Dólar fecha perto de R$ 2,40 em meio a especulação sobre postura do BC
O persistente “silêncio” do Banco Central, que por ora não anunciou reforço nas intervenções cambiais a despeito da disparada de quase 7% do dólar ante o real neste mês, tem dado margem para todo tipo de especulação no mercado. Esse intenso ruído ajudou a impulsionar a moeda americana nesta segunda-feira para próximo do nível crítico […]
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O persistente “silêncio” do Banco Central, que por ora não anunciou reforço nas intervenções cambiais a despeito da disparada de quase 7% do dólar ante o real neste mês, tem dado margem para todo tipo de especulação no mercado. Esse intenso ruído ajudou a impulsionar a moeda americana nesta segunda-feira para próximo do nível crítico de R$ 2,40.
Em meio às mais diversas teorias que circulam no mercado sobre o BC estar apenas “testemunhando” o dólar cravar diariamente novas máximas, operadores têm pelo menos uma leitura em comum: o silêncio da autoridade monetária tem distorcido os preços, causado apreensão e gerado volatilidade além do desejado. Tudo isso a apenas duas semanas do primeiro turno das eleições presidenciais.
“Está todo mundo procurando entender o porquê dessa postura do BC. Esse silêncio é muito ruim, passa uma mensagem negativa. O pessoal fica sem referência, não sabe o que pode acontecer. E, na dúvida, todo mundo compra [dólar]”, afirma o profissional da área de câmbio de uma asset.
Já se comenta que o “silêncio” do BC poderia estar relacionado ao debate em torno de sua autonomia, algo que tem sido utilizado pelos dois principais candidatos da oposição como arma contra o que seria um intervencionismo excessivo da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a instituição. Dessa forma, o BC passaria uma mensagem de que já possui essa autonomia, tanto que estaria deixando a taxa de câmbio se depreciar faltando apenas duas semanas para o primeiro turno das eleições presidenciais, apesar dos custos políticos embutidos.
Outra leitura, contudo, vai na contramão, e sugere que o BC está agindo assim justamente pela perda de autonomia. O operador de câmbio de um banco estrangeiro lembra matéria publicada na edição de domingo do jornal “O Estado de S.Paulo”, segundo a qual a presidente Dilma Rousseff (PT) reconheceria a necessidade de deixar o real se desvalorizar mais para injetar competitividade na indústria, segundo um conselheiro presidencial. “A postura da Dilma sobre o câmbio parece estar se alinhando a dos outros candidatos. Deve ser por isso que o BC está deixando [o dólar] andar mais”, afirma.
Um especialista no tema tem outra avaliação e fala em uma espécie de “greve branca” por parte do BC, a qual estaria gerando uma “queda de braço” entre a presidente Dilma e o presidente da instituição, Alexandre Tombini, e prejudicando a dinâmica do mercado. “Simplesmente não faz sentido eles deixarem US$ 1,8 bilhão de fora com o dólar em alta de quase 7% em menos de um mês”, afirma o profissional, referindo-se ao volume de swaps cambiais tradicionais que seria liquidado caso o BC manteve a atual oferta para rolagem, de 6 mil papéis por dia.
Numa visão totalmente contrária, o profissional da área de câmbio de uma corretora diz que seria “quase irresponsável” o BC vender dólares num momento em que o movimento de alta da moeda americana é global, ainda que afete mais fortemente divisas do complexo de commodities, caso do real. “Em qualquer país com câmbio flutuante, a volatilidade aumenta num processo eleitoral, principalmente se a eleição tem ‘fortes emoções’ como a nossa. O que falta é um governo que interfira menos. Até por isso a autonomia formal, e não só operacional, faz sentido aqui”, diz.
Outro operador, contudo, lembra que aumentar a rolagem agora sairia mais “barato” para o BC, já que o BC rolaria mais contratos com o dólar na máxima. Isso potencializaria as chances de queda da moeda americana, o que contabilmente é favorável ao BC. Os contratos de swap cambial tradicional trazem ganhos financeiros ao BC caso o dólar acumule baixa no período de vigência dos papéis.
Profissionais afirmam que o ajuste mais notório do real neste mês é em boa parte ditado pelo fato de em agosto a moeda brasileira ter registrado uma performance mais forte que seus pares.
“É verdade que esse movimento do dólar é global, mas essa alta sem freio e o silêncio do BC começam a preocupar o exportador principalmente”, diz o diretor de câmbio da B&T Corretora, Marcos Trabbold. “É mais um elemento de incerteza num ano já cheio de indefinição. Seria importante o BC dar algum sinal sobre o que ele pretende fazer com as rolagens”, diz.
Para o gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, Henrique de la Rocque, ainda que numa velocidade um pouco maior, o real tem acompanhando a desvalorização de seus pares, o que em tese reduz a urgência de uma intervenção extraordinária por parte do BC. “Mas acho, sim, que o nível de R$ 2,40 é importante, e uma alta de 2%, 3% além desse patamar pode fazer o BC agir.”
Em setembro, o real acumula baixa de 6,48% ante o dólar. Com alguma “folga”, a divisa brasileira é a de pior desempenho frente ao dólar neste mês, levando em conta 35 moedas. O dólar australiano aparece com a segunda pior performance, em queda de 4,97%.
O BC rolou hoje todos os 6 mil contratos de swap cambial ofertados, postergando o vencimento de cerca de US$ 300 milhões em papéis que inicialmente expirariam em outubro.
O lote de swaps com vencimento em outubro é de US$ 6,677 bilhões ou 133.540 contratos. Mantido o ritmo de rolagens, o BC deve postergar o vencimento de 96 mil contratos (US$ 4,80 bilhões), deixando vencer, portanto, US$ 1,88 bilhão em swaps.
Dessa forma, a porcentagem dos swaps não rolados sobre o lote total subiria ao fim de setembro para 28%. Em agosto, essa proporção ficou em 11%.
Hoje, a pressão no câmbio foi reforçada ainda por informações de que pesquisas internas do PT teriam indicado uma vantagem de 5 pontos percentuais da presidente Dilma sobre Marina Silva (PSB) no segundo turno. Essa vantagem seria evidenciada em resultados de pesquisas a serem divulgadas ao longo desta semana. Até o momento, sondagens recentes apontam empate técnico entre as duas principais candidatas no segundo turno.
A “TV Record” divulga hoje resultados da pesquisa Vox Populi sobre as intenções de voto à Presidência da República. A terça-feira reserva divulgações de pesquisa Ibope e MDA. Na quarta, nova sondagem Vox Populi deve ser divulgada, desta vez na revista “Carta Capital”. Até sexta Datafolha e Sensus devem reportar resultados de novas pesquisas.
No fechamento, o dólar avançou 0,91%, a R$ 2,3936. É o maior nível para um encerramento desde 18 de fevereiro, quando a cotação terminou em R$ 2,3970. Na máxima intradia, a divisa foi a R$ 2,3986, máxima desde 19 de fevereiro (R$ 2,4140).
No mercado futuro, onde as operações vão até as 18h, o dólar para outubro subia 1,07%, a R$ 2,4000, depois de ter batido R$ 2,4045 na máxima.
No exterior, as moedas de países exportadores de commodities e/ou com elevada dependência de financiamentos externo são as que mais caem. O dólar da Austrália, país que tem na China o principal destino de suas exportações, perdia 0,53% ante a divisa americana. O dólar canadense caía 0,80%. Já o rand sul-africano e a lira turca, que integram o grupo dos “Cinco Frágeis”, recuavam 0,78% e 0,51%, respectivamente.
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