O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardozo (1995-2002) afirmou nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, que vê como errada a postura do também ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, para quem o governo deveria ser mais firme na tentativa de impedir a instalação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional.

Segundo FHC, “a tentativa de se impedir a CPI é errada. O presidente Lula deveria ser o primeiro (a pedi-la). Ele pedia tanta CPI no meu tempo, por que agora ele está contra?”. A declaração aos jornalistas aconteceu na tarde desta quarta-feira, após o lançamento do livro O Improvável Presidente do Brasil, de sua autoria, na Associação Comercial do Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense.

Na última terça-feira, Lula deu uma entrevista para blogueiros na internet na qual criticou veementemente o que chamou de falta de punhos do atual governo Dilma em defender a todo custo as tratativas da oposição de se instalar uma CPI da Petrobras. “Não é de acordo com a Constituição, eu não faria essa declaração”, completou FHC.

Também nesta tarde, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou a instalação do inquérito de forma ampla, com apuração conjunta sobre as denúncias de cartel sobre o Metrô de São Paulo e as atividades do porto de Suape (PE). Numa manobra do governo, no entanto, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) postergou para a semana que vem a decisão final sobre a instalação da CPI da estatal petroleira.

“Essas tratativas para impedir (a instalação da comissão) eu vejo com preocupação, pois se o governo está tão preocupado em impedir a suspeita aumenta e se tem a ideia de que tem algo errado. Tem que se olhar isso com atenção”, disse ainda o ex-presidente tucano, cujo partido também está envolto em outra polêmica, desta vez acerca do cartel do transporte público subterrâneo da capital paulista.

“Teria que ter outra CPI. O chamado do Metrô de São Paulo é de de pessoas, é diferente, mas se quiser se apurar, eu acho que deve apurar”, disse ainda FHC.

Pouco antes de conversar com os jornalistas após a palestra de lançamento do seu livro, que faz um balanço da época em que foi alçado de ministro das Relações Exteriores para a Fazenda, passando a criação do Plano Real para estabilizar a economia, FHC respondeu a perguntas do programa humorístico Pânico.

Dois integrantes do programa da TV Bandeirantes, um vestido como Dilma Rousseff, e outro como Lula, discutiam os rumos do País justamente sobre toda a polêmica que cerca hoje a estatal petroleira. “Essa exploração toda do petróleo”, perguntou, ironicamente, o personagem Dilma em questão. “Você não foi explorada, você é vítima”, respondeu o tucano, com bom-humor.

“Você tem que ir e explicar que não é responsável (por tudo o que está acontecendo)”, disse ainda, em clara ironia ao ex-presidente Lula, que comandou o Brasil por oito anos. A crise envolvendo a compra por valores exorbitantes da refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobras ocorreu justamente no governo do líder petista.

Sobre a dificuldade do Brasil em aumentar o seu produto interno bruto, diante de nova brincadeira, desta vez do personagem Lula do humorístico, FHC disse que “isso nem Deus consegue”. Sobre as próximas eleições, por fim, o tucano disse esperar que “você, Dilma, caia bem devagar nas pesquisas”. Sobre ser vice do senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à presidência, finalizou: “se for para ser vice, melhor ser logo candidato”.

Ainda discorrendo sobre o assunto Petrobras, FHC, desta vez se dirigindo aos empresários que presenciavam sua palestra, afirmou ainda: “Eu ajudei a quebrar o monopólio da Petrobras”. “O mercado não funciona sem o Estado, mas uma outra coisa é a interferência nos negócios, pois ele escolhe quem são os amigos e inimigos, e interfere. Nossa ideia era de arejar, abrir a competição. Nossa ideia era transformar ela numa verdadeira empresa. E não repartição pública. Hoje virou uma bagunça.”

Novamente no tocante da responsabilidade do governo atual sobre a forma como administra as crises, FHC respondeu que “toda a visão que eu tinha e tenho de administração é de que o Estado é indispensável, mas tem que ser claro e ter controle. Criamos as agências reguladoras que é algo ainda não assimilado”.