Ebola: a mais solitária das mortes, diz psicóloga da MSF
Débora fala rápido e é daquele tipo de pessoa que consegue transmitir aos montes suas emoções por telefone. Pensa para responder, mas pondera rápido. Eu pergunto: você voltaria para a África no atual surto de ebola? Ela responde, sem hesitar: sem sombra de dúvidas. Trabalhando para a organização dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) desde 2008, […]
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Débora fala rápido e é daquele tipo de pessoa que consegue transmitir aos montes suas emoções por telefone. Pensa para responder, mas pondera rápido. Eu pergunto: você voltaria para a África no atual surto de ebola? Ela responde, sem hesitar: sem sombra de dúvidas.
Trabalhando para a organização dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) desde 2008, Débora Noal, 33 anos, é psicóloga e viajou para mais de quarenta países. Costuma dizer que seu escritório é o mundo. Cobrindo conflitos armados, guerras, desnutrição, terremotos e epidemias, já viu de tudo, mas, não tem dúvidas, a missão ebola foi a mais diferente que teve na vida. E define a morte causada pelo vírus como a pior e mais indigna de todas.
Débora viajou, a convite da MSF, para a República Democrática do Congo em 2012, durante uma epidemia de ebola. Neste surto, foram registrados mais de 60 casos e pelo menos metade das pessoas morreu. Pergunto a ela por quanto tempo ficou no país e ela me conta que por quatro semanas ou “um ano, se for contar o que eu senti”.
Com o olhar sensível e experiente, Débora relembrou sua missão numa comunidade daquele país pobre, em que algumas pessoas – acreditem! – nunca tinham visto um “branco” na vida. Sem TV, jornal, internet, celular, dezenas de pessoas tiveram de acreditar em Débora – e na equipe que trabalhava com ela naquela situação (outros 29 agentes nativos ou não)-, e seguir enfrentando a doença “que ninguém podia ver”, mas que existia. E matava rápido.
Cheia de lembranças, a psicóloga conta como era seu trabalho com tantas roupas (cada agente usa 18 itens de proteção) em uma cidade onde fazia mais de 40 graus, sem poder tocar nas pessoas – e nem nela mesma, praticamente. Durante a conversa, ela relembra o caso de uma paciente grávida e com malária, que ainda a faz emocionar, dois anos depois. Por fim, explica como é o processo de “descompressão”, como define, quando retorna de uma missão dessas – dolorida, porém grandiosa.
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