tomada pelo Papa Francisco, devido às virtudes e personalidade conhecidas de João XXIII.

João XXIII pontificou entre 1958 e 1963. Pertencente à Ordem Franciscana Secular, ele teve como lema principal de seu pontificado e também de sua vida a obediência e a paz. O papa italiano era conhecido por ser uma pessoa simples, um grande pastor capaz de dar bons rumos para a Igreja.

O Concílio Vaticano II, apontado como uma das grandes realizações de João XXIII, é considerado o momento preparador da Igreja Católica para o século XXI e foi convocado por ele apenas dois meses após o inicio de seu pontificado.

Bispos de todo o mundo foram chamados mundo para promover a adaptação da Igreja aos novos tempos e a decidir a forma de transmitir a mensagem de Deus com uma linguagem mais compreensível para todos.

As decisões mudaram a forma com que os católicos se relacionavam com a Igreja, como a adaptação da liturgia, o que deu espaço para que depois fossem celebradas nas línguas vernáculas em vez do latim.

Seu processo de canonização foi iniciado em 1965, mas a beatificação – passo anterior que demanda a comprovação de um milagre – só ocorreu em setembro de 2000, pelas mãos de João Paulo II.

Sua nomeação como beato aconteceu depois de ser reconhecida a milagrosa cura da religiosa italiana Caterina Capitano, que esteve a ponto de morrer por uma peritonite aguda e que, segundo ela, após pedir a João XXIII, conseguiu sobreviver.

Em 5 de julho de 2013, o Papa Francisco assinou o decreto que autoriza a santificação de João XXIII. Neste caso, será um processo singular, pois Francisco elevará João XXIII aos altares de santo apesar do não cumprimento do requisito de um segundo milagre, como era até agora exigido pela Igreja.

Coincidentemente, João XXIII será canonizado na mesma cerimônia que também tornará santo João Paulo II – cuja santidade será reconhecida apenas nove anos após sua morte.

Vida e pontificado

Angelo Giuseppe Roncalli nasceu no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, na região de Bergamo, na Itália. Ele foi o quarto de 13 irmãos de uma família de camponeses. Sua família era tradicionalmente religiosa – ele foi batizado no dia de seu nascimento – e um de seus tios foi o responsável por encaminhá-lo para a vida católica.

Ele entrou no seminário aos 11 anos, em 1892, onde começou a praticar a redigir seus escritos espirituais – prática que manteve consigo até sua morte. Em 1896 ele foi admitido na Ordem Franciscana Secular.

Entre 1901 e 1905 Roncalli foi aluno do Pontifício Seminário Romano, após conseguir uma bolsa de estudos da diocese de Bergamo – nesse período, ainda cumpriu um ano de serviço militar. Ele foi ordenado padre em 1904, e no ano seguinte se tornou secretário do então bispo de Bergamo, Giacomo Maria Radini Tedeschi.

Roncalli passou a acompanhar o bispo em visitas pastorais e colaborou com diversas iniciativas, como os sínodos, redação dos boletins diocesanos, peregrinações e obras sociais. Ele também passou a dar aulas de história eclesiástica no seminário.

Nesse período, ele se aprofundou nos estudos de três gandes pastores: São Carlos Borromeu, São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo.

Em 1915, com a Itália em guerra, ele foi convocado como sargento do corpo médico e se tornou capelão dos soldados feridos. Com o fim da guerra, ele abriu uma casa para atender às necessidades espirituais dos estudantes.

Em 1919, se foi nomeado diretor do seminário, mas dois anos depois, em 1921, foi convocado para trabalhar para a Santa Sé em Roma.

A pedido do Papa Benedito XV, ele passou a ocupar o posto de presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé.

Em 1925, já sob o pontificado de Pio XI, Roncalli foi nomeado Visitador Apostólico para a Bulgária, e o elevou para o cargo de titular da Diocese de Areopolis. Neste mesmo ano, foi ordenado bispo.

Ele permaneceu na Bulgária até 1934. No período, visitou as comunidades católicas e promoveu relações com outras comunidades cristãs.

Ao sair da Bulgária, foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia. Na Turquia, a Igreja Católica era muito presente entre os jovens, e Roncalli trabalhou com intensidade no diálogo respeitoso com ortodoxos e muçulmanos.

Ele encontrava-se na Grécia no início da Segunda Guerra Mundial, e salvou muitos judeus com a “permissão de trânsito” fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944, o Papa Pio XII o nomeou Núncio Apostólico em Paris – tornando-se assim o representante da Santa Sé na França.

No fim da guerra, Roncalli ajudou os prisioneiros de guerra e promoveu a volta da vida religiosa na França, visitando santuários e participando de festas populares e manifestações religiosas.

Um de seus destaques era sua simplicidade, mesmo nos assuntos diplomáticos mais complexos. Ele era conhecido por agir como um sacerdote em todas as situações, dedicando sempre um tempo à oração e à meditação.

Em 1953, Roncalli se tornou cardeal pelas mãos do Papa Pio XII. Ele passou a trabalhar em Veneza como Patriarca local. Ali, aprofundou ainda mais seu trabalho como pastor.

Pontificado

Cinco anos depois, com a morte de Pio XII, ele foi eleito Papa no dia 28 de outubro de 1958, adotando o nome de João XXIII. O conclave durou quatro dias e 11 votações.

Durante seu pontificado, que durou menos de cinco anos, ele manteve sua imagem de bom pastor, cordial, simples e atento às necessidades dos cristãos. No período, ele escreveu oito encíclicas.

Ele é reconhecido por ter permitido a modernização da vida no Vaticano, o rejuvenescimento do Colégio Cardinalício e a intensificação das relações diplomáticas do Pontificado com os líderes políticos mundiais.

Ele estabeleceu relação com os líderes soviéticos e contribuiu para reduzir a tensão entre comunistas e cristãos. Além disso, criou uma Comissão para a Unidade Cristã para tecer laços amistosos com as igrejas protestantes e ortodoxas.

Suas medidas mais conhecidas foram a convocação do Sínodo Romano, a instituição de uma comissão para rever o Código de Direito Canônico e a convocação do Concílio Vaticano II, que promoveu diversas mudanças na Igreja e a preparou para o século XXI.

Por sua proximidade com o povo e sua bondade com os mais pobres, ficou conhecido como o “Papa bom”.

Sua morte ocorreu em 3 de junho de 1963, antes do encerramento do Concílio Vaticano II, em decorrência de um câncer de estômago.

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