São 26 países, seis aviões com radares avançados, um navio de monitoramento submarino, sete embarcações comerciais e especialistas em análise de inteligência envolvidos na operação de busca do avião da Malásia desaparecido em 8 de março.

Também estariam sendo utilizados cerca de 20 satélites com capacidade de resolução suficiente para obter imagens em vastas zonas do oceano Índico e dez deles captam imagens diariamente.

Entretanto, cerca de 20 dias depois do desaparecimento do avião da Malásia, ninguém pôde apresentar evidências convincentes de onde está a aeronave e o que aconteceu com ela.

Muitos se perguntam: por que os países que obtiveram imagens demoraram tanto para torná-las públicas?

E se é possível detectar foguetes menores do que um avião e aeronaves estrangeiras que violam o espaço aéreo de um país, por que nenhum dos satélites conseguiu detectar um jato de 63 metros de comprimento e 60m de envergadura?

A resposta, segundo alguns especialistas ouvidos pela BBC, é que os países capazes de obter esses dados podem não estar dispostos a entregá-los, porque isso não apenas mostraria suas verdadeiras capacidades de vigilância militar como também exporia suas limitações.

Assim, nas diversas entrevistas à imprensa dadas pela Malásia e por outros governos envolvidos nas buscas, pouco se informou sobre as fontes das imagens ou por quais satélites foram captadas.

Confidencial?

Há satélites civis e militares sendo usados nas buscas. Acredita-se que os de uso militar – que possuem maior capacidade – não têm assumido papel proeminente na operação.

“Até agora, a busca pelo MH370 está sendo embasada – ao menos publicamente – em imagens de satélites comerciais de provedores como a Digital Globe e a Airbus Space and Defence”, disse à BBC Mundo Robert Munks, subeditor da publicação especializada em assuntos de segurança e inteligência militar IHS Jane’s Intelligence Review.

“A maioria dos países não estão dispostos a fornecer imagens de satélites militares porque isso revelaria suas capacidades e a resolução de suas imagens”.

Os satélites militares podem ser capazes de oferecer imagens de alta resolução que, acredita-se, poderiam mostrar se os restos detectados até agora são do avião ou não.

As imagens que se tornaram públicas vieram de satélites comerciais que não têm essa capacidade e são de baixa resolução, segundo Munks.

“São tipicamente de uns 50 cm e o esforço que se requere para interpretar a análise é muito maior. Isso explica porque até agora as imagens (das buscas) não foram inteiramente conclusivas, mas apenas ofereceram pistas”, afirmou o especialista.

Essa falta de informações mais precisas levou a uma especulação de que vários países, pelo menos os de maior capacidade de vigilância, como ou a China, podem ter tido conhecimento sobre o que ocorreu com o avião desde as primeiras etapas da busca, mas não quiseram revelar o que sabiam.

“Tudo isso me diz que em algum lugar nas esquinas do poder do mundo alguém sabe onde está o avião, mas ninguém quer falar disso, provavelmente por razões de segurança nacional, porque não querem revelar a sofisticação dos equipamentos que possuem”, disse Laurence Gonzalez, autor do livro Flight 232: A Story of Disaster and Survival.

A tese é colocada em perspectiva por Guy Gratton diretor do Departamento de Segurança Aérea, da universidade de Brunel, na Grã-Bretanha. Ele argumenta que satélites militares que monitoram mísseis balísticos não estariam calibrados para “perceber” uma aeronave do tamanho de um Boeing 777 e portanto, não gerariam este tipo de dado.

“O voo MH370 estava a uma altitude de 10 mil metros e voava a uma velocidade equivalente a 75% da velocidade do som. Mísseis balísticos viajam a uma velocidade de até quatro ou cinco vezes a velocidade do som, e a uma altitude entre 48 mil e 80 mil metros – são perfis totalmente diferentes,” ele disse.

Atraso

Dan Schnurr, chefe de tecnologia da Geospatial Insight, empresa de análise de inteligência e interpretação de dados de satélites, disse à BBC que “as imagens são transmitidas pelos satélites em tempo quase real e provavelmente chegam à superfície em três horas”.

“O atraso em detectar informações valiosas nessas imagens se deve ao tempo necessário para analisar os enormes volumes de imagens que chegam do satélite”, afirmou.

A maioria dos 239 passageiros abordo do voo MH 370 eram chineses – fato que aumentou a tensão entre a China e a Malásia.

Nas primeiras etapas das buscas, a China criticou a Malásia por ter apresentado dados “incorretos” sobre supostos restos encontrados no mar da China , o que teria desviado as buscas e desperdiçado esforços.

Mas as críticas não foram dirigidas apenas à China e à Malásia. Vários outros países do sul e do centro da Ásia simplesmente indicaram que seus radares não detectaram o avião após a mudança de rota no dia 8 de março.

Apesar da grande exposição pública de cooperação internacional entre 26 países, alguns deles inimigos entre si, está claro que, em particular, prevalece uma profunda dúvida sobre quanta informação e inteligência devem ser compartilhadas e o que é melhor manter oculto.