Crianças nascidas extremamente prematuras apresentam um risco 19 vezes maior de descolamento de retina, mais tarde na vida, do que seus pares nascidos a termo, de acordo com um estudo sueco publicado na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia.

O estudo é a primeira grande investigação de base populacional de longo prazo que faz a associação entre o nascimento prematuro e o descolamento de retina. “A pesquisa determinou que o nascimento antes de 32 semanas está associado com aumento do risco do descolamento de retina na infância, na adolescência e na vida adulta jovem. As conclusões do estudo indicam a necessidade de acompanhamento oftalmológico especializado para esses grupos: crianças, adolescentes e adultos nascidos muito prematuramente.”, informa o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores usaram os registros populacionais suecos, analisando dados de mais de três milhões de nascimentos, entre 1973-2008, para identificar indivíduos nascidos prematuros (menos de 37 semanas de gestação), que foram, então, separados em dois grupos: aqueles que nasceram entre 1973 e 1986, ano em que foi criado o programa nacional de triagem da retinopatia da prematuridade (ROP), e os nascidos entre 1987 e 2008.

“A retinopatia da prematuridade é uma das doenças mais comuns que acomete os bebês prematuros, que nascem com peso inferior a 1.500 gramas ou antes de 32 semanas de gestação. Nessas crianças, os vasos sanguíneos da retina são muito imaturos e começam a se desenvolver de maneira anormal, causando hemorragias que levam à cegueira. Esses vasos alterados ficam mais frágeis, quanto maior o aporte de oxigênio. O primeiro exame para diagnosticar a doença deve ser feito até quatro semanas após o nascimento”, informa o oftalmopediatra Fabio Pimenta de Moraes, que também integra o corpo clínico do IMO.

Segundo o estudo, dentre os nascidos extremamente prematuros (menos de 28 semanas de gestação), entre 1973 e 1986, os pesquisadores descobriram que o risco de descolamento de retina foi 19 vezes maior. Os nascidos extremamente prematuros, entre 1987 e 2008, tiveram um aumento de nove vezes no risco.

Os nascidos muito prematuramente (28 a 31 semanas de gestação), entre 1973 e 1986, tiveram um aumento do risco quatro vezes maior e os nascidos muito prematuramente, entre 1987 e 2008, tiveram um risco três vezes maior do que os nascidos a termo. Além disso, os pesquisadores descobriram que aos moderadamente prematuros (32 a 36 semanas de gestação) não foi associado um risco maior de descolamento de retina.

“Diversos estudos clínicos indicam que indivíduos nascidos prematuramente podem apresentar mais risco, ao longo da vida, para outras doenças oftalmológicas também, além da retinopatia da prematuridade. Isto inclui um aumento do risco de acuidade visual subnormal, problemas de percepção visual, estrabismo, miopia particularmente elevada e redução da sensibilidade ao contraste no campo visual”, afirma Fabio Pimenta de Moraes.

Saiba um pouco mais sobre a ROP

1. Uma pesquisa sobre o nascimento de crianças no Brasil, liderada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com outras 12 universidades do país, com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e com o Ministério da Saúde, revela que 11,7% dos partos brasileiros são prematuros, nascidos abaixo de 37 semanas de gestação. Em relação aos números de prematuros, o Brasil está em décimo lugar entre os países em que mais nascem bebês antes do prazo;

2. Alguns fatores sociais, como o aumento de gêmeos prematuros devido a técnicas de fertilização assistida, os avanços da medicina e o maior índice de sobrevivência das crianças prematuras contribuem para aumentar a incidência da doença, que leva frequentemente à cegueira, se não for tratada. De acordo com os dados oficiais, só no Estado de São Paulo, a doença atinge 30% dos prematuros, com cerca de mil novos casos por mês;

A única maneira de determinar se a criança prematura está desenvolvendo a ROP é através do exame da retina feito pelo oftalmologista. “Este profissional dilata a pupila da criança com colírios e, em seguida, usando uma fonte luminosa e uma lente especial faz o exame chamado de oftalmoscopia indireta. Como a luz incomoda bastante e o olho do bebê também é muito pequeno, para manter o olho do bebê aberto, muitas vezes utiliza-se um instrumento simples para abrir as pálpebras durante o exame. Quando este instrumento é usado, antes da colocação dele é instilado colírio anestésico para diminuir o desconforto. Desta maneira, o oftalmologista consegue examinar a retina do bebê”, explica oftalmologista Roberta Velletri (CRM-SP 113.044), que também integra o corpo clínico do IMO;

A oftalmoscopia indireta não apresenta riscos para o bebê prematuro. É evidente que a luz incomoda a criança e dessa maneira o exame é feito com todo o cuidado e de maneira a causar o menor incômodo. “Porém devemos lembrar que, tratando-se de uma doença que leva à cegueira permanente, esse incômodo é necessário e vale a pena. Os exames seguintes dependem dos exames iniciais. O oftalmologista em contato com o neonatologista é que determina o próximo exame, que pode ser semanal ou quinzenal, dependendo do estágio da doença”, diz a médica;

Se o prematuro apresenta risco de descolamento de retina ou de início de descolamento é então realizado o tratamento com fotocoagulação em toda a retina imatura. “Essa medida, quando bem indicada e realizada a tempo, evita a cegueira da criança. Casos mais avançados, em que o exame não foi feito a tempo ou resistentes ao tratamento com o laser, podem ser submetidos à cirurgia, que ainda tem um resultado muito pobre. Dessa maneira, a melhor forma de evitar a cegueira nos bebês prematuros é o exame de fundo de olho feito no prazo adequado e um controle rigoroso do aporte de oxigênio desses bebês”, alerta a oftalmologista Roberta Velletri.