Indígena do Xingu conclui mestrado na UnB

O indígena Makaulaka Mehinako, 33 anos, que mora na aldeia Kaupüna do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, é o terceiro do território xinguano a conquistar um título de mestrado. Ele acaba de defender a tese pela Universidade de Brasília (UnB), uma das mais requisitadas do País. Estudou a língua Imiehünaku (Mehinaku), de família […]

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O indígena Makaulaka Mehinako, 33 anos, que mora na aldeia Kaupüna do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, é o terceiro do território xinguano a conquistar um título de mestrado. Ele acaba de defender a tese pela Universidade de Brasília (UnB), uma das mais requisitadas do País. Estudou a língua Imiehünaku (Mehinaku), de família linguística Aruak, falada apenas por cerca de 300 integrantes da etnia Mehinako, da qual ele também faz parte.

Casado, pai de quatro filhos, após concluir o mestrado, retornou para a aldeia onde vive com a família, no município de Gaúcha do Norte.

Somente aos 14 anos Makaulaka aprendeu a ler e escrever, mas o professor dele logo viu que tinha capacidade intelectual e o incentivou a seguir em frente. Levando os estudos adiante, apesar das muitas dificuldades, em 2000 terminou o magistério, sob a coordenação do Instituto Socioambiental (ISA), que atua junto aos povos xinguanos. No ano seguinte, em 2011, começou a funcionar o Projeto 3º Grau Indígena promovido pela Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), em Barra do Bugres (MT), que oferta cursos para a formação de professores indígenas, e ele fez Ciências Sociais. Depois fez ainda uma especialização na área da educação, chegando ao mestrado em linguística.

“Meu objeto de estudo foi minha própria língua. Aprofundei o parco conhecimento linguístico existente sobre a Mehináku”, explica. Cada um dos povos que vive no Xingu fala um idioma próprio. No caso da língua Mehináku, como explica Makaulaka, “é rica em verbetes como qualquer outra”, para que possam se referir a tudo que compõe o mundo em que vivem. Esse é um universo cultural brasileiro pouco conhecido e diverso.

Makaulaka atua hoje como professor concursado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e recebe salário para isso. “Meu desafio é manter a vitalidade da língua Mehináku, que é boa, o que significa que é falada pela maioria da nossa comunidade. O que me preocupa é futuro dessa língua. Será um trabalho suado para fazermos uma política linguística, para que exista como é hoje”.

O povo Mehinako também fala português, mas, conforme Makaulaka, com dificuldade. Ou fala “gradativamente” ou “quase acelerado”. Também chegaram ao mestrado os indígenas Aisanain Paltu e Wary, ambos da etnia Kamayurá, que também habita o Parque Nacional do Xingu. Eles já estão partindo para o doutorado.

Na universidade, Makaulaka, que eventualmente pinta o corpo, tinha medo de sofrer discriminação. Mas nunca presenciou alguém o atacando por ser indígena. “Essa é uma discussão que rola fora”, diz ele, se referindo a “rodas” onde os “diferentes” não frequentam.

Para Makaulaka, se especializar significa “ser protagonista da própria história, conquistar o reconhecimento como intelectuais assim como qualquer cientista, trabalhar com qualidade, reivindicar respeito que qualquer ser humano merece e ter capacidade de correr atrás daquilo que queremos de melhor para nossa vida individualmente e coletivamente”.

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