Economistas sugerem mudança de modelo de crescimento do PIB

Os especialistas são unânimes: a receita para o país acelerar crescimento econômico passa, necessariamente, pelo reforço no investimento e na produtividade dos trabalhadores. Para Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities International, em Nova York, a temporada de expansão do PIB baseada no mercado interno e n…

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Os especialistas são unânimes: a receita para o país acelerar crescimento econômico passa, necessariamente, pelo reforço no investimento e na produtividade dos trabalhadores. Para Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities International, em Nova York, a temporada de expansão do PIB baseada no mercado interno e na ascensão das classes de consumo se esgotou. “O Brasil se beneficiou de um bônus demográfico, que resultou num incremento muito forte da mão de obra disponível e, por tabela, de um mercado de novos consumidores. Tudo isso ajudou a elevar o crescimento potencial do país, mas esse tempo acabou”, arremata.

Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da Franklin Templeton Investments, chama a atenção para a queda na FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), medida que leva em conta os desembolsos feitos na compra de empresas e investimentos em produção. “A formação bruta está muito longe de 23% ou 25% do PIB, o que ajudaria a elevar de forma consistente a taxa de crescimento. Infelizmente, mesmo com todas as políticas adotadas pelo governo, o investimento caiu para 17% do PIB”, reforça o economista.

Para ele, se nada for feito para elevar rapidamente essa taxa, o Brasil poderá viver outra década perdida no quesito crescimento. “No curto prazo, nós certamente estamos condenados a ver outros PIBs baixos, como em 2014. Na verdade, vai levar tempo para o Brasil voltar a construir PIB maior”, arrematou. O economista não acredita em mudanças a curto prazo que possam reverter esse quadro. “Pode demorar até 10 anos para a gente voltar a ter taxas maiores”. Antes disso, o país viverá de desempenhos irregulares. “Você pode ter crescimento de stop and go, que é como um voo de galinha. Nada duradouro.” Thadeu Filho arrisca um motivo pelo qual a economia chegou a essa situação. “O investimento de capital foi destruído. E leva tempo para reerguê-lo”, diz.

Newton Rosa avalia que o atual momento, de desconfiança sobre a política econômica, remete a um período em que o país ainda não havia conquistado a credibilidade internacional. “Em 2002, ninguém discutia tanto inflação ou crescimento econômico como agora. Havia uma necessidade de mudança, mas não era na economia”, ele lembra. Para Rosa, fazia muito tempo que a economia não entrava “tanto no radar” da disputa eleitoral. “Durante duas décadas, a inflação foi um assunto vencido no país. Agora não. A gente tem uma inflação pressionada, e tem essa perspectiva para o futuro de preocupação, com correção de preços administrados, tarifaço na conta de luz”, observa.

Não por outro motivo, Tony Volpon advoga por mudanças na condução da política econômica. “Se o Brasil não mudar as políticas atuais, certamente estará fadado a crescer menos que 2% por um longo tempo”, afirma. É um cenário ainda mais confortável que o atual, conforme observa o economista. “A gente está crescendo próximo a zero, mas o déficit em transações correntes não está diminuindo, nem a inflação. Isso quer dizer o seguinte: não só o país cresce menos, mas também tem caído a oferta de produtos e serviços, em função da queda de investimentos”, diz.

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