Além da invasão de 100 chilenos no Maracanã, o governo federal mudou a segurança de estádios da Copa-2014 após um relatório feito por setores de inteligência que mostrou um cenário caótico no estádio. Autoridades públicas descobriram que o sistema era tão falho que permitia até a entrada de arma não autorizada dentro da arena, o que ocorreu em um dos dois jogos.

A crise de segurança da Copa foi detonada antes do jogo entre Espanha e Chile quando torcedores invadiram o estádio e a sala de imprensa, destruindo paredes e subindo para arquibancadas. A maioria foi detida.

Mas a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) já preparara um relatório dos dias iniciais de operação do estádio carioca. Também foram feitas análises pela secretaria de segurança do Rio de Janeiro. Os dados relatados deixaram assustadas às autoridades públicas de segurança.

O blog apurou que um policial entrou com uma arma dentro do estádio para fazer um teste. Passou pelo raio-x, e pelo portão de detector de metal, sem que a arma fosse notada. Ele incluiu isso em um relatório.

A Abin ainda constatou que vários seguranças de empresas contratadas pelo COL (Comitê Organizador Local) não têm ido aos jogos. Resultado: o número tem sido sempre menor do que o estimado pelos organizadores. O blog flagrou uma das empresas oferecendo prêmios em sorteio para quem aparecesse nas partidas.

Isso se estende a outros estádios, e desenhou um quadro preocupante. Por isso, foi tomada a medida de aumentar o número de seguranças privados, e incluir a possibilidade de policiais atuarem de forma mais ostensiva dentro das arenas. Assim, decidiu-se pela revisão das vistorias nos estádios com atuação de forças públicas.

Outro problema grave foi a mudança total de instalações temporárias feitas pela Fifa no Maracanã para a Copa em relação à Copa das Confederações, e à configuração normal do estádio. Foi o que deixou claro Roberto Alzir, delegado da polícia federal e subsecretário de grandes eventos do Rio de Janeiro, que ainda reclamou do atraso para a implantação. “A polícia não está acostumada a lidar com essa configuração.”

A Fifa até tentou botar a culpa no governo do Estado por não excluir torcedores das redondezas do Maracanã, como, de fato, tem ocorrido em outras arenas. Em reunião tensa na tarde de sexta-feira com autoridades públicas, o chefe de segurança da Fifa, Ralf Mutschke, cobrou, de forma dura, que o governo do Estado estabelecesse um perímetro para impedir quem não tivesse ingresso de se aproximar do estádio.

Mas sua proposta foi rejeitada, taxada como impossível de ser praticada por conta das redondezas densamente povoadas do estádio. Na verdade, ele teve que aceitar a entrada de forças públicas dentro do estádio.

Questionado pelo blog se estava satisfeito com os novos planos de segurança, Mutschke fez um sinal de impaciência e não quis falar do assunto. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, também tinha cara de poucos amigos ao ouvir o novo programa traçado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A verdade é que, diante de tantas falhas, a Fifa e o COL tiveram que aceitar as medidas desenhadas pelo governo.