Falta de hotel leva estrangeiros a se hospedarem em inferninhos de Manaus

A parede fúcsia no quarto, o espelho grande ao lado da cama e os detalhes em lilás no teto dão pistas. E a vizinhança repleta de boates com mulheres em trajes mínimos fazendo propostas de diversão entrega a natureza do estabelecimento. Mas o venezuelano Fabio Pizzi, 57 anos,explica que fez as reservas no Hotel Milenium […]

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A parede fúcsia no quarto, o espelho grande ao lado da cama e os detalhes em lilás no teto dão pistas. E a vizinhança repleta de boates com mulheres em trajes mínimos fazendo propostas de diversão entrega a natureza do estabelecimento. Mas o venezuelano Fabio Pizzi, 57 anos,explica que fez as reservas no Hotel Milenium vendo fotos na internet e não percebeu onde estava hospedando a família em Manaus durante a Copa. “Só na hora do check-in me dei conta de que muita ação deve ocorrer nesse lugar”.

A mulher, Zaida Suarez Pizzi, 57 anos, brinca e força uma voz de contrariedade para perguntar como o marido chegou a esta conclusão. Mas ela sabe que não foi difícil. O casal está na rua Lobo D’Almada, no centrão de Manaus, e a poucos passos de estabelecimentos como o Casarão do Bolero, o Dadu Beer 24H e o Bar da Mangueira.

Mas a família leva de boa a situação e ri com a confirmação de que estão dormindo e tomando café da manhã num inferninho de Manaus. O hotel trabalha no sistema rotativo, ou seja, aluga quartos por hora. Mas quando soube que faltava lugar para acomodar os torcedores da Copa, o dono enxergou a oportunidade de ganhar dinheiro.

Ofereceu vagas na internet e lotou o estabelecimento. Os estrangeiros são 17 e vieram da Venezuela, México e Itália. William Holm Cest, 57 anos, primo de Zaida, não vê problema nenhum e diz que recomendaria o lugar, que é limpo e aconchegante. O casal balança a cabeça concordando e o filho de 17 anos confessa que não havia percebido que estava hospedado num inferninho. “Devo ser muito inocente mesmo”, diz Gustavo Pizzi.

Mas foi falta de observação. Se reparasse melhor, veria que o restaurante onde toma café da manhã é uma sala de festa. Os detalhes salmão do gesso no teto não combinam com a parede marrom e verde água. O rapaz diz que o estabelecimento parece mais um hostel porque é pequeno, informal e confortável.

Mas isso não significa que os preços são mais acessíveis. No prédio ao lado, sete amigos venezuelanos estão no Hotel Opção, que tem as mesmas características, e o preço é de US$ 160 a diária (R$ 357), segundo Maurizio Castrogiovanni, 29 anos. “Procuramos e não encontramos quartos na cidade. O jeito foi ficar neste lugar”.

Os amigos não têm queixas sobre o tratamento e, antes que alguém pense errado, acrescentam que os lençóis são trocados sempre, tudo é bastante limpo e tem até TV de led no quarto. A comida é boa e não há barulho pela noite, o que garante, segundo os hóspedes, sossego para o sono. Independentemente do que funcionava ali antes, os hotéis estão aprovados pelos venezuelanos.

Luiz Gonzalez, 40 anos, e German Ferreira, 38 anos, até abrem a porta do quarto para fotos. Eles riem enquanto contam a cara de surpresa que fizeram ao descobrir que se hospedariam num inferninho. A dupla entrega que o grupo com o qual viajaram tem três casados, mas que eles não contaram para as mulheres o que aconteceu. Os amigos explicam que a medida é para evitar desgastes na relação porque seria difícil de acreditar que estão neste tipo de local por pura falta de alternativa.

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