Dilma vê condições para retomada econômica com investimentos em infraestrutura e ataca corrupção

A poucos meses de concluir seu mandato marcado por fraco crescimento do país e iniciando uma concorrida disputa para se reeleger, a presidente Dilma Rousseff mostrou otimismo sobre um novo ciclo de desenvolvimento e apostou na retomada da atividade econômica em entrevista à GloboNews exibida na noite da sexta-feira (11). Para Dilma, esse novo ciclo […]

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A poucos meses de concluir seu mandato marcado por fraco crescimento do país e iniciando uma concorrida disputa para se reeleger, a presidente Dilma Rousseff mostrou otimismo sobre um novo ciclo de desenvolvimento e apostou na retomada da atividade econômica em entrevista à GloboNews exibida na noite da sexta-feira (11).

Para Dilma, esse novo ciclo estará centrado na competitividade e também em investimentos em infraestrutura, além de incluir um fortalecimento da educação e da inovação.

“É um ciclo que vai apostar na competitividade produtiva”, afirmou. “Nós vamos ter de investir pesadamente em infraestrutura com parcerias público-privadas, só através do investimento privado –como é o caso das concessões– ou com investimentos públicos. É uma combinação de tudo.”

As concessões foram uma aposta já de seu mandato atual, mas o governo enfrentou mais dificuldades do que imaginava e não conseguiu dar andamento a tudo que planejara.

Ainda assim, mesmo após o fracasso inicial do leilão da BR 262, para o qual não houve interessados, o governo conseguiu desde a metade do ano passado leiloar 6 lotes de rodovias . Também já foram concedidos à iniciativa privada 6 aeroportos, incluídos nesta lista os terminais de Guarulhos, em São Paulo, e do Galeão, no Rio de Janeiro.

Em outras áreas, porém, as concessões patinam, caso das ferrovias e dos portos, em que o governo ainda não conseguiu fazer nenhum leilão.

O governo também enfrenta dificuldades em relação à inflação, constantemente beirando o limite da meta do governo –de 4,5 por cento mais 2 pontos percentuais no ano–, o que acabou levando o Banco Central a elevar os juros, depois de um esforço do governo para que a taxa básica Selic pudesse cair a mínimas históricas.

Isso tudo, para Dilma, não pode ser analisado sem que seja considerado o contexto da crise internacional.

“O que eu acho terrível no Brasil é que alguém possa supor que possamos ter um comportamento de crescimento econômico compatível com outro momento internacional”, disse, referindo-se à crise. “Nós não somos uma ilha, esses efeitos nos atingem.”

A persistência da crise, argumentou a presidente, afetou o ritmo de crescimento da maioria das nações. Para os críticos da política econômica do governo, porém, parte do problema foi decorrente do fato de o governo ter insistido com remédios que foram perdendo sua eficácia, como os estímulos ao consumo.

Dilma acredita que o país está “num processo de construção da retomada” e tem “todas as condições para ter uma taxa de crescimento maior do que essa que nós temos nos últimos anos” e aposta na exploração de petróleo, principalmente o da camada do pré-sal, como um importante fator de impulso no médio e longo prazos.

A presidente ressaltou a boa situação do mercado de trabalho no Brasil, comparando as taxas de desemprego registradas em outros países com a criação de vagas aqui. Mas reconheceu que o ritmo de crescimento do emprego deve se estabilizar, “porque chegamos a um nível próximo do pleno emprego”, disse.

Em diversos momentos da entrevista, Dilma não poupou críticas ao que considera um sentimento de pessimismo, creditando a ele, inclusive, parte do fraco desempenho da economia.

“Ninguém, em nenhum país do mundo, consegue manter um crescimento efetivo com um estímulo sistemático –e eu não sei a que interesses isso beneficia– de que vai haver uma crise”, afirmou.

A presidente também rebateu as críticas às ações do governo sobre o setor elétrico. Segundo ela, não há chance de haver um apagão.

“Racionamento de energia não vai ter. Nós fizemos um planejamento, garantimos a expansão”, disse a presidente, justificando ainda que o uso de termelétricas, algo que encarece o preço final da energia, é necessário quando há poucas chuvas e está previsto no sistema energético brasileiro.

Pouco explorado durante todo seu mandato, a presidente também voltou suas atenções para um problema que assola o país ao longo de sua história: a burocracia. Abordado em seu discurso de lançamento da candidatura à reeleição, Dilma voltou ao tema na entrevista, reforçando o destaque que deverá ter durante sua campanha eleitoral.

Para ela, não há como dar um “salto”para um novo ciclo de desenvolvimento sem eliminar os “ranços” da burocracia.

CORRUPÇÃO

Reconhecida pela faxina promovida no primeiro ano de seu governo após denúncias de irregularidades em alguns ministérios, o que ajudou a impulsionar sua popularidade naquele momento, Dilma voltou a defender o fortalecimento de instituições, como a Polícia Federal e órgãos de controle, para o combate à corrupção.

Mas no ano passado, importantes ex-dirigentes de seu partido, o PT, foram condenados à prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após um longo julgamento do chamado escândalo do mensalão, que teve ampla cobertura pela mídia, e Dilma se viu forçada a defender o partido na entrevista.

“É certo que nenhum partido está acima de qualquer suspeita. O PT contribuiu muito, com muito avanço para a democracia no Brasil, …para a redução da desigualdade e para a redução da pobreza”, disse. “O que não é possível é só tratar o PT como sendo o PT que criou a corrupção no Brasil. Vão me desculpar!”

O mensalão, como ficou conhecido o que o STF definiu como um esquema de compra de apoio parlamentar durante o primeiro mandato de Lula, gerou a perda de apoio entre muitos petistas e simpatizantes, mas não impediu a reeleição de Lula em 2006 e a eleição de Dilma quatro anos depois.

Depois disso, porém, houve o julgamento e as prisões e não é fácil medir qual pode ser o impacto disso na atual campanha.

Mas o que concretamente abalou o favoritismo de Dilma à reeleição foram as enormes manifestações populares que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras em junho do ano passado. Embora não direcionadas diretamente contra a presidente e sim por melhorias nos serviços públicos, entre outras reivindicações, elas atingiram em cheio a petista.

Dilma ainda lidera a disputa, segundo as pesquisas eleitorais, mas tudo indica que a eleição só deve ser decidida num segundo turno, provavelmente contra o candidato do PSDB, senador Aécio Neves.

Em resposta à tamanha mobilização popular, Dilma propôs a realização de uma reforma política, construída a partir de uma consulta popular. A presidente voltou a defender a necessidade da participação popular na entrevista da sexta-feira, outro ponto que, pelas indicações que vem dando, deve abordar com frequência durante sua campanha.

Sobre a relação com seu antecessor, muitas vezes procurado por políticos e empresários que encontram dificuldades no trânsito com a presidente, Dilma afirmou que ter Lula a seu lado “é uma vantagem”.

“Para mim, os conselhos do presidente Lula são muito bem-vindos”, disse, afastando qualquer possibilidade de tensão com o ex-presidente. “Ninguém vai conseguir me afastar ou diminuir a força da relação com o presidente Lula.”

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