A indústria brasileira em 2014 deve ter um resultado parecido com o de 2013, quando a produção do setor cresceu 1,2%. O pequeno crescimento do ano passado reflete as oscilações registradas nos últimos anos, ora com crescimento baixo, ora com retração. O avanço de 2013 não encobriu, por exemplo, a queda da produção do ano anterior, de 2,5%. Em 2011, houve expansão, mas de apenas 0,3%.

De acordo com Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o fraco desempenho industrial brasileiro se deve a fatores como a alta carga tributária, mão de obra cara com baixa produtividade e problemas de logística, que dificultam o transporte de cargas. Para ele, a menos que mudanças no sistema tributário e avanços na logística do País sejam realizados, o setor deve continuar se expandindo lentamente.

“Para piorar, muitas indústrias não têm uma gestão eficiente e alguns segmentos têm baixa competitividade, o que faz com que os preços sejam muito altos”, diz Dana. O economista afirma que o custo dos produtos no Brasil leva os consumidores a importarem, o que contribui para a balança comercial ter registrado em janeiro o pior déficit mensal da série histórica iniciada em 1994 – as importações superaram as exportações em US$ 4,057 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Além do pequeno crescimento do setor industrial em 2013, especialistas destacam que o resultado de dezembro – quando houve retração de 3,5% em relação ao mês anterior, maior resultado negativo desde dezembro de 2008 – não foi nada animador e comprometerá o desempenho dos primeiros meses de 2014.

“Quando comparamos com dezembro de 2012, os dados também são desfavoráveis (queda de 2,3%)”, diz Flávio Castelo Branco, gerente da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Para ele, a retração dos últimos dois meses – houve queda de 0,2% em novembro – dificulta a retomada da produção no início de 2014.

“Os dados estão mostrando que o setor industrial tem dificuldade para sustentar uma trajetória de crescimento. O ano de 2013 foi de muita oscilação. O mercado de trabalho segue segurando a produção, os salários crescem, mas isso significa pressão de custo para o setor”, diz Castelo Branco.

O gerente da CNI se diz preocupado com o ciclo de aumento dos juros conduzido pelo Banco Central (BC), já que a inflação se mantém acima do da meta. O BC aumento em janeiro a taxa básica para 10,50% ao ano – o maior valor desde o começo de 2012 e a sétima alta consecutiva.

Embora o dólar tenha se valorizado no ano passado – o que beneficia as exportações brasileiras -, Castelo Branco diz que o Brasil não conseguiu tirar proveito dessa situação, porque outras moedas emergentes também se desvalorizaram.

“Acredito que a indústria vai repetir em 2014 o que vimos em 2013, um crescimento moderado. Medidas de desoneração e taxa de câmbio vão ter efeitos, mas ainda não serão um choque significativo para o setor”, diz o representante da CNI.