Em 13 dias, duas mortes deixaram o Serviço de Atendimento Móvel à Urgência (Samu) na berlinda. Primeiro, uma criança de oito anos teve reação alérgica e morreu depois de ter atendimento recusado pelo Samu. Nesta quarta-feira, uma jovem teve um infarto fulminante e faleceu dentro da Uniderp/Anhanguera, e o Samu demorou cerca de 40 minutos para chegar ao local.

Em detrimento dos casos negativos, o secretário de Saúde de Campo Grande, Dr. Jamal, exonerou o coordenador do Samu, Luiz Antônio Moreira, e solicitou reestruturação do órgão. Eduardo Cury, que coordenou o Samu anteriormente, assumirá o serviço. Enquanto isso, a responsabilidade está a cargo do coordenador suplente, André Barros.

André conversou com a reportagem e declarou que as mortes recentes foram fatalidades. O médico também citou os problemas crônicos que devem ser resolvidos na reestruturação, explicou o funcionamento do Samu e deu dicas à população em como solicitar ocorrência.

Fatalidade

“Foi coincidência, este dois casos foram fatalidades. As vítimas não sobreviveriam. Independente de a ambulância chegar a tempo. Chegaríamos para constatar óbito”, disse. O coordenador embasa sua resposta em constatações médicas. “No caso da criança, após acreditamos que ela já estava em óbito domiciliar. E no caso da jovem, ela tinha histórico de cardiopatia de longa data. Foi um infarto maciço”.

Entretanto, ele ressalta que é necessária reciclagem constante para atender melhor a população. Barros frisou a importância da reestruturação do Samu e citou problemas críticos a serem resolvidos. “Esperamos contar com o Olarte e com o Jamal nesta reformulação”.

Problemas

O coordenador afirmou que um aumento no número de funcionários faria diferença. “Se faz suficiente o número de funcionários pela necessidade. Mas se houvessem mais funcionários, a resolutividade aumentaria, o atendimento seria melhor. Tem dia que recebemos duas mil ligações”, exemplificou.

A frota de ambulâncias também deveria ser revista, na opinião do médico. “Dentro do que o Ministério da Saúde preconiza estamos com a frota suficiente. Porém, isso seria para atendimento primário. A gente faz outros atendimentos, transferência para hospital. Além disso, a demanda em Campo Grande é anormal, é uma das Capitais com mais solicitações. Isso causa uma sobrecarga”.

Outros problemas crônicos citados por Barros são o conceito de vaga zero e a dificuldade de pactuação com os hospitais. Vaga zero é um mecanismo para garantir atendimento hospitalar dos pacientes em caso de urgência. Mas, seu uso abusivo pode prejudicar. “Não adianta desafogar o Samu e sobrecarregar os hospitais”, explica. A pactuação com os hospitais busca facilitar a transferência inter-hospitalar. “Abrir as portas”.

Como funciona o Samu?

Barros explicou a forma de funcionamento do Samu. O auxiliar de regulação médica atenda a ligação feita via 192. Ele recebe e registra os primeiros dados. “Usamos palavras chaves para associar a gravidade. Ele vai perguntar o que está acontecendo e verificar a necessidade, veracidade e grau de complexidade e passar para o médico regulador”, descreve.

O médico regulador faz avaliação mais detalhada, para verificar novamente o grau de complexidade, além de orientar a pessoa que está do outro lado da linha. “O médico regulador segue protocolo do Ministério da Saúde para determinar o grau de urgência e envia ambulância, social, básica, ou avançada, quando disponível. Enquanto isso ele vai orientando o cidadão”, explica.

Dicas

O coordenador do Samu deu dicas à população para facilitar o trabalho do Samu: evitar trote, manter a calma ao passar a ocorrência e dar o máximo possível de informações. “O monte de perguntas que fazemos que já vi ironizarem são importantíssimas para o atendimento”, finalizou.