‘Eu sempre tive esse dom’, diz 1ª repórter com S. de Down
Logo após o nascimento de Fernanda Honorato, os pais da menina carioca receberam a notícia de que ela era “especial”. Fernanda nasceu com um distúrbio genético, um cromossomo a mais que poderia transformar completamente a vida dela. A Síndrome de Down afeta cerca de 0,15% dos brasileiros, segundo o IBGE, e inclui sintomas como dificuldade […]
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Logo após o nascimento de Fernanda Honorato, os pais da menina carioca receberam a notícia de que ela era “especial”. Fernanda nasceu com um distúrbio genético, um cromossomo a mais que poderia transformar completamente a vida dela. A Síndrome de Down afeta cerca de 0,15% dos brasileiros, segundo o IBGE, e inclui sintomas como dificuldade na fala, comprometimento intelectual, falta de atenção e comportamento impulsivo. A trajetória de Fernanda, hoje aos 34 anos, realmente foi diferente do comum: ela contrariou estatísticas, venceu barreiras físicas e sociais, e se tornou a primeira repórter de TV com Síndrome de Down do Brasil. “Eu sempre tive esse dom”, foi assim que começou a entrevista.
Espirituosa, Fernanda tem sempre a resposta na ponta da língua, gosta de contar sua história e não esquece de todo o carinho que já recebeu de entrevistados. A baixa autoestima não faz parte nem do vocabulário da repórter e o preconceito sempre se intimidou perto dela. “Estudei no colégio Castelo Branco e lá sempre interagi com todo mundo, pessoas com e sem deficiência, comovia muita gente lá, todo mundo me respeitava e me tratava com carinho”, contou Fernanda. Ela admitiu que a discriminação com pessoas com Down existe, mas só passou por um constrangimento com um delegado em toda a sua vida.
Pelo contrário, a vida dela foi surpreendida com mais oportunidades do que exclusões. Em 2006, recebeu uma proposta de emprego da TV Brasil. Os pais acharam que deveria ser algum cargo para “arrumar fitas”, mas não, a emissora queria Fernanda como repórter do Programa Especial, dirigido por Ângela Patrícia Reiniger. “Devo muito a ela, porque acreditou em mim”, comentou Fernanda sobre a diretora. Desde então, a repórter coleciona uma série de entrevistados, dos quais ela destacou Maria Bethânia; Zezé Di Camargo e Luciano, sobre o irmão cadeirante Welington Camargo; o cantor Daniel e sua relação com o irmão José Gilmar, com paralisia cerebral; e Leonardo, a “paixão” da vida de Fernanda.
Fazer reportagens sobre temas ligados à inclusão se tornou uma grande causa para a repórter e os limites ficam cada vez menores. Ela já fez até a cobertura de uma conferência na ONU sobre o dia 21 de março, escolhido em homenagem às pessoas dom Síndrome de Down. “As pessoas me acham uma inspiração e fico muito feliz por isso. Sempre me incentivam, me valorizam e dão oportunidades”, contou. Não apenas na reportagem, mas Fernanda encontrou espaço em diversas áreas. “Minha agenda é igual à de um prefeito”, comentou.
As horas em que não está trabalhando são divididas entre ensaios da Portela, da escola de samba inclusiva Embaixadores da Alegria, o teatro, o cinema – ela acabou de gravar os filmes Cromossomo 21 e Entre Amores – e o esporte – Fernanda viaja no segundo semestre para o México para competir na modalidade natação. “Todos me ajudam a realizar sonhos”, disse ela. Até um convite para escrever sua autobiografia, da editora portuguesa Alphabetum, ela recebeu. “É o Antes e Depois de Fernanda Honorato”, disse. Atuar em novela é o próximo tópico no caderninho de sonhos de Fernanda.
Na vida pessoal, ela contou ser completamente realizada. Tem uma família que a apoia diariamente, uma sobrinha que é sua “razão de viver” e deve ganhar um sobrinho nos próximos meses. Ela disse estar cansada da falta de romantismo dos homens e que prefere ficar sozinha: “sou solteira, graças a Deus, não dou sorte com homens”. Mas nem de longe isso é motivo para lamentação, Fernanda é feliz. “Basta a gente acreditar nos nossos sonhos, cada um pode ser feliz do jeito que é, do jeito que todos somos. Com oportunidades, a gente chega aonde quiser”, concluiu.
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