“Falência” de campeão e coco escancaram mazelas no vôlei
A vontade dos atletas de melhorar o volêi nacional foi fomentada com dois episódios observados nos últimos tempos. O primeiro deles foi a quase falência do RJX, campeão da última Superliga masculina que perdeu o X do nome e consequentemente a ajuda de patrocínio das empresas de Eike Batista. O segundo foi uma foto postada […]
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A vontade dos atletas de melhorar o volêi nacional foi fomentada com dois episódios observados nos últimos tempos. O primeiro deles foi a quase falência do RJX, campeão da última Superliga masculina que perdeu o X do nome e consequentemente a ajuda de patrocínio das empresas de Eike Batista. O segundo foi uma foto postada por Lucão no Instagram, na qual o atleta do Sesi denunciou a presença de fezes de cachorro no ginásio de Volta Redonda.
Campeão da temporada 2012/13, o time do Rio de Janeiro, fundado em 2011, foi abandonado pela crise da OGX, do empresário Eike Batista, que tirou o patrocínio do clube. Sem verba, a novata equipe atrasou salários e viu uma debandada de astros – Leandro Vissotto, Lucão, Bruninho, Rodrigão, Theo e Dante foram alguns dos destaques que saíram da equipe.
“O clima logicamente era de preocupação. Tínhamos recebido apenas um mês e, apesar de estarmos buscando parceiros, nada de concreto apareceu”, relembra Bruninho ao Terra. Thiago Sens também recorda que tinha esperança de que algo novo surgisse. “Sempre estivemos confiantes de que alguma empresa abraçaria nosso projeto”, afirma o jogador.
Nada veio e ambos tiveram que ir para longe dos torcedores brasileiros – o levantador Bruninho para o Modena, da Itália, e Sens para o Al Jazeera, dos Emirados Árabes. Apesar da dependência de um único patrocinador nas principais equipes brasileiras do vôlei, Renan Dal Zotto, gerente de marketing da CBV, prefere jogar a responsabilidade para a empresa.
“A gente fica triste com o fim de um grande patrocinador, mas mais triste ficaram os acionistas das empresas X. Infelizmente isso foge do nosso controle. Isso foge dos nossos domínios, infelizmente aconteceu o que aconteceu com a empresa”, opina o dirigente.
A saída da OGX e a decadência do Rio de Janeiro, contudo, não é episódio isolado – por isso, os atletas pedem mudanças nas relações de patrocinadores com as equipes, em busca de recursos que tirem a dependência de uma única empresa “master” que fornece incentivos ao time. Nos últimos anos, o vôlei nacional conviveu com perdas de patrocínios e fim de times com grande investimento – já outros tiveram que buscar em uma nova empresa a verba para sobreviver.
O primeiro semestre de 2013 foi marcado pela crise de duas grandes equipes: o Campinas e o Vôlei Futuro. O time campineiro perdeu o apoio da Medley, que dava nome a equipe e quase fechou – na época, o caso foi a gota d’água para uma série de protestos de jogadores e técnicos pela insegurança do vôlei no Brasil.
O Campinas foi salvo pela Brasil Kirin, empresa de bebidas que abraçou o projeto, mas o Vôlei Futuro, de Araçatuba, não teve a mesma sorte e fechou as portas, dispensando o grupo de atletas e comissão técnica – o fim da equipe feminina foi em 2012, enquanto os homens foram mantidos até 2013.
Já em 2012 a fuga do patrocínio da Cimed complicou a equipe de Florianópolis na Superliga, competição na qual era tetracampeã. Em 2009, o Osasco, inicialmente conhecido como “Finasa”, ficou ameaçado por causa da saída do apoio do Bradesco, que queria focar os investimentos somente em categorias de base – atualmente, a equipe paulista tem o apoio da Nestlé e da prefeitura local. Curiosamente, o meio de rede Lucão viveu a crise em três dos times que tiveram a sequência do trabalho interrompida pela falta de patrocínios.
“No voleibol é muito difícil você conseguir criar uma identidade porque ele depende de patrocínios, não depende dos clubes. Então o patrocinador geralmente fecha um contrato de dois, três anos, e após estes três anos ele cai fora”, disse ao Terra o atual jogador do Sesi-SP, em entrevista no fim de 2013.
Agora com o poder de gerenciar o marketing da CBV e participar do comitê da Superliga, o ex-jogador Dal Zotto viveu na pele o fim do clube de Florianópolis, no qual era um dos principais responsáveis por montar equipes. A intenção dele é tentar levar a triste experiência para conseguir mudanças no modelo de negócio do vôlei – até lá, contudo, as equipes continuarão dependentes de patrocínios masters, o que, para Renan Dal Zotto, é uma tendência não só no vôlei, mas nos esportes olímpicos em geral.
Fim de equipes dificulta permanência de astros no Brasil
A complicada realidade de dependência de patrocínios das equipes de vôlei no Brasil complica, também, a permanência de grandes jogadores no País. Dono de cinco dos 15 melhores atletas nacionais pelo ranking da Superliga, o RJX perdeu todos, a maioria para times de fora: Bruninho foi para a Itália, Dante para o Japão, Theo para a Itália – agora está na Argentina -, e Thiago Alves se transferiu para a Turquia. O único dos “tops” do ranking que ficou no Brasil foi Lucão, atualmente no Sesi.
O fim de um clube causa transtornos aos grandes jogadores, já que o sistema de ranqueamento da CBV, no qual os atletas recebem números de 1 a 7, limita as transferências – a intenção, boa, é evitar que uma equipe com grande aporte financeiro monte um time com destaques do vôlei e cause desequilíbrio na Superliga. Na Itália, Bruninho vive na pele o problema e lamenta ter que atuar longe do País.
“Sinceramente não sei (quando volta a atuar no Brasil). Minha vontade é sempre jogar no Brasil. Mas no momento tenho que esperar. Porém vamos continuar lutando para que possamos cada vez mais fazer com que a Superliga cresça”, disse ao Terra o atleta.
Coco em ginásio revela crise estrutural
No início de janeiro, o meio de rede Lucão, do Sesi, polemizou ao colocar uma foto de um coco de cachorro no vestiário do ginásio visitante de Volta Redonda. Com a legenda irônica “isso é vôlei”, o atleta ganhou manchetes e escancarou a situação caótica de muitos ginásios brasileiros.
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